A grande maioria, 78% dos manifestantes, disse que se organizou para ir à passeata pelas redes sociais.
Até semana passada, essas eram três páginas na internet: a do Hugo, da Ligia e da Fernanda. A indignação empurrou essas três e tantas outras páginas pra rua.
A multidão se estende a perder de vista. São muitas cabeças e muitas ideias. Mas o que a gente quer entender é quem é esse jovem que sai de casa talvez pela primeira vez na vida pra lutar por alguma coisa.
Cerca da metade das pessoas nas passeatas, 46%, nunca tinha participado de uma manifestação de rua.
Ligia era uma delas na quinta-feira, 20 de junho. Em São Paulo, a estudante de administração saiu mais cedo do trabalho e convenceu dois colegas a irem com ela.
Na casa do namorado, encontrou ainda mais gente. Eles combinaram pela internet.
“A gente venceu a batalha de diminuir a tarifa para R$ 3, mas ainda não a guerra”, destaca Ligia Oliveira
A grande maioria, 78% dos manifestantes, disse que se organizou para ir à passeata pelas redes sociais.
No Rio de Janeiro, Fernanda e os amigos marcaram de se encontrar pra discutir melhor o que está acontecendo. E decidiram que vão para manifestação fazer um vídeo para compartilhar depois.
“O nosso objetivo é ver o que está acontecendo, saber porquê eles estão ali”, disse Fernanda Carvalho, de 23 anos.
Hugo estava motivado a chamar muita gente. Na universidade de Brasília, ele foi de sala em sala fazer a convocação. E chamou muito mais gente pela internet.
Setenta e cinco por cento dos entrevistados disseram que usaram rede social também para convocar amigos para participar das manifestações.
Cinquenta e dois por cento dos que estavam lá eram estudantes.
Quarenta e três por cento tinham ensino superior completo.
Quarenta e três por cento tinham menos de 24 anos.
Quarenta e nove por cento, uma renda familiar de mais de cinco salários mínimos -- o equivalente a R$ 3.390. Quarenta e cinco por cento renda de menos de cinco salários mínimos.
“O que está acontecendo na rua hoje é uma manifestação da forma como as pessoas conversam nas redes sociais. As pessoas estão passando e parece que você está vendo o fluxo de uma pagina de internet. Uma hora as pessoas estão falando sobre diversidade sexual, outra hora estão falando sobre reforma política. Por isso que eu acho que é errôneo exigir que haja uma agenda única ou uma pauta especifica pra essas manifestações”, disse Ronaldo Lemos, coord. Centro de Tecnologia da Sociedade da FGV-Rio.
Hugo se esforça pra continuar aumentando seu grupo.
“Atenção, pessoal. Tá sendo formado aqui um bloco; Um bloco LGBT. Um bloco negro. Um bloco de todas as minorias políticas deste pais”, disse o estudante com um mega-fone.
“A gente veio pra fazer uma coisa, mas aqui a gente chega e vê que o povo está unido e está lutando pelos seus direitos e a gente acaba também se misturando com eles”, destaca Guilherme Alves.
Fernanda e os amigos fazem entrevistas pra voltar depois com a discussão na internet. Foi lá que surgiram os primeiros gritos que depois foram ouvidos nas ruas.
“Por muito tempo a internet foi ignorada. ‘Isso aqui não é preciso ser levado a sério. Isso que é algo que está a parte da sociedade brasileira’. O que a gente está assistindo agora é justamente mostrando que por trás de cada uma dessas ideias têm pessoas. A questão é que isso não foi ouvido e as pessoas partiram pra rua”, observa Ronaldo Lemos.
A gente viu que foi na internet que surgiram os primeiros gritos, que depois foram pra rua.
“Nenhum partido me representa”, disse um manifestante.
Em manifestações por todo país representantes de partidos políticos foram estimulados a abaixar suas bandeiras.
Oitenta e nove por cento das pessoas que estavam lá disseram que não se sentem representados por qualquer partido político.
Oitenta e três por cento dos manifestantes entrevistados não se sentem representados por qualquer político.
Noventa e seis por cento não são filiados a partido político.
“O grito nas ruas sem partido, a tentativa de rasgar bandeiras, a tentativa de impedir pessoas com camisetas é uma recusa profunda a um sistema político que está distanciado inteiramente daquilo que as pessoas querem e desejam pra elas. Nós chamamos isso de crise da representação”, disse o cientista político Francisco Carlos Teixeira.
“A questão central é que os partidos políticos existentes hoje no Brasil, desde aqueles que estão no governo, mas também aqueles que estão na oposição, eles perderam o contato e a sensibilidade com a população brasileira. Esse não é um caso brasileiro. Isso existe na literatura de ciência política e história.
“Não pode ter democracia sem partido. E democracia é um grande patrimônio que nós temos”, disse Everardo Rocha.
“A democracia é a solução e é a melhor resposta para esses problemas”, disse Fabiano.
O distanciamento dos partidos não significa falta de interesse. Sessenta e um por cento dos manifestantes se declararam muito interessados pela política. Vinte e oito por cento tem interesse médio pelo assunto.
A Fernanda e os amigos já publicaram o vídeo e sentem uma mudança nos ânimos.
“Quando eu cheguei na minha casa, onde eu moro, todo mundo que foi tava conversando sobre política, coisa que eu nunca tinha visto antes”, disse a estudante.
“Invés de você compartilhar o seu jantar, você compartilha ‘vamos para a passeata’”, destaca uma jovem.
Hugo acha que isso é só o começo.
“Vamos seguir juntos. Vamos aumentar a nossa mobilização. Vamos aumentar a nossa politização. Que juntos vamos conseguir transformar a historia deste pais”, conta o estudante
FANTÁSTICO
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