A ameaça do governo de abrir o
mercado doméstico para
companhias aéreas estrangeiras durante a Copa, como forma de reduzir
preços de
passagens e melhorar o serviço, dificilmente teria algum efeito prático.
Segundo a Iata, associação internacional de empresas aéreas, não há
condição de
atender uma demanda tão complexa com tão pouca antecedência. "A
logística
é complicada. Não é ônibus. É preciso três, quatro meses de antecedência
no
mínimo para que as empresas consigam se programar", diz o presidente da
Iata no Brasil, Carlos Ebner.
No domingo, a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) declarou,
em entrevista à Folha, que o governo estuda liberar os voos domésticos
(cabotagem) para as estrangeiras durante a Copa. Ebner diz que, quando uma
estrangeira pousa no Brasil, a tripulação chega ao limite das horas permitidas
por lei, e não há como seguir para outro destino não programado dentro do país.
Além disso, as empresas precisariam montar estrutura em cada destino, com
pessoal de check-in e contratos de abastecimento, manutenção, serviço de bordo
etc.
Para o presidente da Iata, o maior desafio se dará na
segunda fase do Mundial, que será definida de acordo com os resultados da
primeira."Estaremos lidando com o desconhecido e não haverá tempo hábil
para montar uma operação", diz. "Na primeira fase, a demanda será
atendida com a nova malha que a Anac deve aprovar em breve." Ele lembra
que, quando a Espanha foi para a final na África do Sul, houve 65 voos extras
entre os dois países. Esse tipo de operação charter internacional já é
permitida e só depende da capacidade do país de receber os voos.
PRECEDENTE PERIGOSO
Para analistas e consultores do setor, a abertura por meio
de medida provisória, ainda que temporária, abriria um precedente perigoso.
"Sou a favor da cabotagem, mas isso precisa ser feito no âmbito de uma
negociação bilateral que traga benefícios para o país", diz Cleveland
Prates, ex-conselheiro do Cade, órgão de defesa da concorrência entre empresas.
Para Lucas Arruda, sócio da Lunica Consultoria, a
preocupação do governo com os preços é "legítima", mas não justifica
passar por cima do Código Brasileiro da Aeronáutica (CBA), que limita a
participação de estrangeiros. "Se houver indício de conluio das empresas,
no que não acredito, existem órgãos de defesa da concorrência e do consumidor
com autonomia para tratar disso", diz. "O governo não pode
forçadamente ir contra a oferta e procura. Isso se resolve aumentando a
concorrência, com mais infraestrutura."
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