segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

'Aprendo mais com eles', diz dona de casa que montou coral de idosos


Loreni Agüero é voluntária há 13 anos em asilo de Porto Alegre.
'Uso meu tempo para dar alegria a quem tanto precisa', diz ela.

Tatiana Lopes Do G1 RS

Voluntária há 13 anos no Asilo Padre Cacique, em Porto Alegre,  a dona de casa Loreni Edina Agüero, 59 anos, usa um  exemplo para comprovar como é fácil separar um pouco de tempo ao trabalho voluntário. "Sempre digo que, se eu tenho tempo para ficar uma hora no salão de beleza para fazer os pés e o cabelo, então também tenho tempo para dar essa alegria a quem tanto precisa. Se a gente quer, a gente pode", diz.
(Neste 2012, ano bissexto, você vai ganhar um dia inteiro. Além das 8.760 horas habituais,  terá 24 horas a mais. Já pensou no que vai fazer com elas? Numa série de 7 reportagens, brasileiros contam como doam parte do seu tempo e as experiências vividas em diferentes atividades. Conte você também, por meio do VC no G1, o que pretende fazer com um dia a mais no ano.)
No asilo, ela organiza um coral. O gosto pelo canto vem desde a infância, e Loreni também diz que sempre lhe agradou a convivência com idosos. Mas foi preciso uma conversa com uma amiga, em 1999, para que ela decidisse atuar como voluntária. "É preciso ter amor ao que se faz, e eu tenho esse amor", diz ela.
É preciso ter amor ao que se faz, e eu tenho esse amor"
Loreni Agüero, voluntária
Natural de Blumenau (SC), Loreni vive há 24 anos no Rio Grande do Sul, estado que escolheu para morar e criar os 4 filhos. No coral da voluntária, participam 15 idosos, sendo que 4 deles são apenas frequentadores da instituição.
Manter o contato de quem vive na casa com a cidade está entre um dos objetivos do asilo. "É para que eles tenham integração com outras pessoas, principalmente outros idosos. É a oportunidade de eles se socializarem. Um dos objetivos da casa é alegrar idosos que não têm mais ninguém", explica a diretora técnica Cristina Pozzer.
No instrumental, Loreni conta com o apoio de outros três voluntários: Telmo Cairo (pandeiro), Fabiano Montenegro (violão) e Mauro Rodrigues da Silva (atabaque). Além do coral, os idosos podem participar de outras atividades, como roda de samba, bailes, artesanato, literatura, informática, fisioterapia, aula de dança. Segundo a direção do Padre Cacique, o cadastro da casa conta com 76 voluntários, sendo que 50 atuam com mais frequência. O total de moradores é de 150.
Loreni está entre os voluntários frequentes. Partindo do princípio de que a música é uma terapia, ela vai todas as terças ao asilo, sempre bem arrumada, com peças de roupa combinando com acessórios. Este é o dia do ensaio, mas sempre que consegue ela visita os idosos mais vezes na semana. "Só deixo de vir se acontecer algum problema sério com meus filhos", diz. Quando aproveita uns dias no fim de ano para viajar, faz questão de deixar uma carta aos moradores avisando sobre o tempo em que ficará ausente.
Em 13 anos, Loreni reúne diversas histórias e experiências com o trabalho voluntário. Uma delas é sobre um casal que se formou dentro do asilo. No dia 12 de junho de 2011, o morador Ari Castro, de 91 anos, casou-se com a frequentadora da casa dona Leopoldina, de 83. "Eu fui o cupido", diz ela, orgulhosa. "Hoje ela mora no asilo com o marido. Fica cada um na sua ala, já que a instituição separa homens e mulheres nos dormitórios", conta.
O trabalho de Loreni ganhou reconhecimento. O grupo de coral costuma receber convites e se apresentar em empresas e escolas. "Com essa atividade, eles se sentem inseridos na sociedade", diz a voluntária. Para ela, o trabalho é recompensador e agrega diariamente novos aprendizados a sua vida. “É muito gratificante. É uma riqueza, uma sabedoria muito grande. Assim como eles aprendem comigo, acho que eu aprendo muito mais com eles”.
Loreni Agüero é voluntária e comanda coral de idosos em asilo de Porto Alegre (Foto: Tatiana Lopes/G1)Loreni Agüero é voluntária e comanda coral de idosos em asilo de Porto Alegre (Foto: Tatiana Lopes/G1)
O Asilo Padre Cacique
Por viver de doações, algumas dificuldades são enfrentadas pela casa. O diretor geral Julio Cesar Pinto prefere definir como realidade e não como problema o fato de o asilo não ter sempre uma quantia financeira suficiente para suprir todas as necessidades. "Trabalhamos com uma incerteza financeira, porque não temos uma verba, um orçamento como um órgão público. Dependemos do que arrecadamos, então trabalhamos sempre com a corda totalmente esticada. Temos que fazer tudo conforme a previsão de receita", diz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário