quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Primeiras impressões: Jac J2


Modelo chega por R$ 30.990 e traz motor e ar-condicionado valentes.
Instabilidade, câmbio e pedal molenga desanimam ao acelerar.

Priscila Dal Poggetto Do G1, em Mata de São João (BA)

Para entender como será a atuação da Jac Motors no Brasil nos próximos anos, sente-se no banco do novo J2, feche os vidros e ligue o ar-condicionado. Em um minuto as pontas dos dedos e do nariz sentirão o ar bem gelado que o compressor e o radiador escolhidos especificamente para o mercado brasileiro podem proporcionar. A sacada escondida por trás do potente climatizador está em amenizar o calor do Nordeste brasileiro, onde a montadora chinesa terá sua primeira fábrica "verde e amarela" e onde pretende concentrar a sua expansão de vendas.
Concorrentes Jac J2 (Foto: Editoria de Arte/G1)
“Nosso maior market share (participação de mercado) é o Nordeste”, destaca o presidente da Jac do Brasil, Sergio Habib. Neste ano, a marca prevê vender 19 mil carros no Brasil, contra os 24 mil em 2011, ano de sua estreia no mercado brasileiro. Para 2013, a previsão é de que o volume chegue a 25 mil carros, aliás, a cota que a Jac pode importar dentro das novas regras do governo. Desse total, de 8 mil a 10 mil unidades serão de J2, segundo Habib.
Jac J2 é a grande aposta da marca para 2013 (Foto: Divulgação)Jac J2 é a grande aposta da marca para 2013
(Foto: Divulgação)
A grande aposta da Jac, que chega às lojas em dezembro, custa R$ 30.990 e é um carro compacto completo: além do ar-condicionado, traz direção assistida eletricamente, vidros, trava central e retrovisores com acionamento elétrico, freios com ABS, airbag duplo, CD player com MP3, rodas de liga leve aro 14, faróis de neblina e sensor de estacionamento traseiro.
Por outro lado, ele já nasce com o futuro comprometido: quando o Jac brasileiro estrear no fim de 2014, a chance de o J2 não ser mais importado é enorme. “Vai depender de como o novo carro vai entrar em concorrência”, diz Habib.
Mesmo com o risco de viver por pouco mais de 2 anos no mercado nacional, a Jac investiu bastante no carro e fez diversas mudanças para o compacto ficar superior ao modelo vendido na China. Design, motor, itens de série, revestimento interno, quadro de instrumentos, materiais para isolamento acústico, coxins, câmbio, direção elétrica, suspensão, freio, rodas, sistema de escape, bancos: tudo foi mudado. Só os faróis são os mesmos na China.
Visual do J2 vai para o lado oposto do retrô: ele quer ser moderno (Foto: Divulgação)Visual do J2 vai para o lado oposto do retrô: ele
quer ser moderno (Foto: Divulgação)
Contra ‘retrô’
O J2 tem proposta semelhante a de compactos diferentes como o Fiat 500 – seu desenho foi criado, inclusive, por um estúdio italiano. É pequeno, tem visual descolado e é recheado de itens de série. A própria montadora aponta o 500 como um concorrente. Mas para ter seu diferencial nesse nicho, a chinesa aposta em preço e na antítese do “retrô”.
Diferentemente do compacto charmoso da Fiat, a Jac quis um carro com as linhas mais modernas possíveis. Destaque para grade e pára-choque dianteiros e para as lanternas. Internamente, esse apelo ganha peso maior. O console central tem fibra de carbono nos detalhes e linhas circulares (influências dos modelos da Mini, pelo jeito). No quadro de instrumentos, a iluminação indireta é azul.
Bancos dianteiros do J2 (Foto: Divulgação)Bancos dianteiros do J2 (Foto: Divulgação)
O acabamento se mostra muito agradável, tirando a fragilidade de algumas peças, como a de abertura da porta e das saídas de ar. Fora isso, o carro tem acabamento bom e detalhado.
Há ainda espaço suficiente para abrigar motorista e mais três passageiros confortavelmente (o carro tem quatro portas). A Jac diz que o modelo tem capacidade para levar 5 pessoas com conforto, mas não é bem assim. Dá para rodar com o carro cheio, mas não há folga para se esticar muito, dependendo do tamanho das pessoas. Mas acomoda muito bem quem tem estatura alta. O J2 tem a vantagem da altura, 1,47 m (ele é 1 cm mais alto do que o J3), quesito que o Fiat 500, por exemplo, perde.
Já o porta-malas não é grande coisa – tem capacidade para 121 litros —, mas os bancos podem ser rebatidos, o que reserva mais espaço caso não vá ninguém no banco de trás.
Motor animado e dança aos 100 km/h
O G1 avaliou o J2 por trechos urbanos e estradas que ligam Salvador ao município de Mata de São João, na Bahia. Não precisa andar muito para sentir pontos positivos e negativos do carro. Ao engatar, o câmbio mostra encaixes pouco precisos, o que incomoda na troca de marchas até achar o “jeitão do carro”.
Motor é um dos destaques positivos do Jac J2 (Foto: Divulgação)Motor é um dos destaques positivos do Jac J2
(Foto: Divulgação)
O pedal do acelerador é bem molenga, o que diminui a sensibilidade do pé. Por causa disso, o “pedal de alface” é extremante incômodo para quem não gosta de carro mole. Já para quem gosta, é mais fácil de se adaptar ao estilo do hatch. Característica muito comum entre os chineses, inclusive.
Surpreendente mesmo é o motor. Ele supera as expectativas e mostra que tem talento para conduzir o carrinho com esperteza. O propulsor que equipa o J2 no Brasil é o 1.4 VVT 16V (na China é 1.0) de 108 cavalos de potência a 6.000 rpm e 13,8 kgfm de torque a 4.500 rpm. Acelerações, ultrapassagens e retomadas são feitas tranquilamente. É um carro leve, fácil de manobrar – a direção elétrica é bem confortável e precisa — e não faz feio na estrada.
O problema é que o resto do corpo do J2 não aguenta a pulsação de seu coração. A 100 km/h já se sente o carro balançar, o que obriga o motorista a corrigir o tempo todo a direção. Qualquer corredor de vento e desnível no solo deixa o motorista inseguro. Fazer curvas também sempre exige que o pé se afaste do acelerador. A suspensão do J2 é mole demais e, assim, sua estrutura não aguenta fortes emoções.
Acabamento interno foi caprichado (Foto: Divulgação)Acabamento interno foi caprichado
(Foto: Divulgação)
Conclusão
O ex-presidente Lula falou em 2010 que “as pessoas estão trocando jegue por motocicleta” no Nordeste. A Jac traz agora o argumento para elas trocarem as motos por um ar-condicionado com quatro rodas e um volante.
Muitas características antes bem criticadas nos carros chineses começam a ser superadas, como desempenho e acabamento. Outros pontos continuam bem críticos, como a falta de estabilidade. Mesmo assim, para quem precisa de um carro urbano, a quantidade de itens de série disponíveis – o que inclui ABS e airbags — aliada ao preço ainda competitivo (mesmo com o IPI mais alto) torna o J2 uma opção a ser considerada, especialmente por quem compra o primeiro carro.

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