Dilma e viúva de arquiteto receberam corpo na rampa do palácio.
Arquiteto morreu na quarta (5), aos 104 anos; corpo será enterrado no Rio.
Populares que fazem fila para o velório aplaudiram chegada do corpo ao Palácio (Foto: Lucas Nanini/G1)
O corpo de Oscar Niemeyer começou a ser velado às 15h50 desta
quinta-feira (6), no Palácio do Planalto, prédio projetado pelo próprio
arquiteto e sede do governo federal, em Brasília. O caixão chegou em
carro aberto do Corpo dos Bombeiros e subiu a rampa do palácio levado
por cadetes da Guarda Fúnebre da Polícia Militar e acompanhado pelos
Dragões da Independência, unidade que pertence ao Exército e faz a
guarda presidencial. Aplausos das pessoas que aguardam na fila para
acompanhar o velório marcaram a chegada do corpo.Oscar Niemeyer, que completaria 105 anos no dia 15, morreu às 21h55 de quarta (5), em decorrência de infecção respiratória, no Hospital Samaritano, no Rio. Ele estava internado no havia pouco mais de um mês. Após a morte, o corpo foi levado para ser embalsamado na Santa Casa de Misericórdia de Inhaúma, no subúrbio, de onde voltou ao hospital.
No Planalto, Dilma e a viúva de Niemeyer foram as primeiras a se aproximar para observar o corpo do idealizador do Palácio do Planalto e de outros monumentos de Brasília. A tampa do caixão não foi retirada. Apenas uma abertura de acrílico permite que se visualize a face do arquiteto.
O vice-presidente da República, Michel Temer, e os presidentes do Senado, José Sarney, da Câmara dos Deputados, Marco Maia, e do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, também foram se despedir de Niemeyer. Temer fez o sinal da cruz ao se aproximar do caixão.
Na sequência, se formou uma fila de autoridades no salão nobre do Planalto para prestar a última homenagem ao arquiteto famoso. A presidente Dilma se manteve o tempo todo, em pé, ao lado da cadeira onde estava sentada a viúva de Niemeyer.
Os ministros de Estado, parlamentares, governadores e prefeitos que compareceram ao velório cumprimentaram Vera Lúcia e manifestaram palavras de apoio. Por volta das 16h15, Dilma pediu que seu chefe de gabinete conduzisse a viúva ao terceiro andar do palácio, onde fica o gabinete presidencial. Em seguida, a própria presidente deixou o salão acompanhada da chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
O velório ficou aberto das 16h às 16h40 apenas para autoridades, jornalistas e familiares. Às 16h40 as portas do Planalto se abriram para o público que desejava prestar uma última homenagem ao arquiteto. Um fila de pessoas se formou na rampa de acesso ao salão onde ocorre o velório de Niemeyer.
Por volta das 21h, o corpo volta para o Rio, para velório no Palácio da Cidade, que só será aberto ao público a partir das 8h de sexta (7). Às 16h de amanhã, segundo Ana Lúcia Niemeyer, neta do arquiteto, haverá um ato ecumênico no mesmo local. O enterro será às 17h30, no São João Batista.
Dilma ao lado da viúva Vera Lúcia, durante o velório de
Niemeyer no Planalto (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
Este é o terceiro velório realizado no Salão Nobre do Palácio do
Planalto. O primeiro foi do ex-presidente Tancredo Neves, em 1985. O
segundo foi do ex-vice-presidente José Alencar, no ano passado.Niemeyer no Planalto (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
As primeiras flores que chegaram ao Planalto foram enviadas pela Presidência do Senado, pelo Comando da Aeronáutica e pela família do escritor Graciliano Ramos, autor do livro "Vidas Secas".
A presidente Dilma Rousseff, os ministros Aldo Rebelo (Esporte), Antonio Patriota (Relações Exteriores), Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrario), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Aloizio Mercadante (Educação), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), Alexandre Padilha (Saúde), Ideli Salvatti (Relações Insittucionais), Luís Inácio Adams (Advogado-geral da União), Miriam Belchior (Planejamento) Celso Amorim (Defesa) estão presentes.
Os governadores Agnelo Queiroz (Distrito Federal), Jaques Wagner (Bahia), Renato Casagrande (Espírito Santo) e o presidente do BC, Alexandre Tombini, também acompanham o velório. O prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, e o presidente do Senado, José Sarney, também estão presentes.
