Agricultores de MS fazem treinamento para vender produtos pela internet

Ação faz parte de um programa federal voltado à agricultura familiar.
Especialistas dizem que a iniciativa deve trazer crescimento ao setor.

Do G1 MS

Rosa (direita) afirma que vernder pela internet será mais uma forma de escoar a produção da cooperativa em que trabalha (Foto: Helder Rafael/G1 MS)

O programa Rede Brasil Rural, do governo federal, quer colocar a internet na rotina das famílias que trabalham com a agricultura familiar de forma que, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, os produtos colhidos passarão a ser vendidos on-line. Para aprender a mexer com os sistemas que tornarão o projeto realidade, agricultores de Campo Grande já cadastrados no programa passaram por um treinamento na segunda-feira (28). No interior, a capacitação acontece nesta terça-feira (29) e quarta-feira (30).

Rosa Maria da Silva faz parte de uma cooperativa de agricultores familiares em Campo Grande e disse ao G1 que será fácil se adaptar à nova forma de comercializar as verduras e legumes que ela e os colegas plantam. “Todos sabem mexer na internet. Quem não tem computador se ajeita com as lan houses de perto de casa”, relata.
Atualmente, segundo ela, os produtos são comercializados em feiras ou vendidos a supermercados, o que tornava as opções para escoar a produção limitadas. “A gente não tem muita perna pra sair fazendo os contatos e oferecendo os produtos. A internet vai ampliar a nossa comercialização”, afirma.
No entando, de acordo com a produtora, algumas ferramentas de acesso informadas durante o treinamento são diferentes das que ela já havia aprendido durante outras reuniões sobre o programa as quais participou. "Mas como o consultor explicou, ainda estamos em uma fase de adaptação, faz parte”, afirmou.
Conforme a produtora, o próximo passo será a criação da página da cooperativa na rede. “Nosso presidente que vai administrar nossa página. Vai existir uma senha para toda a cooperativa, mas para qualquer tipo de movimentação, venda, ou algo desse tipo, a diretoria tem que ser informada”, explicou.
Ainda segundo Rosa, uma espécie de treinamento interno da Organocoop será realizado. “Todos foram avisados que aconteceria essa capacitação, mas poucos compareceram. Mais para frente, nosso presidente vai prever um treinamento para que todos possam aprender a mexer”, disse.

Segundo Rosa, rede vai ampliar a comercialização e produtores não vão ficar mais presos às feiras. (Foto: Helder Rafael/G1 MS)

Distante
Maria Pereira Alves Costa faz parte de uma cooperativa de 13 mulheres em Santa Terezinha, distrito da cidade de Itaporã, a 225 km de Campo Grande, onde o treinamento acontece somente na terça-feira. Segundo ela, mesmo sem saber como será a capacitação, haverá dificuldades em aprender a lidar com o programa, visto que só ela sabe mexer nas máquinas. “No início vai ser sofrido para aprendermos”, relata.
No entanto, a produtora diz prever benefícios para a cooperativa. “Só eu e mais uma integrante do grupo sabemos usar o computador, mas mesmo assim vai ser muito bom. Só temos a ganhar com isso”, afirma.
De acordo com Maria, além da facilidade para vender seus produtos, a associação também será beneficiada na hora de comprar, visto que prendem usar a internet para isso. “Nossas embalagens, que vem do Paraná, poderão ser compradas com mais facilidade ou até poderemos achar fornecedores mais baratos, assim como o insumo que usamos nas goiabas”, afirma.

Quem conseguir trabalhar com isso, vai ter um grande ganho"

Carlos Eduardo Cordeiro, analista técnico

O que dizem os especialistas
O analista técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Mato Grosso do Sul (Sebrae/MS), Carlos Eduardo Cordeiro, disse ao G1 que, do ponto de vista empreendedor, os maiores beneficiados com a internet são os produtores das cidades mais distantes dos grandes municípios do estado.
“Não vejo perda alguma. A capacidade de vender coletivamente, de poder encontrar o cliente de uma outra forma. Hoje os produtores da Agricultura Familiar ainda dependem de atravessadores, mas com essa mudança, não mais. Quem conseguir trabalhar com isso, vai ter um grande ganho”, explica.
Ponto negativo, segundo ele, seria a dificuldade em mexer com os computadores e entender como funcionará a lógica das vendas on-line. “Alguns trabalhadores podem ter uma dificuldade com a internet. Muitos são até analfabetos. No entanto existem outros preparados que podem se beneficiar. Não é uma ferramenta que vá agradar a todos, mas é necessária. A partir do momento que os produtores têm conhecimento, as vendas aumentam e assim a renda familiar deve aumentar também”, diz.

Capacitação de produtores em Campo Grande
(Foto: Leandro Abreu/G1 MS)

Como vai funcionar
O coordenador da Secretaria de Agricultura Familiar do MDA, Marco Antônio Viana Leite, disse ao G1 que o site já está funcionando, mas somente para fazer pesquisa. Por meio dele, o internauta digita o nome de um determinado produto e vai aparecer uma lista com todos os fornecedores daquele item e seus respectivos contatos.
“A partir de julho deve ser aberto o acesso ao Armazém Virtual, em que a pessoa entra, faz a busca, efetua a compra e já contrata o frete”, disse.
Para que o projeto dê certo, conforme o coordenador, as cooperativas, associações e agroindústrias relacionadas à agricultura familiar devem se cadastrar no portal para compor o banco de dados. Atualmente, segundo ele, 457 destes já estão inscritos.