sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Mesmo com crise, Madri e arredores são prato cheio para turistas


Em um fim de semana, é possível passear pela capital, Segóvia e Valladolid.
Confira roteiro com opções de gastronomia e atrações históricas.

Do Valor Online
Na televisão, protestos contra as medidas de austeridade; na manchete do jornal, uma bomba-relógio nas contas do governo que ameaça o pagamento de aposentadorias no próximo ano.
A crise espanhola não é nenhuma novidade, mas um giro de um fim de semana por Madri e as simpáticas cidades vizinhas Segóvia e Valladolid surpreende por muitos motivos. Um deles é que os sinais da crise não são tão visíveis quanto mostram os telejornais, a não ser pelos inúmeros anúncios de 'vende-se' e 'aluga-se' nas fachadas dos imóveis.
As ruas e monumentos das cidades espanholas são extremamente limpos e bem cuidados, e o clima nas ruas é leve. No mercado San Miguel, em Madri, nativos se misturam aos turistas e "tapas", "pinchos" e "tragos" correm soltos e festeiros por toda a tarde de sábado.
Mercado de San Miguel, em Madri, Espanha (Foto: Divulgação)Mercado de San Miguel, em Madri, Espanha (Foto: Divulgação)
Em Valladolid, em pleno domingo, hordas de senhores e senhoras saem bem vestidos e tranquilos para os cafés e os visitantes são recebidos com bom humor pelos locais - em contraste com os moradores de rua e o certo ar de desolamento que surgem quando se cruza a fronteira rumo à França. Outra vantagem que a Espanha mantém em relação ao badalado país vizinho são os preços, bem mais em conta.
Um fim de semana é um período curto demais para descobrir mesmo as atrações essenciais que as três cidades oferecem. Quem tem pouco tempo e um interesse maior por construções históricas e belas paisagens deve seguir da capital espanhola direto para Segóvia. Se o objetivo é unir os monumentos a bons tapas e vinhos, com direito a degustações in loco nas vinícolas, Valladolid é uma boa escolha.
Em Madri, se você adotar um ritmo acelerado, um dia pode render bastante. Para os não iniciados, o roteiro obrigatório deve partir da Gran Via - portanto escolha um hotel bem localizado - a pé, rumo aos museus. A primeira parada é o Thyssen-Bornemisza, mais moderno e cosmopolita, no qual é possível conhecer artistas menos óbvios, mas não menos interessantes.
Em seguida, o Reina Sofia é parada obrigatória não apenas porque o quadro 'Guernica', de Picasso, e outras obras famosas estão lá, mas pela construção de arquitetura típica espanhola, com belos pátios internos. E, por fim, chegamos ao Prado.
O museu mais famoso da capital espanhola também tem uma bela arquitetura, mais imponente que a de seus vizinhos. Toda a seção dedicada à obra de Goya é imperdível, especialmente as sombrias 'Pinturas Negras'. O monumental 'Las Meninas', de Velázquez, é outro ponto alto do acervo, que conta ainda com obras de El Greco, Rafael e Rembrandt.
Tomando o caminho de volta em direção aos corações turísticos da cidade, a Puerta del Sol e a Plaza Mayor, uma parada na Plaza Santa Ana é boa pedida. Menos turística que as vizinhas, mas bastante animada, ela é cercada por bares de tapas, bodegas e restaurantes, todos com mesas ao ar livre. 'Unas copas de vino rosado y unos pinchos' caem bem como combustível para prosseguir a maratona.
Mercado
Outro lugar fabuloso para tapear e bebericar é o mercado San Miguel, colado a uma das portas que dão acesso à Plaza Mayor. Tapas e pinchos de frutos do mar fresquíssimos disputam espaço com os jamons e um queijo de búfala que mais parece um creme de leite de tão cremoso. Tudo acompanhado por brancos e rosés gelados. Voltando em direção à Puerta del Sol estão o Museo del Jamón (uma rede de lanchonetes na qual se pode comer, entre outras coisas, um bocadillo de calamares - sanduíche de lulas empanadas) e uma filial da irresistível bombonière francesa La Cure Gourmande, com delícias para o paladar e os olhos. No primeiro caso, é possível imprimir no site um cupom que dá direito a uma degustação grátis.
