domingo, 23 de junho de 2013

Transporte e política são principais razões de manifestações, diz pesquisa


Para 24% dos manifestantes ouvidos pelo Ibope, corrupção é maior motivação para ir às ruas.

O Fantástico traz respostas às perguntas que, nos últimos dias, surgiram nas ruas. Uma pesquisa inédita e exclusiva do Ibope explica as manifestações que ganharam o Brasil.
Quem participa? Por que participa? Afinal, o que está acontecendo no país? Dois mil manifestantes foram ouvidos durante os protestos de quinta-feira (27) nas regiões metropolitanas de oito grandes capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza e Brasília.
Primeira pergunta da pesquisa do Ibope exclusiva para o Fantástico: o que foi que levou tantos manifestantes às ruas do Brasil? Tudo começou por causa do aumento das tarifas no transporte público. Mas existe muito mais que isso nas bandeiras, nas faixas, nos cartazes e também nas vozes que falaram bem alto durante os protestos que começaram há duas semanas. O Fantástico explica a partir de agora esse fenômeno popular que está mudando a história do país.
 
Há duas semanas, as ruas do Brasil carregam uma avalanche de insatisfações e reivindicações. O pedido era só um. E a revogação do aumento nas tarifas dos transportes foi alcançada em várias cidades.
Mesmo assim, Leandro voltou à Avenida Paulista. A terceira vez em dez dias. “Eles acham que aqui só tem playboy se manifestando. Mas tem trabalhador. Eu sou trabalhador e estudante, estou aqui manifestando meu ponto de vista”, disse Leandro.
Ele é empacotador em uma empresa de informática. Tem o ensino médio. Sai de casa antes das 7h, na Zona Sul de São Paulo e, diariamente, enfrenta o transporte público. São 40 minutos de viagem, que ele faz agachado perto do motorista, o único espaço que encontra para se acomodar. Do ônibus para o trem, também cheio demais. São mais 45 minutos espremido no vagão. Depois tem mais um trecho, de metrô. E ainda falta outro ônibus. Quase duas horas para percorrer 25 quilômetros até a porta do trabalho, no Centro de São Paulo.
“Ninguém está aguentando mais, está todo mundo no limite. Está todo mundo indignado, não dá para continuar do jeito que está”, disse Leandro.
A pesquisa do Ibope comprovou. Quando perguntados sobre as razões de estarem protestando nas ruas, o grupo mais numeroso, 38% dos entrevistados, apresentou motivos ligados à questão do transporte público. E 28% dos manifestantes se declararam contra o aumento das tarifas.
“O trabalhador tem que pegar o ônibus todo dia, 5h da manhã, e ainda pagar esse valor absurdo e não ter conforto nenhum”, disse Daiene Amaral, São Paulo.
“A passagem tem um valor absurdo, sem dúvida, absurdo’, reclama Leandro.
O aumento das passagens foi o estopim. Mas à medida que as ruas foram ficando cheias, elas também se tornaram um caldeirão de reivindicações e de protestos.
Para outros 30% dos manifestantes, a principal razão de protesto não era o transporte público, era a política. E 24% disseram que estavam nas ruas contra a corrupção.
“Chega de corrupção. Chega dessa palhaçada”, disse Igor Soares, de Porto Alegre.
Outros motivos de protesto considerados prioritários pelos manifestantes na pesquisa do Ibope: em defesa da saúde, 12%; contra a PEC 37 - a medida que tira do Ministério Público a atribuição de realizar investigações criminais - 6%; 5% contra os gastos com a Copa do Mundo; e outros 5% pela educação.
Mas quando o Ibope leva em conta não apenas a primeira, mas as três primeiras respostas dadas espontaneamente pelos manifestantes, o transporte cai para o segundo lugar.
A política aparece em primeiro, com 65%. A questão política mais citada foi a corrupção, apontada por quase a metade dos manifestantes como motivo para protestar.
A soma dá mais de 100% porque o mesmo entrevistado podia apontar três motivos.
“A gente está revoltado com o tanto de roubalheira que tem no nosso país”, disse Suelen Mota, de Belo Horizonte.
“Eu acho que a corrupção acaba sendo uma chave para todas as outras mazelas que a gente está vendo aparecerem, como educação, transporte, saúde”, declarou o antropólogo Everardo Rocha.
“Agora o povo teve voz, de ir para as ruas, estavam todos engasgados. De poder dizer que basta de impunidade, basta de descaso com o povo”, destacou Perla Sampaio, de Porto Alegre.
“As pessoas fizeram uma relação muito rica e muito correta. Não adianta aumentar dinheiro para educação, aumentar dinheiro para saúde, aumentar dinheiro para transporte, se nós continuarmos com as práticas de má gestão, de ineficiência e de corrupção”, destacou o Sociólogo Francisco Carlos Teixeira.
E na opinião dos manifestantes, quem deve pagar a conta pela conquista da redução das tarifas?
“Pode muito bem sair dos impostos que eles estão tirando do nosso bolso todo mês quando a gente trabalha”, disse Gustavo Almeida, do Rio de Janeiro.
A pesquisa Ibope revelou que 46% dos manifestantes acham que o governo tem que arcar com esse custo; 29% disseram ao Ibope que a conta deve ficar com os empresários; e 21% acham que ela deve ser dividida entre governo e empresários.
“Somos nós exigindo todos os nossos direitos como cidadão. Nós pagamos altos impostos justamente para cobrar aqui o que é devido”, destacou Leandro. 
FANTÁSTICO

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