Cortejo
O corpo de Oscar Niemeyer chegou a Brasília às 14h18 desta quinta-feira (6), trazido do Rio de Janeiro em um avião da Presidência da República, e seguiu em cortejo em carro aberto até o Palácio do Planalto, passando pelo Eixão Sul e pela Esplanada dos Ministérios, onde estão as principais obras do arquiteto na capital do país.
O Palácio do Planalto foi inaugurado em 21 de abril de 1960, construído a partir de projeto de Niemeyer. No prédio fica o gabinete da presidente Dilma Rousseff. A construção começou em 10 de julho de 1958. A inauguração do palácio ocorreu em 21 de abril de 1960, como parte das festividades da inauguração de Brasília e marca a história brasileira por simbolizar a transferência da capital federal para o centro do País, no governo de Juscelino Kubitschek.
Segundo a assessoria do Planalto, a própria presidente Dilma Rousseff telefonou para a família do arquiteto, ofereceu as dependências do palácio, e a oferta foi aceita.
'Só falava em viver'
O médico Fernando Gjorup disse, na noite de quarta-feira, que Oscar Niemeyer conversou com a equipe médica sobre a vontade de realizar novos projetos, mesmo aos 104 anos. Segundo ele, o arquiteto só perdeu a consciência pela manhã, após ser sedado. O médico, que cuidou dele por 15 anos, afirmou que Niemeyer pouco falava sobre a saúde.
"Antes dessa internação, ele chegou a conversar com a equipe sobre novos projetos. Ele não gostava de falar sobre a saúde dele, mas sabia que já tinha passado da metade da vida. Ele nunca falou sobre morte, só falava em viver. A equipe médica tinha esperança, mas havia a fragilidade de um senhor de 104 anos", disse Gjorup.
Segundo a equipe médica, o arquiteto apresentou piora progressiva nos últimos dois dias. O arquiteto era submetido a hemodiálise e seu estado imunológico já era deficiente. Cerca de 10 familiares estavam na Unidade Coronariana do hospital quando Niemeyer morreu.
Repercussão
Em nota, a presidente Dilma Rousseff lamentou a morte de Niemeyer e disse que "poucos sonharam tão intensamente e fizeram tantas coisas acontecer como ele". "Niemeyer foi um revolucionário, o mentor de uma nova arquitetura, bonita, lógica e, como ele mesmo definia, inventiva". O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em nota divulgada pelo Instituto Lula, afirmou que Niemeyer "ficará sempre entre nós, presente nas linhas dos edifícios que plantou no Brasil e em todo o mundo".
Dezenas de outros políticos, arquitetos, artistas, apresentadores, jornalistas e personalidades brasileiras se manifestaram sobre a morte de Oscar Niemeyer.
Nesta quinta, Dilma Rousseff decretou luto oficial de sete dias. O decreto deverá ser publicado no "Diário Oficial da União" nesta sexta (7). Durante o período de luto, a bandeira nacional deve ser hasteada em meio mastro em todas as repartições públicas, estabelecimentos de ensino e sindicatos.
A lei prevê que, no caso de falecimento de autoridades civis ou militares, o governo pode decretar luto de, no máximo, três dias. A lei prevê, porém, que "em face de notáveis e relevantes serviços prestados ao país" pela pessoa falecida, o período de luto poderá ser estendido até no máximo sete dias.
Ainda nesta quarta (5), horas após a confirmação da morte, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, foi até o hospital para cumprimentar parentes do arquiteto. Ele disse que o último encontro com Oscar Niemeyer aconteceu há três meses. "Perdemos um grande brasileiro. Ele acreditou até o fim nos seus ideais. Jantei com ele há três meses e ele só falava de futuro", disse.
Paes decretou luto oficial de três dias no Rio. Em nota divulgada na noite de quarta, o prefeito lembrou as principais obras do arquiteto na cidade. "Um dos maiores gênios que o Brasil deu ao mundo, Oscar Niemeyer foi mais do que um arquiteto brilhante e inovador que desafiou a lógica e contorceu as formas para criar verdadeiras obras de arte. Ele construiu marcos e deixou a sua marca na paisagem e na história de nosso país. Carioca, ele tinha com o Rio de Janeiro uma relação especial - Niemeyer deu à Cidade Maravilhosa o templo da folia, onde a maior de todas as festas acontece", diz a nota.
