Carlos Newton
Num momento em que o agronegócio se consolida como principal fonte de geração de riqueza e distribuição de renda no Brasil, que já ocupa a quarta colocação no ranking mundial da produção de alimentos, atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos, é intrigante que não seja lembrado Alberto Torres, o intelectual e político que previu essa situação, ao defender o potencial agrário do país.
A tendência é de forte crescimento da produção brasileira, até se tornar o maior produtor mundial devido às condições incomparáveis de clima, luminosidade e maior reserva mundial de água na superfície e nos aquíferos, que permite várias safras ao ano, na maior parte do território.
NO PORTO DO CAFÉ – Alberto Torres (1865/1917) nasceu em Porto das Caixas (hoje, município de Itaguaí), às margens da Baía de Guanabara, que se tornara importante terminal para exportação de café. Seu pai, Manuel Torres, era juiz e ingressou na política, tendo sido eleito senador.
O que espanta na trajetória de Alberto Torres é a precocidade, que logo o fez engajar-se na campanha pela proclamação da República. E aos 24 anos o jovem advogado estava na casa do marechal Deodoro, acompanhando Francisco Glicério e Benjamim Constant, naquele dia 15 de novembro de 1889, quando convenceram o adoentado chefe militar a que saísse à rua para encabeçar o movimento de deposição do Império, apesar de sua grande amizade por Dom Pedro II.
Torres iniciou sua carreira pública como advogado da Intendência Municipal do Distrito Federal, em 1889.
SERIA DIPLOMATA – O governo provisório da República, sob o Marechal Deodoro da Fonseca, a 14 de janeiro de 1890, chegou a nomear Torres para assumir a Legação Brasileira em Bruxelas.
Barbosa Lima Sobrinho, na biografia “Presença de Alberto Torres” (sua vida e pensamento), narra o encontro que o jovem teve com o primeiro presidente da República.
“Quando Alberto Torres procurara o presidente Deodoro da Fonseca, para lhe agradecer a indicação para a Legação de Bruxelas, o marechal, quando olhou o candidato, com seus 24 anos imberbes e o jeito tímido, que bem podia ser discrição, não se pôde conter: “Pois é o senhor o nomeado? Não, não pode ser! Eu julguei que era o seu pai… Tenha paciência: o decreto está sem efeito”.
TRAJETÓRIA BRILHANTE – Foi um dos autores da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, entrou na política, tornou-se ministro da Justiça e Negócios Interiores no governo de Prudente de Moraes, elegeu-se deputado estadual, depois federal, tudo isso com apenas 31 anos de idade, e também já se tornara um respeitado cientista político e analista constitucional, acima de tudo, ético, fundamentalmente ético.
Mas tudo indicava que o destino de Alberto Torres seria o ostracismo político, pois renunciara ao mandato na Câmara Federal e se demitira do Ministério. Mas um ano depois ele seria eleito presidente do Estado do Rio de Janeiro, cuja capital era Petrópolis.
Encerrado seu mandato, uma surpresa: Torres foi convidado pelo presidente Campos Salles para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, e tomou posse em 18 de maio de 1901. Foi o único ministro nomeado com apenas 35 anos de idade.
UM GRANDE INTELECTUAL – Diz seu biógrafo Joaquim Eloy Duarte dos Santos: “Eis que as cadeiras do poder são substituídas pela pesquisa intelectual. Torres adensa seus conhecimentos nos mestres renomados da cultura sociológica, preocupa-se com a humanidade, discute os problemas mínimos e absolutos, procura a verdade, escreve, pensa, produz substanciosa obra de conteúdo teórico, forma correta, pensamento lúcido”.
Foi o maior defensor da vocação agrícola do Brasil, que era duramente contestada pela “intelligentsia” da época.
Um século depois de sua morte, já estava consolidada a procedência da previsão, pois cada vez mais o Brasil precisa do agronegócio para se desenvolver.
MEIO AMBIENTE – Em meio a essa realidade, o mundo inteiro hoje defende a preservação do meio ambiente brasileiro, o mais importante do planeta. Que já está garantido no papel, com preservação de 80% de cada propriedade rural na Amazônia, 35% no Pantanal e no Cerrado, e 20% nas demais áreas do país.
Orgulhosamente, pode-se dizer que nenhum país do mundo tem legislação ambiental tão severa. Precisamos apenas cumpri-la. E para tanto basta apenas haver vontade política.
Nosso atual presidente já passou 580 dias na cadeia por descumprir as leis penais. Estaria se redimindo se tomasse as providências necessárias para cumprimento das leis ambientais. O grande brasileiro Alberto Torres iria adorar.
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