sábado, 30 de março de 2013

Restos de madeira viram arte nas mãos de ex-presidiário


Obras com entalhe em madeira têm inspiração na fauna amazônica.
Artista produziu primeiras obras dentro de presídio em Cruzeiro do Sul.

Genival Moura Do G1 AC

Ex-presidiário trabalha com entalhe em madeira (Foto: Genival Moura/G1)Marinésio mostra quadro de jacaré feito com restos de madeira (Foto: Genival Moura/G1)
O local onde estão expostas as obras do artesão, Marinésio da Silva Rosa, não é fácil de encontrar em Cruzeiro do Sul (AC). O local fica na comunidade rural Vila Lagoinha, BR-364, a 30 quilômetros da cidade. É lá  que o profissional tem contato com a floresta e tira a matéria prima e toda a inspiração para a confecção das peças. As obras chegam a custar até R$ 15 mil.
O artista faz questão de mostrar que sua loja, suspensa do chão cerca de três metros por toras de madeiras nobres, foi construída com árvores nativas que seriam desperdiçadas em desmatamentos nos arredores. Aos visitantes é oferecido um rapé, produto considerado terapêutico de origem indígena, à base de tabaco com toque de plantas nativas. O difícil é caminhar pelo espaço com tantas esculturas de pássaros, peixes, répteis, animais, molduras e quadros, quase todos com inspiração na biodiversidade amazônica.
Ex-presidiário trabalha com entalhe em madeira (Foto: Genival Moura/G1)Obras têm inspiração na fauna amazônica
(Foto: Genival Moura/G1)
Superação
Marinésio tem orgulho em contar sua história de superação. Começou a desenvolver suas habilidades quando trabalhou na marcenaria do presídio Manoel Néri da Silva, em Cruzeiro do Sul, onde cumpriu pena por tráfico de drogas. “Eu disse que tinha vontade de trabalhar com entalhe em madeira e tive a oportunidade. Comecei fazendo móveis e nas horas vagas aproveitava as sobras de madeira, para confeccionar quadros de clubes de futebol. A diretora da penitenciária permitia que eu vendesse as obras para as visitas e o dinheiro era usado na compra de materiais de higiene pessoal”, lembra.
O trabalho ajudou no cumprimento da pena e há vários anos, o artesão não deve mais nada à justiça. Suas obras estão ganhando valor comercial e mercado, o que possibilita investimentos em novos projetos. “Hoje graças a Deus recebo visitas de pessoas dos grandes centros como Rio e São Paulo, de universidades e até de outros países como os Estados Unidos. Essas pessoas gostam muito e sempre estão comprando os nossos produtos”, comenta.
Trabalho sustentável
Ex-presidiário trabalha com entalhe em madeira (Foto: Genival Moura/G1)Escultura de jacaré é vendida por R$ 15 mil (Foto: Genival Moura/G1)
O artista explica que a forma sustentável como são confeccionadas suas obras despertam o interesse dos clientes. Além da madeira, ele usa mandíbulas, garras de animais, restos de insetos, penas e bicos de aves para inserir nas molduras. O forte contato com a natureza foi adquirido por seus ancestrais. O artesão conta que sua avó era índia de uma tribo isolada e foi forçada à civilização. “Pegaram ela para domesticar com a ajuda de cães. Minha mãe era índia pura e como descendente tenho muito contato com os índios e admiração por todos eles”, enfatiza.
Uma escultura de um jacaré esculpida à base de madeira da espécie marfim, atualmente está à venda por R$ 15 mil, obra que segundo o artesão foi confeccionada em um mês de trabalho.
Para destacar ainda mais o seu talento, Marinésio confecciona quadros com imagens de indígenas, personalidades e construiu duas grandes molduras de Jesus Cristo, quando estava prestes a ser crucificado, tudo em entalhe de madeira. Ele também trabalha com pinturas e artesanatos à base de sementes nativas.

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