sexta-feira, 29 de junho de 2012

Americanos 'descobrem' beisebol no RS e ensinam o esporte aos gaúchos


A prática do beisebol no RS teve a influência dos americanos

Por GLOBOESPORTE.COM Porto Alegre

Beisebol, um dos esportes mais populares dos Estados Unidos. Já no Brasil, nenhuma tradição. Mas foi aqui, na terra do futebol, que alguns americanos iniciaram profissionalmente no esporte 'gringo'. No Rio Grande do Sul, eles são responsáveis por iniciar e expandir os clubes e a liga gaúcha de beisebol, que já conta com 10 times espalhados pelo estado.

Douglas Limbach veio pela primeira vez para o Brasil em 2001 para um programa de trainee e fixou residência em Porto Alegre desde 2003. Antes disso, nos Estados Unidos, nunca tinha praticado o esporte tipicamente americano de uma forma mais séria. O encontro com o beisebol aconteceu somente em 2008, quando passeava pelo Parque da Redenção. A equipe do Farrapos, a segunda mais antiga do estado, criada em 2006, treinava para um torneio em São Paulo e acabou chamando a atenção de Douglas.
- Parei para assistir e fiquei aguardando que uma bola passasse por perto para eu poder atirar de volta para eles e mostrar um pouco de habilidade, esperando que me convidassem para jogar. Funcionou - relembra Douglas, que é historiador e atualmente dá aulas de inglês em Porto Alegre.
Farrapos no Torneio Nacional Amador de Beisebol 2011 (Foto: Arquivo Pessoal)Farrapos conquistou o quarto lugar no Torneio Nacional Amador de Beisebol de 2011. (Foto: Arquivo pessoal)