"Como prefeito do Rio, apaixonado por Carnaval e admirador do trabalho de Niemeyer, sinto-me honrado por a cidade ter concluído o projeto original do Sambódromo e, com isso, ter podido realizar o que o próprio mestre chamou de um sonho antigo. O Brasil e o mundo perderam hoje um homem que dedicou toda a sua vida a produzir beleza. Mas o que ele criou ficará entre nós como a lembrança de um grande carioca que fez a diferença", concluiu o prefeito em seu comunicado.
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, decretou luto oficial de sete dias pela morte do arquiteto. Ao comentar a morte de Niemeyer, Agnelo afirmou que Brasília ficou órfã.
"Brasília chora por Niemeyer o mesmo choro sentido e saudoso dos órfãos. Pois é assim, filha, que a cidade sempre se sentiu em relação a Oscar. Nosso espírito urbano é tão forte e peculiar quanto as curvas que domam o concreto e se vestem do céu azul do cerrado, moldando a nossa paragem à imagem e semelhança do nosso grande e maior gênio arquitetônico. Muito por mérito dele, nós, brasilienses, temos a graça de habitar uma cidade-monumento patrimônio cultural da humanidade."
Histórico de internações
O arquiteto foi internado várias vezes ao longo dos últimos anos. Em 2006, ele teve de ficar no hospital por 11 dias após sofrer uma queda e passar por uma cirurgia.
Em 2009, o arquiteto ficou internado por 24 dias no Hospital Samaritano, entre setembro e outubro, após sentir dores abdominais. Ele chegou a passar por uma cirurgia para retirar um tumor no intestino grosso, uma semana depois de ter sido operado para a retirada de um cálculo na vesícula.
Em junho do mesmo ano, o arquiteto foi internado no hospital Cardiotrauma de Ipanema, também na Zona Sul, queixando-se de dores lombares. Ele passou por uma bateria de exames e recebeu alta médica algumas horas depois. Na ocasião, exames de sangue e uma tomografia indicaram que Niemeyer estava apenas com uma lombalgia.
Em 2010, Niemeyer também foi internado em abril, devido a uma infecção urinária.
Em abril de 2011, o arquiteto ficou internado por 12 dias por causa de infecção urinária. Também já foi submetido a cirurgias para a retirada da vesícula e de um tumor no intestino.
Em maio deste ano, Niemeyer também esteve internado, quando deu entrada com desidratação e pneumonia. Depois de 16 dias, com passagem pela UTI, recebeu alta.
No dia 13 de outubro, o arquiteto deu entrada no Hospital Samaritano após sentir-se mal, apresentando um quadro de desidratação. Ele ficou internado por duas semanas.
A última internação foi em 2 de novembro, quando voltou ao Samaritano, seis dias depois de ter recebido alta. Desta vez, Niemeyer foi submetido a tratamento de hemodiálise e fisioterapia respiratória.
Trabalho para festejar 104 anos
Autor de mais de 600 projetos arquitetônicos, Niemeyer decidiu festejar os seus 104 anos do jeito que mais gostava: trabalhando em seu ateliê de janelas amplas diante da Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio.
Em agosto de 2011, ele lançou o livro "As igrejas de Oscar Niemeyer" (Editora Nosso Caminho), na galeria de um shopping da Zona Sul do Rio.
Embora ateu convicto, o arquiteto selecionou fotos e desenhos das 16 obras religiosas, entre capelas e igrejas, que realizou ao longo de sua carreira.
"As pessoas se espantam pelo fato de, mesmo sendo comunista, me interessar pelas igrejas. E a coisa é tão natural. Eu morava com meus avós, que eram religiosos. Tinha até missa na minha casa. E eu fui criado num clima assim. Esse passado junto da família me deixou com a ideia de que os católicos são bons, que querem melhorar a vida e fazer um mundo melhor", explicou na ocasião.
Destaque na arquitetura mundial
Niemeyer foi um dos arquitetos mais premiados e influentes do mundo. Seu trabalho, sempre cheio de curvas em concreto que tornavam seu estilo inconfundível, marcou a paisagem urbana do Brasil e de outros países.
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