segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Usina transforma podas de cajueiro em eletricidade, diz inventor do CE

 

Tecnologia foi desenvolvida por cearense em parceria com alemães.
Usina pode gerar energia equivalente ao consumo de 1.500 casas rurais.

Gabriela Alves Do G1 CE
Pesquisador cearense desenvolveu projeto de termelétrica à base de madeira do cajueiro. (Foto: Gabriela Alves / G1 Ceará)Pesquisador cearense desenvolveu projeto de
termelétrica à base de madeira do cajueiro. (Foto:
Gabriela Alves / G1 Ceará)
Uma usina desenvolvida em parceria com a Universidade de Brandenburg, na Alemanha, transforma podas de cajueiro em energia elétrica, de acordo com um dos inventores da tecnologia, o professor cearense Ésio dos Santos. A tecnologia foi patenteada na Alemanha.
A energia vai ser utilizada para cozer a castanha do caju para a extração da amêndoa, parte que é vendida. A eletricidade pode ser utilizada na indústria, reduzindo custos, ou ser comercializada.
De acordo com o projeto, a termelétrica pode gerar cinco megawatts por hora, utilizando 40 mil toneladas de madeira de cajueiro por ano. A energia produzida, segundo Ésio Santos, equivale ao consumo mensal de 1.500 casas casas rurais.
O investimento para instalação da termelétrica é de R$ 20 milhões. Depois de articulações com indústrias do setor, empresas cearenses já demonstraram interesse para implantar a tecnologia, segundo Santos. “Os equipamentos e toda instalação das usinas serão feitas no Ceará. Empresas cearenses estão se capacitando para atender a demanda”, informou o pesquisador.
O coordenador da Área de Apoio às Cadeias Produtivas do Instituto Industrial de Desenvolvimento do Ceará, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), confirma o interesse dos empresários pela nova tecnologia. “Para o agronegócio do caju, essa tecnologia é de alta importância”, destaca Francisco Férrer Bezerra.
Projeto de termelétrica de biomassa também aproveitará bagaço da "carne" do caju para produção de biogás. (Foto: Honório Barbosa/Agência Diário)Projeto de termelétrica de biomassa também
aproveitará bagaço da "carne" do caju para produção
de biogás. (Foto: Honório Barbosa/Agência Diário)
Pesquisa
Ésio dos Santos, formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que para testar a usina, em 2006, foi instalada uma unidade na Alemanha à base das madeiras e raízes de árvores da região da cidade Sellesen. “Ela está funcionando a todo vapor abastecendo as indústrias e as casas com eletricidade e calor”, diz.
A tecnologia foi patenteada na Agência Alemã de Energia (Deutsche Energie-Agentur GmbH) e no Instituto Alemão para Normatização (Deutsches Institut für Normung e.V.). O professor conta que o interesse pelo assunto começou, em 1997, ao estudar os potenciais caloríficos das madeiras de árvores do semiárido do Nordeste do Brasil. Depois de 13 anos e de conhecer 28 espécies do bioma, o pesquisador concluiu em sua tese de doutorado que o cajueiro era melhor alternativa. “Temos cajueiro em abundância no nosso Nordeste. É uma árvore que dá frutos durante quatro meses do ano”.
Além disso, o pesquisador defende que essa tecnologia vai propiciar uma integração na cadeia produtiva do caju que antes não existia. “Milhares de famílias vão ficar mais tempo no campo porque vão não só com ganhar com o beneficiamento da castanha, mas com a poda, que já faz parte do manejo, e até com a polpa do caju”, ressalta.
Mais benefícios
A maior parte da lenha do cajueiro é vendida atualmente para a queima em indústrias de cerâmica pro R$ 10 o m³. Com a chegada de uma usina que utiliza essa madeira para a geração de energia elétrica, o valor agregado aumenta e os produtores rurais poderão chegar a ganhar R$ 30 com a comercialização dessa lenha, segundo o pesquisador.
A termelétrica à base de cajueiro também foi projetada para funcionar associada a uma unidade de biogás produzido a partir do bagaço do pseudofruto do cajueiro, a chamada “carne” do caju. Na cajucultura, apenas 15% do pseudofruto é aproveitado. “O potencial do pseudofruto de gerar biogás é muito alto”, afirma o estudioso.
O biogás pode ser usado na indústria de sucos, polpas e concentrados de caju e, ainda, é possível usar o subproduto do processo da geração dessa energia como biofertilizante orgânico.
Cajucultura
De acordo com a Instituto Industrial de Desenvolvimento do Ceará, órgão da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), a cadeia de negócios do caju concentra-se no Nordeste, com 195 mil produtores e 700 mil hectares de área plantada. O Ceará é o maior produtor de caju, com 300 mil hectares de cultivo.
Depois do Ceará, os principais produtores são Piauí, Rio Grande do Norte e Bahia. Santos informou que empresários do Piauí já demonstraram interesse na produção da agroenergia do caju. “O Brasil vai voltar a ser o maior produtor em quantidade e qualidade de todos os itens da cajucultura”, diz o pesquisador.
Ceará é o maior produtor de caju do Brasil, de acordo com Fiec. (Foto: Cid Barbosa/Agência Diário)Ceará é o maior produtor de caju do Brasil, de acordo com Fiec. (Foto: Cid Barbosa/Agência Diário)

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