segunda-feira, 1 de julho de 2013

Postos de saúde novos e equipados não funcionam por falta de médicos


O Brasil vive uma situação de contrastes na área da saúde. Algumas cidades têm médicos, mas não oferecem estrutura. Outras têm postos de saúde novinhos, equipados, mas médico nenhum quer trabalhar ali.

O Show da Vida discute agora a saúde no país. Nessa área, o Brasil vive uma situação de contrastes. Algumas cidades têm médicos, mas não oferecem estrutura. Outras têm postos de saúde novinhos, equipados, mas médico nenhum quer trabalhar ali. Será que existe solução?
Maria Raimunda de Souza está no sétimo mês de gravidez. Ela tem anemia e problemas de tireóide.
A gestante mora na pequena Ferreira Gomes, a 137 quilômetros de Macapá, no Amapá. Ela precisa fazer um ultrassom, mas a Unidade Mista de Saúde, criada para funcionar como um hospital e atender casos de emergência, não tem o equipamento. Até agora, Maria não sabe o sexo e nem o estado de saúde do bebê.
“Só Deus mesmo quem sabe”, comenta a dona de casa.
O doutor Vitor atende Maria no escuro, no pequeno hospital, mantido pelo governo estadual e pelo SUS. As constantes faltas de energia são apenas uma das carências da cidade de 5800 habitantes, que, em uma unidade, conta com apenas dois médicos. Mas um deles está fora, fazendo um curso.
De segunda a sexta-feira, o doutor Vitor Hugo Lopes Rodrigues atende uma média de 40 pacientes por dia.

“Não temos raio-X, não temos um laboratório que ofereça todos os exames que geralmente nos solicitamos. As vezes falta até fio de sutura, as vezes nos não temos medicações básicas”, conta o médico.
A técnica em enfermagem Neuraci Lima Pereira técnica trabalha há dez anos no hospital e também é vereadora na cidade. Ela diz que sequer há roupa de cama para os 12 leitos.
“Nós não temos alimentação pra dar para o paciente, não temos lençol, as enfermarias não tem ventilador e os que estão instalados não funcionam. Então não temos como manter nenhum paciente internado aqui”, afirma.
A falta de atendimento médico de qualidade não é problema só de vilarejos em regiões extremas. Em São Paulo, terceira cidade em número de médicos por habitante no país, dona Idália, de 73 anos, aguarda atendimento há três dias. Ela caiu da cama e fraturou o braço.
Ela precisa fazer uma cirurgia, que, até a última quinta-feira, não tinha sido marcada. A sobrinha conta que dona Idália passa os dias em uma cama, em um corredor do Hospital Municipal do Campo Limpo, na periferia da Zona Sul.
“Até agora não passou nenhum medico pra olhar um raio-X que ela fez, disse que está com início de pneumonia e não fizeram nada, continua do mesmo jeito que está”, diz a diarista Camila dos Santos Almeida.
São Paulo tem 2400 vagas para médicos em aberto, segundo a prefeitura.  A carência vai dos grandes hospitais públicos, como o que a dona Idália está internada, até os postos de saúde.

Na semana passada, um dos 130 alunos de uma escola machucou o dedo, um ferimento que poderia ser rapidamente tratado do outro lado da rua, em um posto de saúde novinho. Mas a criança foi encaminhada para um hospital porque o posto está fechado por falta de médicos.
São cinco consultórios, salas para inalação e vacina bem equipadas. Estrutura para atender aos 12 mil moradores do bairro. A Unidade Básica de Saúde do Jardim Rincão foi entregue em setembro de 2012, pelo município. Todos os outros funcionários já foram contratados. Menos os médicos.
“Se eu tivesse um posto aqui, que fosse pelo menos de dia, e tivesse um medico, já resolveria o problema”, afirma uma mulher.
O Supervisor de Saúde da região aponta falta de interesse.

“É uma região bastante conturbada, que tem bastante problema social. O salário para o médico é em torno de R$ 13 mil”, diz o supervisor de saúde da região de Pirituba e Perus João Marcondes da Silva Filho.

Números do Ministério da Saúde indicam que o Brasil tem menos médicos do que necessário: 1,8 para cada mil habitantes. O índice é menor do que os de países como a Argentina Portugal e Espanha.
Esta semana, o governo anunciou a abertura de 35 mil vagas até 2014. Se não conseguir preencher os postos de trabalho com brasileiros, estrangeiros poderão se candidatar.
Nesse caso, segundo o Ministério, os contratos serão por prazo determinado.
“Com autorização exclusiva pra atuar naquela região. Não pode exercer medicina fora da periferia das grandes cidades e dos municípios do interior. Com isso, não vai disputar vaga nem mercado de trabalho com o médico brasileiro”, explica o ministro Alexandre Padilha.
Os estrangeiros não precisarão fazer provas para revalidar o diploma obtido no exterior. E isso, o Conselho Federal de Medicina não aceita.
“Isso é um perigo, é um risco. Nós vamos fiscalizar atentamente cada ato, cada gesto desses médicos. Se for erro médico, vamos puní-los exemplarmente. Vamos ao judiciário e vamos até às cortes internacionais se for o caso”, afirma Roberto Luiz D’Ávila, presidente do CFM.

Na opinião de um pesquisador de gestão em saúde, os médicos estrangeiros podem até ajudar, mas é preciso fazer mais.

“Junto com os médicos que serão alocados nessas regiões, há que ter o compromisso firme, explícito das autoridades dos três níveis, federal, estadual e municipal, que serão destinados recursos pra que esses profissionais tenham efetivamente condições de atuar”, ressalta o professor da FGV Wilson Resende.
O governo do Amapá diz que iniciou em 2013 um programa de reestruturação e construção de mais unidades de saúde. E, sem fixar prazo, afirma que a unidade de Ferreira Gomes é uma das que serão reestruturadas.
Em São Paulo, a prefeitura informou em nota que dona Idália foi avaliada pela equipe de cirurgia geral, enquanto esteve no hospital do Campo Limpo. Depois de três dias, ela foi transferida para o Hospital das Clínicas e deve ser operada na terça-feira.
Camila fala com tristeza da situação da tia: “Eu pago imposto. Ninguém está pedindo favor. A gente só quer o que a gente paga, não é de graça. É um descaso, gente”.
FANTÁSTICO

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