quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Cubanos usam mensagens de texto para driblar a censura e a repressão política

 

População luta por mais liberdade na ilha comunista. Recurso do celular é utilizado para marcar reuniões e publicar denúncias em redes sociais.

JORNAL NACIONAL
A luta da oposição por mais liberdade na ilha comunista é o tema da última reportagem da série sobre a vida em Cuba. Os enviados especiais Giuliana Morrone e Alberto Fernandez mostram o impacto da ideologia no dia a dia dos cubanos.
A novidade foi pintada em um outdoor em Matanzas, no litoral de Cuba. O artista caprichou nos detalhes. “Che Guevara é meu favorito”, ele diz.
Nas estradas de Cuba, por todo o país, vê-se uma preocupação do regime em manter um discurso do passado. Cuba está há mais de 50 anos sob o poder dos irmãos Castro. Agora, o Partido Comunista se prepara para discutir uma proposta de Raúl Castro que limita os mandatos do presidente e da cúpula do governo.
A proposta será analisada pelos militantes comunistas em janeiro. Se for aprovada, Raúl Castro, que tem 80 anos, em tese ainda teria como ficar até 2018 no poder. Os revolucionários envelheceram. Aa elite política tem, em média, mais de 70 anos.
Nos discursos, o ditador Raúl tem defendido renovação no Partido Comunista, o único legalmente reconhecido.
Nas escolas, desde cedo a ideologia faz parte do ensino. No teatrinho, o guerrilheiro Che Guevara ensina camponeses a fazer trabalho voluntário.
"A missão da escola cubana é formar jovens para viver em um país socialista. Não se pode amar quem não se conhece, nossos heróis e mártires", explica a ministra de Educação Infantil, Maria Sanchez Ramos.
As coisas se complicam para quem cresce em Cuba e tem opiniões contrárias ao regime. Nas ruas, é nítido o desconforto quando o assunto é política
Uma das fontes de informação mais populares em quase todo o mundo em Cuba é raridade. A internet em casa é privilégio para poucos: estrangeiros, agências de turismo e alguns funcionários especiais do estado.
Quem não está entre os privilegiados pode usar a rede em alguns cafés. A conexão é muito lenta – feita por telefone – e cara, o equivalente a R$ 10 por meia hora, em um país em que o salário mínimo corresponde a R$ 17 reais.
A jornalista e blogueira Yoani Sánchez é a voz jovem da dissidência cubana para o mundo. Ela já foi detida e apanhou da polícia política.
"Existe uma confusão. Isto não é comunismo, nem socialismo. É um capitalismo de estado, de clã familiar, um capitalismo militar," ela diz.
Sem internet em casa, Yoani enfrenta as barreiras tecnológicas e denuncia abusos do regime castrista.
"Driblamos a censura com criatividade, estamos criando a internet sem internet”, diz Yoani.
Ela escreve as denúncias nas redes sociais por meio de mensagens de texto de celular e publica fotos de dissidentes sendo presos pela polícia política de Cuba. Yoani diz que Raúl Castro tem uma estratégia diferente para lidar com a oposição.
"Com Fidel Castro, a condenação era praticamente obrigatória", ela conta. “Com Raúl Castro, a repressão não deixa rastros legais, é uma repressão em que não há condenações longas na Justiça. Raúl Castro aumentou muito o uso de paramilitares nas ruas, as câmeras de segurança que vigiam as cidades e os grampos telefônicos", diz Yoni.
Outros opositores também usam as mensagens de texto para se comunicar e marcar reuniões, como uma realizada em um bairro de Havana. Nem sempre funciona. O organizador Juan Antônio disse que a polícia chegou antes e avisou que se eles reunirem mais de 16 pessoas, abortariam a reunião.
A polícia acompanhou tudo de perto, das esquinas. E, no dia seguinte, o centro de imprensa internacional de Cuba avisou à equipe de reportagem: “Sabiam que haviam acompanhado o encontro dos dissidentes, e a reunião seguinte teve que ser cancelada”.

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