quinta-feira, 1 de novembro de 2012

'Casa da Morte' em Petrópolis, RJ, teria recebido mais de 100 pessoas


Depoimento de sargento reformado confirma várias mortes no local.
Segundo ele, cerca de 100 presos políticos teriam passado pela casa.

Andreia Constâncio Do G1 Região Serrana

Casa da Morte, no bairro Caxambu, em Petrópolis (Foto: Andreia Constâncio)Casa da Morte, no Caxambu (Foto: Andreia Constâncio)
O depoimento do sargento reformado Marival Dias Chaves do Canto, de 65 anos, ex-agente dos órgãos de informação do regime militar, na últiam terça-feira (30), na Comissão da Verdade, confirmou a existência da "Casa da Morte", no bairro Caxambu, em Petrópolis, Região Serrana do Rio.
Segundo ele, cerca de 100 presos políticos teriam passado pelo "aparelho" clandestino mantido pelo Centro de Informações do Exército (CIE) que funcionava, no início da década de 1970, na Rua Arthur Barbosa, 668. Até então, a versão mais aceita era de que teriam passado pela casa 22 pessoas.
Em seu depoimento, Marival do Canto confirmou a versão de que os presos, levados de diversas regiões do país, eram assassinados depois de prestar depoimentos sob tortura. O sargento não confirmou as revelações feitas pelo ex-delegado capixaba Cláudio Guerra, de que alguns corpos teriam sido incinerados em uma usina de cana em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. No entanto, admitiu a ligação de Guerra com Freddie Perdigão, considerado um dos mais frios e ativos torturadores do regime.
Entre as vítimas que passaram pela Casa da Morte, Marival citou os universitários Fernando Santa Cruz e Eduardo Collier, que desapareceram em 1974, no Rio, quando militavam na Ação Popular Marxista Leninista (APML). No dia 23 de fevereiro daquele ano, Fernando saiu da casa do seu irmão Marcelo para um encontro com os amigos e nunca mais foi visto. Ele teria sido capturado no apartamento de Eduardo. No depoimento, Marival disse que os estudantes foram presos por uma equipe do CIE liderada pelo então major Freddie Perdigão e, depois, mortos em Petrópolis.
Em agosto deste ano, um decreto do prefeito de Petrópolis,  Paulo Mustrangi (PT/RJ),  tornou o imóvel onde funcionou a Casa da Morte uma área de utilidade pública para fins de desapropriação. A proposta é transformar o local em um museu para servir “de exemplo para que nunca mais atos de violações de direitos sejam postos em prática no Brasil”, como afirmou na época Mustrangi. A Prefeitura e representantes de entidades do município tentam formas de buscar verbas para transformar o local em um centro cultural e museu.
Comissão da Verdade
A chamada "Comissão da Verdade" foi instalada pela presidente Dilma Rousseff no dia 15 de maio deste ano, na presença de ex-presidentes da República e diversas outras autoridades e membros do Poder Judiciário, da Câmara dos Deputados e do Senado. Ela vai passar os próximos dois anos apurando violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar.
A comissão deverá colaborar com todas as instâncias do poder público na apuração da violação de direitos humanos, além de enviar aos órgãos públicos competentes todo e qualquer dado que possa auxiliar na identificação de restos mortais de desaparecidos.
A ela também competirá identificar os locais, estruturas, instituições e circunstâncias relacionadas à prática de violações de direitos humanos e suas eventuais ramificações na sociedade e nos aparelhos estatais.
A comissão também poderá convocar vítimas ou acusados das violações para depoimentos, ainda que a convocação não tenha caráter obrigatório e também a ver todos os arquivos do poder público sobre o período, mas não terá o poder de punir ou recomendar que acusados de violar direitos humanos sejam punidos.

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