sexta-feira, 29 de março de 2013

Campos e ministra travam duelo sobre portos


Governador do PSB questiona competência do governo federal e é rebatido por petista


DENISE MADUEÑO , JOÃO DOMINGOS , LAÍS ALEGRETTI / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Aliados políticos hoje, mas possíveis adversários em 2014, o governador de Pernambuco e provável candidato à Presidência, Eduardo Campos (PSB), e a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, pré-candidata petista ao governo do Paraná, travaram ontem um duelo no último debate sobre a Medida Provisória dos Portos, que cria um modelo de exploração direta e indireta, pela União, de portos e instalações portuárias do País.
Contrário à MP pelo fato de ela tirar dos Estados o poder de realizar licitações dos novos terminais portuários, Campos questionou a competência do governo Dilma Rousseff de tomar decisões corretas e rápidas. "Confio muito mais nas decisões do Porto de Suape do que nas da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), que leva dois anos para decidir um processo e nem consegue preencher os cargos de seus diretores, estando atualmente com três interinos", disse o governador, citando o principal porto do Estado de Pernambuco. "A Antaq não é uma boa professora de gestão pública", afirmou. "Se há um porto construído por ação dos pernambucanos é o porto de Suape."
O governador disse ainda que a MP, editada no fim do ano passado, foi elaborada sem um diálogo com os Estados. De forma indireta, sugeriu que há interesses políticos do governo na medida.
Ao propor um diálogo com o Planalto, assim como os trabalhadores nos portos e os empresários do setor ouvidos pelo governo, Campos afirmou: "Não há governo querendo ofender a federação e o Estado (de Pernambuco) é um aliado do governo". E completou: "Não tem problema de caráter político, imagino eu".
Resposta. Em sua fala, Gleisi reagiu ao governador e defendeu a centralização, que, segundo o governo, facilitará a adoção de uma política única de gestão em todo o País. "Com todo respeito. Não podemos estabelecer um marco regulatório para os portos partindo de Suape. Já vivemos no modelo de descentralização e ele não atendeu às demandas que o País tem", afirmou.
Gleisi divulgou informações técnicas sobre a questão, mas deu ênfase a uma resposta política ao governador. Ela começou o contra-ataque com uma defesa da política de infraestrutura do governo do antecessor e padrinho político de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva. "O tema portos tem sido prioridade desde que entrou na agenda do governo Lula e depois no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)", disse. "As iniciativas não nasceram de um momento para outro, nasceram de uma reflexão profunda e de estudos", afirmou a ministra, segundo quem foram ouvidos "todos os setores envolvidos". Ela disse ainda que as ações contrárias à MP são motivadas por interesses individuais. "Esse setor é diversificado, tem vários atores, cada um tem uma forma de olhar e um interesse", afirmou ela, em clara referência ao governador de Pernambuco.
Gleisi afirmou ainda que não aceitará a retirada de Suape da abrangência da MP, como Campos chegou a sugerir. "Não podemos tratar um porto de maneira isolada, por mais eficiente que seja", disse a ministra. "Lógica nacional é fundamental para eficiência do sistema portuário", disse.

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