quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Comissão Estadual da Verdade ouve pessoas presas durante a ditadura


por
Rivânia Nascimento
TRIBUNA DA BAHIA
Foto: Francisco Galvão
Audiência pública da Comissão Estadual da Verdade
Audiência pública da Comissão Estadual da Verdade
Um dos destaques da audiência Pública da Comissão Estadual da Verdade, o então prefeito de Salvador no ano de 1964, Virgildásio De Senna, preso durante o regime militar por 60 dias, falou da importância da Audiência Pública da Comissão Estadual da Verdade para os mais novos. “A Comissão vai poder mostrar nestes dois dias para  a sociedade, através de depoimentos de fontes fidedignas, os fatos como realmente aconteceram. Isso é de grande valia para os mais novos que não tiveram acesso ao verdadeiro significado dessa época para o Brasil”, disse.
Ao lado do pai, a secretária executiva Suzana de Senna se lembrou dos momentos tristes que vivenciou no início da adolescência após a prisão de 60 dias do pai, na época prefeito de Salvador. “A ditadura deixou marcas profundas na nossa família. Porém, esse encontro é fundamental para que outras gerações conheçam um pouco mais sobre esse período e que é possível fazer política com dignidade”, disse.
Coordenado pela Comissão Estadual  da Verdade, a  Audiência Pública  que teve início ontem ouvirá oito pessoas que foram alvo  de repressão do regime militar instaurado no Brasil nos anos de 1946 e 1988.  O encontro que tem como objetivo reconstruir a verdadeira história do Brasil e irá ouvir oito pessoas que tiveram seus direitos violados sendo perseguidas e torturadas  durante a Ditadura Militar.
De acordo Joviniano Neto, coordenador da Comissão Estadual da Verdade, a medida foi criada para reconstruir as violações de direitos humanos ocorridos entre a promulgação das duas constituições aprovadas por Assembleia Constituinte eleitos (1946 e 1988) com objetivo de reconstruir a verdadeira história do Brasil.
O objetivo é aumentar pesquisas
Joviniano Neto destacou também que, na Bahia, a Comissão ainda  está sendo implantada,  e  que esse encontro tem a finalidade de garantir  a efetivação do Convênio om o estado para garantir mais profissionais  para a realização de pesquisas dentro e fora do estado. “A Comissão da Verdade não tem poderes persecutórios nem juridiscionais. Não formaliza denúncia, como o Ministério Público, nem julga e sentencia crimes, como o Judiciário. É Comissão da Verdade mas não é Comissão de Justiça. O julgamento e punição legal dos torturados é outra etapa. Mas, a respeito, costumo lembrar o Velho Testamento: “quem diz a verdade, manifesta a justiça”, declarou.
Também, pela manhã, prestaram depoimentos Theodomiro Romeiro dos Santos – juiz aposentado do Trabalho que entrou para a história como o primeiro condenado à morte na República, e depois anistiado –, que falou da sua participação em grupos de contestação ao regime e das torturas e perseguições sofridas à época; O ex-militante Luiz Contreiras, engenheiro e ex-dirigente do Partido Comunista Brasileiro, que fez um relato minucioso do seu envolvimento nas ações e o sofrimento lhe imposto pelos órgãos de repressão; e finalizando, o auditório ouviu o artista plástico Juarez Paraíso, que fez entrega de um documento com suas lembranças do período da ditadura.   
À tarde, das 14 às 18 horas, prestaram depoimentos Olderico Barreto, preso e torturado, irmão de José Barreto, que foi assassinado junto com Carlos Lamarca, em Brotas de Macaúbas, e Eliana Rolemberg, socióloga, presa, torturada e exilada na década de 70.
Participando da audiência como integrante da Comissão Estadual da Verdade, o presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI) e diretor-presidente da Tribuna da Bahia, Walter Pinheiro, destacou que as audiências públicas tiveram início na cidade de Feira de Santana, situada a 100 km de Salvador,  com depoimentos de vítimas da ditadura do golpe de 1964 com destaque para o juiz aposentado Antonio Pinto, e que agora a capital baiana está sediando os encontros com a mesma finalidade de promover a verdade dos fatos por meio de depoimentos das pessoas que foram  torturadas durante a Ditadura Militar.
Após as audiências, a Comissão da Verdade vai elaborar um documento nacional oficializando o direito à memória sobre esse fato.  A audiência prossegue até hoje, no Auditório da Reitoria da Universidade Federal da Bahia, no Canela. À tarde, o jornalista Emiliano José, que lutou contra o golpe militar, foi preso e torturado; a jornalista Mariluce Mouira, viúva de Gildo Macedo Lacerda, sequestrado e morto, e cujo o corpo até hoje está desaparecido;  e o sindicalista Marival Caldas, um dos fundadores do Sindipetro, estão entre os depoentes.

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