Em campanha aberta pela reeleição, Ivan Sartori é criticado por desembargadores 'independentes'
Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo
SÃO
PAULO - O Tribunal de Justiça de São Paulo, maior corte estadual do
País – 353 desembargadores, 2 mil juízes, 50 mil servidores e orçamento
de R$ 7,6 bilhões – já empenhou e liquidou em apenas cinco meses do ano
R$ 87,092 milhões para despesas com auxílio-alimentação. A dotação para
essa rubrica, até o fim de 2013, alcança R$ 310 milhões. Desembargadores
da ala independente da toga sustentam que o presidente, Ivan Sartori,
está em campanha aberta pela reeleição e, por isso, abriu os cofres da
instituição como nunca antes.
Esses magistrados alegam que Sartori quer se perpetuar no
poder, implantando um “modelo chavista” na corte. Sartori também
autorizou, a título de indenizações e restituições trabalhistas – férias
e licença-prêmio acumuladas –, a liberação de R$ 120,7 milhões nos
primeiros cinco meses em benefício de seus pares e de funcionários.
O pleito para escolher o mandatário máximo do tribunal será
em dezembro, mas o tema já domina os bastidores nas Seções de Direito
Público, Privado e Criminal. Veteranos e prestigiados desembargadores
repudiam eventual tentativa de reeleição de Sartori. Alegam que a Lei
Orgânica da Magistratura Nacional (Loman), artigo 102, e a tradição,
sobretudo, vetam a recondução, barrando a politização nos tribunais.
“Não é viável e não é da tradição a reeleição”, alerta um
magistrado da Seção Criminal. “Não vejo razão para ele (Sartori) buscar a
recondução, independentemente se é bom ou ruim para o tribunal.” Outro
desembargador, do Direito Público, pondera. “Sou a favor da reeleição,
mas não que mudem a regra no meio do jogo. Não vale chavismo.”
“Não sei”, esquivou-se Sartori, indagado se é candidato a
mais dois anos no posto. Mas, no melhor estilo populista, não esconde
que a ideia o seduz. “Se quiserem a minha permanência, eu fico.”
A fonte dos recursos distribuídos por Sartori é o Fundo
Especial de Despesa (FED), que abriga receitas que entram diretamente
para o tribunal – parte das taxas de concursos e judiciária, taxas de
permanência dos depósitos judiciais e venda de material inservível.
O FED foi criado para modernização dos fóruns. Em dezembro,
sob gestão do presidente Barros Munhoz (PSDB) – réu em ações por
improbidade e amigo de Sartori–, a Assembleia aprovou projeto
autorizando o TJ a usar o Fundo para pagar benefícios ao pessoal.
‘PAC do Sartori’.
O argumento central do grupo que defende a reeleição de
Sartori é que sua obra não pode ser interrompida e um sucessor à beira
da aposentadoria não teria o vigor necessário. Sartori tem o seu PAC. O
“Programa Fórum São Paulo” prevê, em 5 anos – investimento anual de R$
200 milhões –, ampliação e reforma de prédios e construção de novos
edifícios para desembargadores.
Sartori tem feito palanque eleitoral das sessões do Órgão
Especial, colegiado de cúpula que reúne 25 desembargadores. No dia 15,
estrategicamente tocou num ponto que anima a toga. “O dinheiro do Fundo
vai indo bem. Sem o Fundo o tribunal não sobrevive. Mas precisamos agir
com prudência. Temos que pôr em dia as férias dos funcionários e dos
juízes. Temos servidores passando fome.”
Com ares de estadista, falou das costuras políticas. “Para
fazer orçamento real precisamos de pontes políticas, com o governo e a
Assembleia. Tem que ter coragem para lidar com essa parte política. O
governo tem sido sensível. O presidente já recebe no começo do ano uma
conta inicial. Situação delicada para o presidente, sempre com a
guilhotina no pescoço.”
Sartori disse ao Estado, por e-mail, que o Fundo “tem sido
usado com parcimônia”, quando se trata de indenização de pessoal,
autorizada pela Lei 8.876/94, com redação das Leis 12.395/06 e
14.943/13.
Lei veta um novo mandato. Ivan Sartori já
conta com reforço de peso se tentar de fato a reeleição. Em dezembro, o
STF decidiu sobre o regimento de uma corte estadual. Na ocasião, o
ministro Marco Aurélio Mello destacou que a Constituição assegura a
independência administrativa e financeira dos tribunais.
Para ele, o artigo 102 da Lei da Magistratura, que veta a
reeleição, contraria essa liberdade, não tendo sido recepcionada pela
Carta. Os mais antigos têm preferência para postos de direção dos
tribunais, a menos que não se inscrevam para a disputa. Dessa brecha
valeu-se Sartori, em 2011, quando – ocupando a 137ª colocação na lista
de antiguidade – foi eleito mais jovem presidente do TJ paulista, aos 54
anos.
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