segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Terreiros criam rede para manter memória

Cleidiana Ramos A TARDE

  • Raul Spinassé | Ag. A TARDE
    Estátuas de Dandalunda e outros objetos instalados no Memorial Kisimbiê
Se tiveram objetos da sua fé expostos de forma inadequada, as comunidades de terreiros estão mostrando como entendem que sua memória deve ser tratada. Antes uma iniciativa particular, a organização de memoriais e museus agora integra uma rede articulada.
A iniciativa começou em  maio deste ano, a partir de um movimento coordenado pelo tata de inquice Anselmo dos Santos. Tata Anselmo é  líder do Terreiro Mokambo, localizado no Trobogy.
"Imaginei que seria interessante compartilhar ideias e também aprendermos uns com os outros", afirma o tata Anselmo.

A rede tem o apoio da Diretoria de Museus, órgão ligado ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) e Centro de Culturas Populares Identitárias (CCPI).  Ipac, Dimus e CCPI estão ligados à Secretaria Estadual de Cultura (Secult). (Ver texto ao lado).
"Unidos nós ficamos mais fortes, inclusive para concorrer a editais", diz o  tata Anselmo, que é mestre em Educação pela Uneb.
Memória - No  terreiro Mokambo está instalado o Memorial Kisimbiê, que traça um panorama sobre a história da tradição angola na Bahia.
Em um painel, por exemplo, é possível aprender sobre as etnias de origem de onde hoje estão os países Angola e Congo, que foram trazidas à força para o Brasil, como os cabindas e benguelas.
Em um outro, está descrita a genealogia do terreiro Mokambo, ou seja, a família religiosa do seu líder  tata Anselmo. Ela  inclui  Jubiabá, Joãozinho da Goméia e Mirinha do Portão.
"Nós temos que explicar por que estamos aqui e como começou a nossa história", diz o tata Anselmo.
O memorial também tem uma biblioteca e recursos audiovisuais para tornar a visita mais interessante.
"Como educador eu me preocupei em tornar o memorial uma oportunidade para ajudar escolas na aplicação da Lei 10.639/2003" (que estabelece o ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira).
Tradição familiar - Criado há 18 anos, o Memorial Làjoumim fica no Terreiro Ilê Odô Ogê, mais conhecido como Pilão de Prata, localizado na Boca do Rio.
O  espaço conta a história da família Bamboxê Obitikô, uma das mais importantes do candomblé.
Bamboxê Obitikô é o nome africano de Rodolpho Martins de Andrade, um dos sacerdotes mais importantes na formação da Casa Branca, considerado o mais antigo terreiro  ketu do Brasil.
No memorial estão painéis com fotografias de membros da família, mas o destaque vai para a coleção de pertences de Caetana Sowzer.
Ialorixá fundadora do Terreiro Làjoumim, localizado na Federação, ela é tia biológica e foi a mãe espiritual do babalorixá Air  José, que comanda o Pilão de Prata.
"Este memorial é uma homenagem a toda a família Bamboxê e, em especial, a Mãe Caetana. Ele conta a história da sua sabedoria religiosa e também da elegância", destaca Pai Air.
A família Bamboxê é descrita pelo historiador  Jaime Sodré como a herdeira de uma tradição chamada de "alta costura do candomblé".
Isso porque eles têm uma tradição de unir o luxo ao bom gosto em vestimentas e adereços. O espaço reúne joias, móveis, documentos e outras preciosidades.

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