Mercado de San Anton em Chueca, Madri (Foto: Divulgação)Mercado de San Anton em Chueca, Madri (Foto: Divulgação)
Na Puerta del Sol e cercanias, o comércio é o forte. Top Shop, El Corte Inglés e L'Occitane estão por ali. Já na Gran Via, perto da rua que dá acesso à praça, estão Zara, Mango, H&M e, para os amantes da leitura, uma das unidades da tradicional Casa del Libro. Na Calle Fuencarral, que corta a grande avenida, mais lojas e dois achados: o mercado Fuencarral, que atende aos gostos mais 'indies', e o outlet da Mango. À noite, uma opção de agito ali por perto é no bairro Chueca, dominado pela comunidade GLS. Nas proximidades fica outro mercado imperdível de Madri, o San Anton. Queijos, frutas, tapas, balbúrdia, drinques... Ah, os mercados da capital espanhola... 48 horas só para eles já seria pouco.
Para ir a Valladolid, é possível escolher entre avião, carro ou trem. Nos dois últimos casos, é possível parar em Segóvia no meio do caminho, a pouco menos de 90 km de Madri. A cidade, cercada por muralhas, tem como cartão de visita um fabuloso aqueduto do tempo do império romano (fim do século I).
Outros destaques são a bela e imensa catedral gótica tardia de N. Sra. de la Asunción y San Frutos (iniciada em 1525) e o palácio Alcazar, edificado no século XI, com sua coleção de tetos inusitados e uma magnífica vista do alto. Na cidade, onde conviveram cristãos, mouros e judeus, a arquitetura é rica e a gastronomia é bastante alardeada, mas oferece pouca diversidade. Boa parte dos restaurantes da cidade dedica-se aos assados e, mais especificamente, ao cochinillo, nome dado ao pequeno leitão que chega à mesa inteiro e crocante. O ritual consiste em partir a iguaria ao meio com um golpe dado por um prato, que em seguida é quebrado no chão. Espetáculo à parte, a iguaria é para os fortes e chegados a sabores rústicos.
Aqueduto romano é uma das atraçõe sprincipais de Segóvia (Foto: Dennis Barbosa/G1)Aqueduto romano é uma das atrações principais de Segóvia (Foto: Dennis Barbosa/G1)
Mais delicada é a sobremesa típica, o ponche segoviano, com massa semelhante à de um pão de ló polvilhada com açúcar. O recheio alto de creme lembra a tradicional crema catalana (irmã espanhola do crème brûlée), mas é gelado.
Não se esqueça, porém, que a gastronomia e os vinhos estão à sua espera em Valladolid. A cidade é uma boa base para explorar as cinco denominações de origem de vinhos dos entornos e harmonizá-los com o que há de melhor na produção local: jamón, queijo de ovelha fermentado com uvas verdejo (absolutamente obrigatório!), patês de cogumelos e fígado de ganso (servido com vinagrete doce, também imperdível).
O lugar indicado para degustar essas maravilhas é a enoteca Señorita Malauva, uma loja que assume ares de bar, já que se podem consumir lá mesmo as iguarias à venda, a maioria de produtores locais selecionados. Moderno e descolado, o lugar fica ao lado de outra loja, La casa del gusto, na qual se podem comprar delícias produzidas na região.
Com um povo simpático, Valladolid se orgulha de ser o berço da língua castelhana e onde melhor se pronuncia o idioma. Intitula-se também uma verdadeira 'cidade', enquanto Madri é apenas uma 'vila', brincam os locais, deixando transparecer certa rivalidade divertida. Há alguns belos parques, como o Campo Grande, e os 32 monumentos históricos ganham uma iluminação especial à noite, que lhes confere um charme adicional.
Os guias costumam ressaltar que foi em Valladolid também que morreu Cristóvão Colombo e que a cidade foi residência do escritor Miguel de Cervantes por muitos anos. A casa onde viveu o autor da obra-prima 'Dom Quixote' tornou-se um museu, que é aberto à visitação.

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