sábado, 28 de dezembro de 2013

Sem chuva por 48h, água não baixa e moradores relatam drama no ES


Mesmo com a casa alagada, engenheiro ficou no bairro Jockey para ajudar.
Famílias sofrem com aparecimento de animais e falta de água para banho.

Juliana Borges Do G1 ES

Meio de transporte mais seguro no bairro é o barco (Foto: Juliana Borges/ G1 ES)Meio de transporte mais seguro no bairro é o barco (Foto: Juliana Borges/ G1 ES)
"O pior é não saber quando a água vai baixar". A dúvida do engenheiro Gilberto Franco Barroso de 51 anos é a mesma de muitos moradores do bairro Jockey de Itaparica, em Vila Velha, na Grande Vitória. Sem chuva por dois dias, os alagamentos persistem neste sábado (28).
Gilberto conseguiu terminar a reforma da casa há poucas semanas, mas já sabe que vai ter que refazer tudo. Com a parte mais baixa da casa cheia de água, a família está vivendo nos quartos do segundo andar.  Eles optaram por não deixarem a residência para ajudar os vizinhos, repassando comida e água que chegam por doações.
A parte mais baixa da casa de Gilberto foi tomada pela água (Foto: Juliana Borges/ G1 ES)A parte mais baixa da casa de Gilberto foi tomada
pela água (Foto: Juliana Borges/ G1 ES)
Ao contrário dessa família, muitas outras optaram por abandonar as casas. Gilberto explicou que pela primeira vez, em 20 anos que vive no bairro, entrou água na casa. A família tem uma loja de materiais de construção na mesma rua, que também foi alagada. "Nos esforçamos tanto para ter a nossa casa que sonhamos e, agora, veio essa água e estragou muita coisa", disse.
O ponto fica na Comunidade Católica Cristo Rei, que não alagou. No local, chega água, comida, roupas e outros mantimentos, que são repassados às famílias ilhadas através de dois barcos doados pela prefeitura.
A esposa de Gilberto, Gecilda Santos Barroso, de 41 anos, tomou a iniciativa de remar com os donativos até as casas."Estou revezando a função com um vizinho, estamos deficientes de ajuda. Minha vida está complicada também, mas não posso me deixar abater. Para se ter ideia, não estávamos conseguindo fazer comida em casa pois a cozinha está alagada, compramos água e marmitex", contou Gecilda.
A líder comunitária Ivone Casagrande Sampaio, de 50 anos, está a frente do repasse das doações. Os moradores entram em contato com o grupo voluntário e o esquema é montado. "Estamos com apoio da prefeitura e temos pedido doações para empresas e pessoas. Nesta sexta, um shopping mandou vários itens de cesta básica e água mineral, por exemplo. Também temos roupas e colchões. eHá duas semanas, minha vida é fazer isso", contou.

Banheiro interditado
Na casa da família da dona de casa Ana Maria Provedel, de 52 anos, a água chegou apenas até o quintal, mas os problemas surgiram dentro da residência. Um deles é que o banheiro não está podendo ser usado, a água do vaso sanitário sobe caso a descarga seja acionada. "Tomamos banho em uma ducha improvisada, em uma área do jardim que não foi alagada. Mas para as outras necessidades, estamos improvisando", contou.
Até mesmo para lavar as vasilhas da cozinha, a situação é complicada. "Temos que racionar água, então vou lavando as vasilhas aos poucos. Minha casa está um caos, está dando mofo no meu armário, coisa que nunca tinha dado antes. A água não abaixa e fica um cheiro muito ruim na casa", disse.

A filha de Ana, Priscila Provedel, de 32 anos, falou que não consegue culpar apenas a atual prefeitura pelos problemas, mas todas as gestões passadas. "Queremos uma solução definitiva. Não só para agora, sabemos que essa água vai baixar mais cedo ou mais tarde, queremos uma providência para o futuro", disse.

Animais na água
Os moradores estão reclamando nos animais que têm aparecido no bairro, nadando na água. Muitos contaram que já viram cobras, ratos, baratas, caramujos africanos e minhocas. A auxiliar de enfermagem Janete Medeiros, de 53 anos, encontrou uma cobra atrás do sofá, nesta sexta-feira (27). O marido foi quem matou o bicho.
"Graças a Deus fizemos nossa casa mais alta e com segundo andar. A água não passou do quintal, mas os bichos estão invadindo. Além da cobra, vivo encontrando ratos morto e nesta manhã o muro da casa do meu vizinho estava tomado pro caramujos africanos. Joguei veneno em tudo", contou.
A auxiliar de enfermagem Janete encontrou uma cobra dentro de casa (Foto: Juliana Borges/ G1 ES)A auxiliar de enfermagem Janete encontrou uma cobra dentro de casa (Foto: Juliana Borges/ G1 ES
Segurança
Além do problema com os alagamentos, os moradores do bairro Jockey de Itaparica também têm enfrentado o medo diário de terem as casas saqueadas. O bombeiro hidráulico José Rodrigues, de 66 anos, contou que muitos moradores deixaram as casas e isso atraiu criminosos.
Moradores interditaram rua para que carros não passem e jogeum mais água para dentro das casas (Foto: Juliana Borges/ G1 ES)Moradores interditaram rua para carros não jogarem
água dentro das casas (Foto: Juliana Borges/ G1 ES)
Ele contou que não tem visto atuação da Polícia Militar nas áreas alagadas. "Ouvi falar que algumas famílias não querem deixar as casas com medo de serem saqueadas. Moradores que deixaram os carros em uma área mais afastada e seca, reclamaram de arrombamentos", falou.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) informou que o policiamento em todos os bairros alagados tem sido feito por meio de barcos. O comandante da 2ª Companhia do 4º Batalhão, capitão Stefan Pimenta, explicou que os moradores da região pode ajudar no combate ao crime denunciando qualquer atitude suspeita por meio do 190 ou pelo telefone da 2ª Companhia, o 3339-5793. Quem tiver informações, também pode ligar para o Disque-Denúncia (181). A polícia explicou que garante o sigilo e o anonimato.

Prefeitura
Na tentativa de escoar a água da chuva acumulada em 15 bairros da Vila Velha, o prefeito Rodney Miranda informou que máquinas abriram um novo canal ligando a região do Guaranhuns, nas proximidades de Pontal das Garças, até o Rio Marinho, nesta sexta-feira (27). No estado, mais de 61 mil pessoas estão fora de casa e a chuva afetou mais de 50 municípios.
Segundo a prefeitura, o novo canal comportaria com segurança o volume de água. "É uma medida paliativa para eliminar o mais rápido possível a água que está acumulada nos bairros", disse o subsecretário de obras, Gustavo Perim.

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