sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Crematório homenageia mortos com tecnologia que acessa blog pessoal


Serviço de QR Code vai ser inaugurado no sábado (2), em Curitiba.
'Achei brilhante', diz neto que disponibilizou informações sobre o avô.

Thais Kaniak Do G1 PR

Um crematório de Curitiba decidiu usar tecnologia para homenagear os mortos no Dia de Finados. A partir deste sábado (2), os lóculos (compartimentos em que as cinzas são depositadas) vão conter QR Code – código de barras em 2D que pode ser escaneado pela maioria dos aparelhos celulares que têm câmera fotográfica. Esse código, após a decodificação, passa a ser um link que irá redirecionar o acesso ao conteúdo publicado em algum site na internet. No crematório, a tecnologia vai encaminhar a um blog com informações sobre o morto, como a história de vida dele e até a música preferida.
A partir deste sábado (2), os lóculos (compartimentos em que as cinzas são depositadas) vão conter QR Codes  (Foto: Mylena Cooper / Crematório Vaticano)A partir deste sábado (2), os lóculos (compartimentos em que as cinzas são depositadas) vão conter QR Codes (Foto: Mylena Cooper / Crematório Vaticano)
O Crematório Vaticano investiu R$ 20 mil para implantar a ferramenta. Por enquanto, apenas os lóculos da Capela Vaticano, na capital paranaense, disponibilizarão a tecnologia. A previsão é de que, até 2014, o sistema seja implementado no Crematório de Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina.
Cerca de 200 famílias já aderiram à homenagem tecnológica, de acordo com a diretora do Crematório Vaticano, Mylena Cooper. O serviço é gratuito para os parentes que desejarem aplicar o QR Code nos lóculos dos entes falecidos, cujas cinzas estão guardadas na "Sala de Memórias" do crematório.
“As informações contidas na página da pessoa [dentro do blog] não falam sobre a morte, apenas sobre a personalidade e os hobbies da pessoa, somente as boas lembranças”, explica Mylena. Segundo a diretora, o crematório é o primeiro do mundo a disponibilizar a tecnologia nos lóculos. “No Japão, já lançaram o QR Code em um cemitério. Mas em um crematório é inédito”, garante.
Com a tecnologia, qualquer pessoa que esteja, com um smartphone ou um tablet, no crematório poderá acessar as informações contidas nas páginas pessoais dos mortos na internet.
“Eu não tenho ideia de quem foi meu tataravô, mas tenho certeza de que meus tataranetos terão acesso a informações a meu respeito – na internet é eterno. Eles vão saber minha história e meus gostos. A ideia é eternizar e homenagear a pessoa que se foi. A família vai poder compartilhar no Facebook, os amigos vão poder curtir. Esse desabafo na rede social é uma forma de fazer uma homenagem para a pessoa falecida, fora o próprio processo de luto que está sendo beneficiado”, diz Mylena.
Os textos que contam a história dos mortos são escritos por uma equipe composta por jornalistas e um psicólogo especializado em luto juntamente com as famílias que, depois de aprovarem o conteúdo, assinam uma autorização para a divulgação das informações na internet.
'Achei brilhante'
O universitário Kaike Siqueira, de 19 anos, aderiu ao serviço para homenagear o avô Carlos Roberto Siqueira, que morreu em 2011. Ele conta que o fato de informações sobre o avô ficarem disponíveis para outras pessoas não o incomoda, pelo contrário, o agrada. “Foi uma pessoa que todo mundo gostava. Por onde ele passava fazia amizades. Falo com orgulho de quem ele foi e de como ele foi. Fico gratificado de saber que as pessoas vão saber como meu avô era”, afirma.
A ideia da homenagem tecnológica partiu do estudante. Apesar de a família não ter ajudado na elaboração do conteúdo, ele garante que todos gostaram da iniciativa. “Achei brilhante homenagear meu avô desse jeito. É uma forma de lembrar das coisas boas que ele fez e transmitiu com o seu jeito de ser”.
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Kaike e o avô, que morreu em 2011; o neto prestou a homenagem ao avô usando QR Code (Foto: Arquivo Pessoal)Kaike e o avô, que morreu em 2011; o neto prestou a homenagem ao avô usando QR Code (Foto: Arquivo Pessoal)
O administrador Marco Ferreira, de 40 anos, também prestou uma homenagem utilizando o QR Code. O pai dele morreu em maio de 2012. “Acho muito válido porque é uma forma de manter a história dele viva”, diz.
“Cada um tem seu herói, e eu tive o meu. Vive com ele por 38 anos e, infelizmente, ele partiu. Quero que as pessoas saibam quem ele foi. É importante para mim saber que a memória dele está viva. Se ninguém contar a história dele, ninguém vai saber. Acho importante esse registro para a gente [família e amigos] e para quem ainda vai vir [parentes que nascerão no futuro]”, explica Ferreira.

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