domingo, 29 de julho de 2012

Produtores aprendem a conviver com doença em bananais de SP


Doença da bananeira vinda do Oceano Pacífico mudou o perfil do produtor.
Quando a sigatoka negra apareceu, muitos acharam que seria o fim.

Do Globo Rural

Difícil cruzar o Vale do Ribeira em São Paulo e não encontrar um bananal. São 36 mil hectares plantados com as variedades nanica e prata e uma produção de 900 mil toneladas por ano.
Os produtores locais podem se considerar vencedores: conseguiram ganhar uma batalha que foi dada como perdida quando surgiram os primeiros registros da sigatoka negra na região.
A sigatoka negra é causada pelo fungo mycosphaerella fijiensis, que é transportado pelo vento. Ele pode percorrer até 70 quilômetros de distância e desenvolve-se bem em condições de alta temperatura e umidade elevada. A infecção se dá com a chegada de esporos na folha vela ou charuto, que é a mais nova.
A doença assustou até quem já está no ramo há mais de 40, como José Teixeira. Os baninicultores pensaram que teriam que largar a cultura. E é comum ver bananais inteiros abandonados ao longo da estrada, alguns até com frutos.
Em uma bananeira é possível observar que ela até conseguiu formar um cacho, mas por causa do fungo, ele está perdido. É que a banana para crescer e amadurecer precisa das folhas, que transformam a energia do sol em açúcares no processo conhecido como fotossíntese. Com as folhas assim, a banana não cresce e deste tamanho, comercialmente não tem valor nenhum.
bananal (Foto: Reprodução)Avião pulveriza bananal
Foi preciso muito estudo para encontrar o jeito certo de lidar com a sigatoka negra, considerada a mais séria e destrutiva doença da bananeira. Várias pesquisas foram feitas na Apta, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios. Em uma delas, foram cultivadas 1.900 plantas, de cinco maneiras diferentes, variando o espaçamento e os tratos culturais.
Depois de três anos, a conclusão: o adensamento ideal ficou em 2.500 plantas por hectare, com espaço de dois metros entre as plantas.
Nos tratos culturais, o resultado mostrou que não foi possível controlar a doença sem fungicida e que a prática de desfolha, que é a retirada das folhas mais velhas, é fundamental.
E é de olho nas folhas que está o controle da sigatoka negra. A técnica do monitoramento foi trazida dos países da América Central, onde o ataque da doença está bem avançado. O sistema permite que o produtor saiba exatamente o momento de fazer a aplicação do fungicida. A técnica usa um esquema de pontuação para avaliar se as lesões estão mais ou menos graves.
Em um bananal de 50 hectares, são selecionadas 10 plantas que serão monitoradas desde o surgimento da folha vela até o lançamento do cacho. A observação será feita nas folhas dois, três e quatro. Toda semana, é preciso ver se surgiram lesões e em que estágio elas estão.
Em uma fazenda considerada modelo no cultivo de banana, a produtividade média é de 60 toneladas por hectare por ano, enquanto que o número da região é de 24 toneladas por hectare. Ao contrário do que a gente podia imaginar, lá também tem sigatoka negra, só que o produtor aprendeu a conviver com ela.
Silvio Romão acompanha a avaliação do agrônomo José Carlos de Mendonça. Os números são anotados na própria planta e depois levados para o computador. Quando o gráfico aumenta dois pontos é hora de pulverizar de novo.
Os números mostram que a técnica do monitoramento está dando certo no Vale do Ribeira: enquanto na Costa Rica são necessárias 52 pulverizações por ano e no Equador 32, aqui os produtores estão conseguindo segurar a agressividade da doença com 10 aplicações por ano.
O investimento mostra que o uso da tecnologia e o empenho do produtor podem afastar até a mais assustadora das ameaças.
Uma boa drenagem do solo também ajuda no controle da sigatoka negra. Os técnicos recomendam fazer uma vala no bananal para o escoamento da água.

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