'Nunca me vi como uma deficiente', diz Bia Monteiro.
Profissional também trabalha como depiladora há 10 anos, no Acre.
Bia Monteiro trabalha como depiladora e design de sobrancelha há mais de 10 anos (Foto: Rayssa Natani/ G1)
Em pouco mais 12 anos de profissão, a
acreana Bia Monteiro, de 38 anos, fez nome em Rio Branco como
depiladora e designer de sobrancelhas. A deficiência na mão direita,
ocasionada por uma má formação fetal, não a impediu de realizar nenhum
de seus sonhos, nem de conquistar aos poucos a confiança de mais de 200
clientes fixas que hoje atende em seu salão.E ela garante que o número só cresce mesmo sem o auxílio de divulgação. "A propaganda está na cara das clientes. Alguém chega e pergunta 'sua sobrancelha está linda, quem fez?' É assim que funciona, no 'boca a boca'. O importante é fazer o trabalho com amor e dedicação", afirma.
Eu nunca me vi como uma deficiente"
Bia Monteiro
Foi também por acaso que ela se tornou designer de sobrancelhas. Ela conta que foi incentivada por uma amiga que trabalhava no ramo. "No começo eu relutei. Achava que a sobrancelha era uma coisa muito pessoal. Tinha medo de errar. Mas fui observando, vendo vídeos, me atualizando e hoje muitas mulheres vêm de outros estados fazer comigo", conta.
Profissional ganhou a confiança de mais de 200 clientes (Foto: Rayssa Natani/ G1)
PreconceitoMas encontrar o caminho profissional não foi fácil. O preconceito foi o principal obstáculo enfrentado por Bia. "Meu primeiro emprego foi em loja de roupa de uma amiga. Se ela não fosse minha conhecida, eu não conseguiria por causa da deficiência", comenta.
O importante é não se ver como coitadinho e seguir em frente"
Bia Monteiro
Para adquirir a habilitação de motorista em 2004, Bia diz ter passado por humilhações. Mesmo tendo feito a autoescola durante o período necessário, a então diretoria do Detran/AC se negou a dar entrada no processo.
"Me disseram que eu nem deveria ter começado, porque eu era incapaz de dirigir um carro normal. Eu fui atrás dos meus direitos na Defensoria Pública, exigi uma banca médica para me avaliar e provei que eu podia, como qualquer outra pessoa".
Na infância, Bia também teve que lidar com o bullying. Na escola, ela confessa que ia parar na diretoria pelo menos uma vez por semana. "Sempre zombavam de mim. Me chamavam de 'mãozinha', inventavam outros apelidos. E eu nunca aguentei calada. Mas não acredito que isso tenha me afetado tanto. Só acho que precisei me tornar alguém mais duro para aprender a me defender desde cedo", confessa.
Mas mesmo tendo enfrentado tantos obstáculos na vida, ela resiste em ser vista como um exemplo de superação.
"Para ser superação, é preciso haver um trauma. E eu nunca me vi como uma deficiente. Eu acho que quando Deus permite que uma pessoa nasça com um problema físico, Ele também permite que essa pessoa desenvolva outras habilidades especiais. Uma coisa compensa a outra. O importante é não se ver como coitadinho e seguir em frente", conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário