Henrique Mendes A TARDE
Dentre as queixas destacadas por banhistas, ciclistas, esportistas e comerciantes entrevistados pela reportagem, a falta de segurança desponta como a mais grave. "Se eu escrever de caneta o número de assaltos que teve aqui, o papel chega fácil em Feira de Santana (centro-norte baiano, a 108 km de Salvador)", brincou Ricardo Santos, 30, funcionário de um restaurante a la carte localizado na orla da Pituba, bairro nobre da capital. Há sete anos trabalhando no estabelecimento, o profissional já não se surpreende com carteiras roubadas, relógios furtados e mochilas de turistas arrastadas. "Isso acontece diariamente. No final de semana, então, não precisa nem falar", acrescenta Ricardo, em tom de resignada naturalidade.
Ao longo da orla, os problemas se multiplicam. Banhistas, por exemplo, relatam que as manilhas de esgoto que ficam abaixo do calçadão entre a Barra e Itapuã, com bocas abertas para a areia da praia, estão servindo como esconderijo de usuários de drogas. A estudante Camila Martinez, 23, por exemplo, já identificou menores de idade consumindo crack, enquanto caminhava pela orla durante uma manhã de domingo. "Me sinto insegura ao fazer esses passeios. Acredito que isso decepcione os turistas que esperam ter lazer em Salvador ", opina.
Já no bairro Costa Azul, também na área nobre da cidade, foram identificadas algumas moradias clandestinas erguidas em plena margem de areia. Uma delas está localizada nas proximidades do Parque Costa Azul, em frente ao restaurante Caranguejo de Sergipe. Na residência improvisada, sem ocupantes durante a visita da reportagem, uma lona com propaganda política assume função de telhado e algumas estacas funcionam como paredes. Com estrutura parecida, metros a frente, outra barraca abriga um cachorro em seu quintal de areia.
Segurança - Os problemas que envolvem a má oferta de segurança, infraestrutura, iluminação, limpeza e áreas de lazer se espalham pelas demais regiões da orla, inclusive na cidade baixa da capital.
Quanto à falta de segurança, maior queixa dos entrevistados, a Polícia Militar da Bahia (PM-BA) informou que cinco companhias independentes empregam juntas, diariamente, cerca de 80 duplas de policiais militares em ações ostensivas a pé, como também em viaturas no radiopatrulha.
Ainda segundo o comando da PM, o patrulhamento conta com o apoio de guarnições do Esquadrão de Motociclistas Águia e da Rondesp/Atlântico. Para reforçar a segurança de quem percorre os pontos mais movimentados da orla, a PM esclarece que desenvolve operações específicas como a "Operação Cooper" e "Corredor Turístico de Salvador", que permitem um aumento do efetivo nas principais praias.
Prefeitura culpa a justiça - A Prefeitura de Salvador argumenta que a atual gestão municipal apresentou à cidade um projeto de revitalização de toda a orla, prevendo inclusive um novo padrão e disciplinamento para as barracas de praia. Ainda conforme a administração municipal, a execução do projeto foi impedida por uma determinação judicial, que teria obrigado, inclusive, a derrubada das antigas barracas e a proibição da ocupação desses espaços com novas construções. A Prefeitura, através da assessoria de comunicação, alega que apresentou uma nova proposta para a revitalização da Orla, que depende da aprovação da Justiça Federal.
Para o próximo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), o atual administrador municipal, João Henrique, por meio de sua assessoria, afirma que "deixa como herança um projeto de revitalização físico-urbana que vai modernizar, disciplinar e transformar a orla em um atrativo turístico e em um espaço de esporte e lazer para os soteropolitanos". Ao mesmo tempo, acrescenta que enviou à Câmara um conjunto de propostas que devem garantir uma legislação capaz de permitir a ocupação ordenada e consistente da Orla. "Não temos dúvidas que essas duas iniciativas farão da Orla de Salvador, uma das mais bonitas do país", afirmou por meio de nota.
O prefeito eleito ACM Neto, por meio de sua assessoria, afirmou que a sua equipe de gestão irá negociar com a Justiça Federal, Ministério Público e todos os órgãos envolvidos no impasse sobre as barracas de praia, as soluções para definir um projeto de requalificação da orla.
Por meio de nota, a assessoria do democrata pontuou que o que for urgente, emergencial e só dependa da prefeitura será resolvido de imediato. Do que pode ser ajustado logo no início do governo, o prefeito eleito destaca a regularização da limpeza, investimento em iluminação, presença da guarda municipal e de salva-vidas nas praias, além de cuidado com as praças, áreas verdes e equipamentos de lazer que envolvam a orla.
Mais à frente, ACM Neto diz que pretende ampliar calçadões, onde for possível, e implantar uma política de incentivos fiscais para atração de investimentos como bares, restaurantes e hotéis. Na última terça-feira, 27, em Nova Iorque, o prefeito eleito anunciou a criação da agência de atração de investimentos Salvador Negócios, que vai aproveitar eventos como a Copa das Confederações e Copa do Mundo para atrair empreendimentos, inclusive na orla da cidade.
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