Naquele dia, Douglas, que escolheu Porto Alegre para morar por opção, iniciou os treinamentos com o Farrapos e logo viajou para o torneio nacional que aconteceria em São Paulo duas semanas depois. Hoje, ele é o dirigente do time, o representante na comissão da Liga e o capitão da equipe.
O Farrapos também foi o clube que recebeu Christan Shirk em 2007, um ano após se mudar para o Rio Grande do Sul para se casar com uma gaúcha. Naquele ano, Christan conheceu o projeto de outros dois americanos que ensinavam o esporte em um bairro pobre de Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Junto desses dois missionários, Lee Geiger e Steve Everett, criou em 2008 o Cerâmica, que firmou parceria para fornecimento de uniformes e utilização de espaço físico com o clube de futebol de mesmo nome na cidade.
Inicialmente, a equipe era formada apenas por americanos. Mas a ideia dos três fundadores era 'abrasileirar' o time, ensinando o beisebol aos moradores da região.
Christan Shirk, jogador do Cerâmica (Foto: Divulgação/Cerâmica)Christan Shirk retornou para os EUA em 2011
(Foto: Divulgação/Cerâmica)
- Esse sempre foi o nosso objetivo. O projeto de ensinar o esporte na comunidade tinha como alvo conseguir formar também um time somente de brasileiros. Ter uma equipe de americanos não estava nos planos iniciais, mas acabou acontecendo e foi bem divertido para nós - explica Christan.
Atualmente, o Cerâmica não conta com mais nenhum jogador namericano no plantel regular, apesar de alguns da formação inicial ainda treinarem e praticarem com o time de vez em quando. O próprio Christan deixou o Brasil em 2011 por questões pessoais e retornou aos Estados Unidos. Ainda assim, a quilômetros de distância, segue envolvido com o clube, agora com a parte administrativa. Além de uma constante assessoria esportiva aos jogadores que seguem no time, ele também é o responsável pela área da comunicação, atualizando o site e as redes sociais da equipe, além de encaminhar releases e comunicados à imprensa.
O beisebol no Rio Grande do Sul
Oficialmente, o beisebol no estado surgiu apenas em meados de 2006, com a criação do Farrapos, de Porto Alegre, e do Bromos, de Pelotas. Desde lá, outros oito clubes já foram criados, aumentando a diversidade no estado e a competitividade na disputa regional. No início, muitos se formaram a partir de jogadores que saíram da Farrapos, como o Seinenkai, o Chimangos e o Maragatos, criado no ano passado.
Para Douglas Limbach, essa "dispersão" é motivo de orgulho para o time:
- O Farrapos acaba sendo a base da Liga Gaúcha, já que a maioria dos jogadores que fundaram os outros times vieram do Farrapos. Nós temos orgulho de estar ajudando o esporte a crescer. Todos os anos, desde que comecei a jogar, vejo jogadores fundando os seus próprios times e isso é muito bom para a competição.
Apesar do beisebol ter evoluído em termos de participantes nestes seis anos, ainda há muito para crescer, especialmente no que diz respeito ao apoio financeiro e organização da liga, na visão de Christan Shirk. Os atletas acabam se envolvendo com o esporte apenas por amor à prática. Os treinos e jogos são conciliados no tempo livre depois do trabalho, estudos e família.
- O beisebol gaúcho ainda está em processo de desenvolvimento. Acredito que esse crescimento poderia ser mais rápido ou, pelo menos, mais constante se houvesse uma melhor organização administrativa do campeonato estadual e se a área de divulgação e marketing tivesse mais força. Claro, também faltam patrocinadores, mas isso deverá vir mais fácil quando a organização e divulgação melhorarem - diz Christan.
Equipe do Farrapos Beisebol (Foto: Arquivo Pessoal)Equipe do Farrapos em evento no Dia das Crianças
(Foto: Arquivo Pessoal)
Além do trabalho e dedicação na divulgação e organização dos clubes, os atletas também precisam realizar a compra dos materiais específicos para a prática do esporte. Além dos uniformes e das peças de proteção, são necessários tacos, bolas e luvas. E os artefatos custam caro, ainda mais se for preciso comprá-los no Brasil. Os preços podem ser até cinco vezes maiores, o que obriga os clubes a importarem os equipamentos. Neste caso, a vantagem de se ter estrangeiros no time. No Farrapos, muito do material foi comprado por Douglas Limbach nos Estados Unidos.
- Eu compro nos Estados Unidos e trago para cá. Outros jogadores tentam comprar pela internet aqui no Brasil ou trazem de fora do país. Algumas coisas temos que comprar por aqui, mas o preço é muito mais caro - explica.
Outros esportes
Não é apenas o beisebol que ocupa as preferências dos norte-americanos no Rio Grande do Sul. No caso de Douglas Limbach, outro esporte "gringo" também o deixa apaixonado: o futebol americano. E, curiosamente, a prática também começou no Brasil com o Porto Alegre Pumpkins, equipe da capital gaúcha.
- Joguei com eles na temporada 2010, fui titular em três partidas e até marquei um touchdown. Mas com a dificuldade de conciliar dois esportes diferentes, acabei optando pelo beisebol - relata.
Já Christan Shirk prefere fugir do tradicional e, assim como pratica beisebol no Brasil, país sem tradição nesse esporte, prefere jogar futebol nos Estados Unidos. A explicação, para ele, é lógica:
- Estou abaixo dos padrões brasileiros para o futebol, então aproveito para jogar nos Estados Unidos porque aqui não sou considerado tão ruim. Já no Brasil, pratico o beisebol, onde acontece o mesmo. Parece irônico, mas faz sentido.
Douglas Limbach e Christan Shirk, jogadores de beisebol (Foto: Divulgação/Cerâmica)Douglas Limbach, do Farrapos, e Christan Shirk, do Cerâmica (Foto: Divulgação/Cerâmica)
Onde acompanhar
Os treinos do Cerâmica acontecem na Sede Campestre do Enkyô Sul, na RS-118, km 11, em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Os encontros normalmente acontecem no período da manhã nos finais de semana.
Já o Farrapos treina no campo do Parque Guaíba, perto do Gigantinho, em Porto Alegre. A equipe costuma se reunir às 9h30min em todos os domingos. Quando chove, não há treino. No caso dos dois times, os treinamentos são abertos à comunidade, para quem tiver interesse em conhecer mais sobre o esporte ou ainda integrar alguma das equipes.

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