domingo, 29 de abril de 2012

'Faço cada filme como se fosse o único', diz Cacá Diegues


Cineasta vai receber homenagem do Cine PE, neste domingo (29).
Festival lembra 50 anos de carreira, marcada pela criação do Cinema Novo.

Do G1 PE

O cineasta Cacá Diegues é um dos homenageados da 16ª Edição do Cine PE Festival do Audiovisual, que segue até a próxima quarta (02), no Centro de Convenções, em Olinda. O evento vai celebrar os 50 anos de carreira do alagoano, um dos fundadores do Cinema Novo, que afirma, após tantas décadas, continuar produzindo “com a mesma euforia de um primeiro filme e a urgência de um último. Como se fosse o único”. Ele receberá a Calunga Dourada neste domingo (29), a partir da 20h, na programação da Mostra Competitiva.
Cacá Diegues (Foto: Divulgação)Cacá Diegues vem ao Recife receber a Calunga Dourada, homenagem do Cine PE (Foto: Divulgação)
Alfredo Bertini, realizador do Cine PE, disse ter escolhido Cacá Diegues, que será homenageado junto com o cineasta Fernando Meirelles e o ator Ney Latorraca, pelo fato de ele ser um nome nordestino de peso, que fez filmes importantes, com aceitabilidade da crítica e do público. “São 50 anos fazendo o mais genuíno e verdadeiro cinema brasileiro, cinema com a cara do Brasil, pois trabalhou temas de importância histórica e literária”, falou Bertini.
Em entrevista ao G1 por email, Diegues, no entanto, não soube definir essas cinco décadas de labuta cinematográfica. “Nunca trabalhei como quem constrói uma obra. Sempre fiz meus filmes pensando no tempo presente e no que eles poderiam significar para os outros naquele momento”, comentou.

Assim, Cacá foi elaborando uma filmografia afinada com seus princípios e, talvez por isso mesmo, bastante premiada, como os filmes “Orfeu” (1999), “Tieta do Agreste” (1995), “Veja esta canção” (1994), “Dias melhores virão” (1989), “Bye bye Brasil” (1979) e “Xica da Silva" (1976). Este último, inclusive, vai ser exibido durante o festival, na Mostra Especial da terça (1º), às 16h. A entrada é gratuita.
Filme 'Xica da Silva' (Foto: Divulgação)Zezé Motta como 'Xica da Silva' (Foto: Divulgação)
O longa conta a saga de uma escrava, interpretada pela atriz Zezé Motta, que se tornou a primeira dama negra da história do país. O filme, clássico de 1976, fez parte do Programa de Restauro da Cinemateca Brasileira, do Ministério da Cultura. O lançamento aconteceu ano passado.

Com uma obra extensa, será que o cineasta nutre carinho especial por algum trabalho? Ele afirma que tem muito orgulho de tudo que fez, mas sempre evita relações edipianas com os seus filmes. “Assim que eles ficam prontos, passam a pertencer aos outros – os espectadores que os reconstroem em seu imaginário”, explicou.

Ele também comemorou a restauração das películas que está sendo feita pela Cinemateca Brasileira e pelo Centro Nacional Francês da Cinematografia. “É como uma forma de permanência de meus filmes, uma celebração de sua existência. Mas o que me interessa mesmo é o próximo, o filme que vou fazer em seguida", declarou.

Incansável
Disposição e empolgação não faltam a Cacá Diegues, hoje com 71 anos. Os últimos dois filmes que chegaram às telonas foram “O maior amor do mundo” (2006) e “Deus é brasileiro” (2002). Neste período, também dirigiu, em parceria com Rafael Dragaud, o documentário "Nenhum motivo explica a Guerra" (2006), que conta a história do grupo cultural AfroReggae, formado na favela carioca de Vigário Geral depois da chacina de 1993.

Agora, ele se prepara para retomar as filmagens de "O Grande Circo Místico", ainda sem data definida para começar. O projeto foi interrompido em 2010, quando Diegues se dedicou à produção de "5x Favela - Agora Por Nós Mesmos" ,primeiro longa-metragem brasileiro totalmente concebido, escrito e realizado por jovens cineastas moradores de favelas do Rio de Janeiro.

Baseado no poema homônimo de Jorge Lima, o "O Grande Circo Místico” fala sobre as histórias de amor de uma família circense, durante os cem anos de existência do Grande Circo Knieps. O ator Lázaro Ramos já está confirmado no elenco, como o mestre de cerimônias do circo. O poema ficou famoso, em 1983, quando inspirou Naum Alves de Souza a roteirizar um espetáculo de dança com trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo. O cineasta informou que vai usar as canções dos dois compositores. Só não sabe ainda quais.
Luiz Carlos Barreto, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor e Glauber Rocha (Foto: Divulgação)Luiz Carlos Barreto, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor e Glauber Rocha (Foto: Divulgação)
Assim, Cacá Diegues segue em bom ciclo produtivo. Bem diferente da década de 1960, quando ajudou a fundar, ao lado de Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Paulo Cesar Saraceni e outros, o Cinema Novo. O movimento surgiu, entre outros motivos, em resposta à falência das grandes companhias cinematográficas.
Nunca vivi, como cinéfilo ou como cineasta, um período do cinema brasileiro tão rico em alternativas"
Cacá Diegues, cineasta
Ele também presenciou a estagnação das realizações durante a “Era Collor”. Entre 1991 e 1995, quando Fenando Collor governava o país e teve o mandato impugnado por impeachment, a economia brasileira ía mal, ninguém tinha dinheiro para fazer nada.
"Nesses meus 50 anos de carreira, nunca vivi, como cinéfilo ou como cineasta, um período do cinema brasileiro tão rico em alternativas, tão diverso como o próprio país o é. Nunca vivi um momento em que se estivesse fazendo tantos filmes como agora, vindos de regiões, gerações e estilos bem diferentes entre si”, comemora.

No entanto, ele mantém os pés no chão. “A economia do cinema é uma coisa muito frágil, a qualquer momento ela pode claudicar e acabar com todo esse entusiasmo pelo que está sendo feito. Acho mesmo que estamos correndo esse perigo”, complementou.
Enquanto a cinematografia nacional segue tentando existir como atividade permanente, sendo feita pela diversidade de estilos e tendências de seus cineastas, Cacá Diegues faz a sua parte.

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