sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Lula evitou golpes na América do Sul e causou polêmica no Oriente Médio



R7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o líder brasileiro com atuação internacional mais forte . Lula foi a 81 países e três territórios, em 262 viagens. O chefe de Estado abraçou as mais diversas causas e os mais diversos líderes.
Brasil de Lula fica maior na cena mundial
O R7 selecionou trechos da entrevista com três professores de relações internacionais sobre a política externa de Lula. São eles Hector Saint Pierre, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Maria Helena de Castro Santos, da UNB (Universidade de Brasília) e Paulo Edgard Resende da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).
Embora a agenda de Lula inclua desde negociações climáticas até a rodada Doha de comércio exterior, passando pela fome na África e a atuação dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), três pontos merecem destaque, de acordo com os professores: América do Sul, Oriente Médio e direitos humanos.
América do Sul
A criação da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), em 2008, uma iniciativa brasileira para servir como “resposta à Alba [Alternativa Bolivariana para as Américas] de Hugo Chávez”, na visão de Saint Pierre, foi uma vitória de Lula. A organização conseguiu evitar uma quase guerra civil na Bolívia, onde a região da Meia Lua - que reúne a parte mais rica da população - ameaçou se separar do país em 2009.
- Lula conseguiu evitar o golpe na Venezuela [em 2003]. Ele controlou permanentemente o Chávez e deu um certo otimismo à região. Na pior crise econômica, ele conseguiu criar um âmbito de confiança na América do Sul, sobretudo no âmbito do Mercosul (Mercado Comum do Sul), que teve avanços institucionais.
Resende também elogia a Unasul que, segundo ele, é um mecanismo que garante a estabilidade democrática na região. A tão sonhada liderança sul-americana do Brasil ainda não é uma realidade, de acordo com o professor. Ele diz que “ninguém se autoproclama líder” e que o Brasil ainda tem muito o que fazer para ganhar a confiança dos vizinhos.
Maria Helena é mais crítica. Diz que “Lula teve uma posição muito ambígua em relação à América do Sul bolivariana [Venezuela, Bolívia, Equador]”.
- Ao mesmo tempo em que tentou manter liderança, Lula não tomou posições claras e acabou preso às suas origens sindicalistas. Quando o Evo Morales invadiu a Petrobras na Bolívia, Lula disse que no lugar dele faria a mesma coisa. Ele até poderia pensar assim, mas isso não é coisa que um presidente diga.
Oriente Médio e Irã
Lula causou polêmica ao tentar mediar a complexa questão palestina, no Oriente Médio. Primeiro presidente a visitar oficialmente Israel, Lula criticou os americanos (que apoiam os israelenses) e caiu nas graças dos árabes palestinos. No último mês de seu mandato, o Brasil reconheceu o Estado palestino independente.
Resende diz a expansão da diplomacia está no fato de o “Brasil ser agora um global player [ator global]”.
- O Brasil passou a ser chamado a atuar como protagonista nas mais variadas partes do mundo. Na questão palestina, o fato de reconhecer a urgência de instaurar o Estado palestino é elogiável.
Mais polêmica que a questão palestina foi a aproximação com o Irã, com quem o Brasil e a Turquia fecharam um polêmico acordo nuclear em maio de 2010.
Para Saint Pierre, a “atuação do Brasil no Irã foi um exercício impecável”.
- O Brasil conseguiu fechar o documento proposto pelos EUA [sobre a troca de urânio]. O que ocorreu foi que EUA não têm interesse [no acordo]. O Brasil não saiu queimado dessa história. A Europa, a Espanha, todos consideram que Brasil ficou muito fortalecido.
Maria Helena, por outro lado, acha que “a atuação de Lula no Oriente Médio foi um desastre”.
- Lula tentou abrir um diálogo na base do “se ninguém fala com o homem mau [Mahmoud Ahmadinejad], no momento em que se precisa, eu sou capaz de fazer essa intermediação”. O Brasil tentou um acordo nuclear, mas não teve tempo de comemorar. A Hillary Clinton [chefe da diplomacia americana] colocou-o [Lula] no lugar, cortou as asinhas.
Direitos Humanos
Resende elogia a aproximação do Brasil com o Irã, mas acha que Lula poderia ter tido uma posição mais assertiva em relação aos direitos humanos.
- A diplomacia brasileira precisa se omitir menos nas votações sobre direitos humanos na ONU. Lula tem um diálogo importante com o Irã, mas perdeu a mão ao usar uma terminologia futebolística para falar sobre a reeleição de [Mahmoud] Ahmadinejad.
Na ocasião, Lula disse que a oposição que acusava Ahmadinejad de fraudes era como um time que não sabia perder o jogo de futebol. O governo iraniano reprimiu fortemente as manifestações, que acabaram com dezenas de mortes e prisões.
Lula também foi muito criticado por comparar os presos políticos de Cuba, que fazem oposição à ditadura comunista, com presos comuns dos presídios de São Paulo. No dia em que Lula visitou a ilha, em fevereiro de 2010, o dissidente Orlando Zapata morreu após semanas de greve de fome.
Maria Helena diz que “aquela declaração foi desastrosa, do ponto de vista da imagem como líder”.
- Fidel Castro foi um representante da esperança, do socialismo, ele pode ter sido inclusive um líder para o próprio Lula, mas hoje o Fidel é outra coisa.
Foto: Reprodução

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