sábado, 1 de dezembro de 2012

MAIS UM ÊRRO DA CAÓTICA SAÚDE BRASILEIRA

Criança é levada a UPA com garganta inflamada e quase amputa a perna

Menino de 4 anos começou a passar mal após injeção de antibiótico.
Secretaria de Saúde de Meriti abriu sindicância para apurar o caso.

Janaína Carvalho Do G1 Rio

O que poderia ser uma simples ida ao médico em busca de tratamento para o filho de 4 anos para uma infecção de garganta se tornou um pesadelo para a dona de casa Angélica Soares da Silva Amorim, de 23 anos. Após tomar uma injeção de antibiótico na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São João de Meriti, o pequeno Luiz Miguel passou a sentir reações estranhas e, em menos de 24 horas, corria o risco de amputar a perna direita.

No dia 26 de outubro, Angélica levou o filho ao médico pela primeira vez para uma consulta, pois o menino estava com a garganta inflamada. Cinco dias depois, após tomar a medicação e não apresentar sinais de melhora, ela resolveu retornar à UPA do município.
“A médica me disse que era para continuar com a medicação em casa e que ela ia passar um antibiótico e que no dia seguinte ele ia estar bonzinho. Cheguei a perguntar se não tinha nenhum problema em função de alergias ao medicamento. Ela disse que não, que hoje em dia isso não acontecia mais e que atualmente não se faz mais o teste para ver se a criança tem alergia”, lembra Angélica.
Acreditando ser o melhor para o filho, ela concordou e deixou que aplicassem a injeção na criança. Segundo a mãe, apesar de saber que a injeção dói bastante durante a aplicação, o menino não pareceu sentir muitas dores nesta hora. “Assim que saí da sala e cheguei na recepção, ele começou a gritar que a barriga dele estava doendo e, em seguida, que a perna direita estava doendo muito. Eu colocava ele em pé e ele caía no chão”, diz Angélica.
Médica disse para a mãe que criança estava com 'manha'
De acordo com a mãe, apenas depois de uma hora a médica retornou para ver Luiz Miguel e, depois de examiná-lo, o colocou em observação. “Ela me disse que ele devia estar daquele jeito por ser a primeira vez que tomava a injeção e que acreditava que ele estava com um pouquinho de manha”.
Angélica com a filha de 2 anos no colo (Foto: Janaína Carvalho)Angélica com a filha de 2 anos no colo
(Foto: Janaína Carvalho)
Como toda mãe, ela não dormiu aquela noite e ficou monitorando o filho. Segundo Angélica, nenhum pediatra apareceu para ver como a criança estava durante a madrugada. Pela manhã, ao perceber que o pé do filho estava ficando amarelo e que a batata da perna e o pé estavam gelados, ela foi procurar a médica.

“A resposta que me deram foi que ele realmente tinha perdido um pouco do movimento e que não sabiam explicar o que tinha acontecido”, disse Angélica, afirmando que talvez todo o problema tivesse sido evitado se o filho tivesse recebido o atendimento adequado de imediato. Segundo ela, o conselho que recebeu na unidade foi que procurasse um hospital geral.
Foi terrível ver meu filho com a perninha toda aberta, naquele estado. Na hora dos curativos, mesmo ele estando sedado, ele gritava de dor"
Angélica Soares
Em nota, a secretaria municipal de Saúde de São João de Meriti informou que abriu sindicância para apurar o caso, mas que o resultado ainda não ficou pronto porque aguarda o relatório médico final sobre o diagnóstico e a evolução do quadro clínico da criança. A família de Luiz Miguel disse que pretende processar a prefeitura do município.

'O que ouvi naquele momento me deixou em choque'

Assim que chegou ao Hospital Adão Pereira Nunes, também conhecido como Hospital de Saracuruna, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Angélica afirma que não foi dada a devida atenção à situação do menino. “A enfermeira disse que o caso dele não era caso de emergência, que teria que passar pela triagem normal. O médico examinou, enfaixou a perninha dele e o deixou jogado”.

Quase 24 horas depois de ter tomado a injeção na UPA de São João de Meriti é que Miguel foi operado. De acordo com Angélica, assim que a cirurgiã vascular olhou para a perna e o pé do menino, disse que precisaria fazer uma cirurgia de emergência. “O que ouvi naquele momento me deixou em choque. Ela disse que meu filho estava fraco, mas se não fosse operado naquele momento ele correria o risco de perder a perna”, lembra a mãe, ressaltando que daquele momento o menino foi levado direto para a sala de cirurgia e depois para o CTI, onde ficou 25 dias.
Miguel já foi submetido a duas cirurgias, mas ainda deve ser submetido a outras duas. Na primeira cirurgia foi retirado o tecido morto da batata da perna, deixando buracos nesta parte do membro da criança. Três dias após, a mesma coisa aconteceu na parte das nádegas onde o menino tomou a injeção e ele teve que fazer uma nova operação. “Praticamente a perna do meu filho toda tinha tecido morto”.

Nos próximos dias, uma nova cirurgia será realizada no pé de menino, onde os médicos avaliarão se há ou não a necessidade de amputar dois dedos. Uma quarta cirurgia será realizada para retirar tecido da perna esquerda e enxertar nas nádegas, na coxa e na batata da perna direita.

Mesmo sedado menino gritava de dor
“Fiquei em estado de choque. Como pode um negocinho tão simples, uma dor de garganta que toda criança tem, levar a uma situação dessa. Foi terrível ver meu filho com a perninha toda aberta, naquele estado. Na hora dos curativos, mesmo ele estando sedado, ele gritava de dor".

De acordo com a mãe, os médicos do Hospital de Saracuruna ainda não souberam explicar qual foi o erro cometido na UPA de São João de Meriti, se a enfermeira atingiu uma artéria ao aplicar a injeção ou se o medicamento da injeção estava contaminado. “Eles não sabem explicar, mas eles sabem que as lesões foram causadas pela injeção”, afirma a mãe, que foi informada que só receberá um laudo médico após a alta hospitalar da criança.

Na segunda-feira (26), Luiz Miguel saiu do CTI pediátrico, o que deixou a mãe feliz, mas que não, necessariamente, significa o fim dos problemas. “Evito falar as coisas perto dele agora. Ele já entende e fica perguntando se vai poder andar e brincar como antes. Eu não sei o que responder”, afirma a mãe, ressaltando que ainda não sabe quais serão as sequelas físicas e emocionais que seu filho terá.

Para ela, que tem uma filha caçula de 2 anos, dá para pensar duas vezes antes de levar um filho ao médico daqui para frente. “Sempre fui o tipo de mãe que nunca quis automedicar o filho. Preferia levar ao médico mesmo em casos de uma simples dor de garganta. Agora não sei, confesso que dá medo”. Depois de quase um mês dormindo na cadeira do hospital ao lado da cama do filho, Angélica foi pela primeira vez em casa nesta sexta-feira (30).

Nenhum comentário:

Postar um comentário