BLOG ORLANDO TAMBOSI
Não há alternativa ao capitalismo. O que não implica que a degeneração do sistema não ocorra. Luiz Felipe Pondé para a FSP:
A humanidade se transforma num enxame de insetos
a passos largos. O recente fato ocorrido com os bancos e o mercado
financeiro é apenas um exemplo entre tantos outros. A vocação a manada
em pânico é estrutural no Homo sapiens.
O
capitalismo é um impasse existencial, além de tudo. O capitalismo
financista, como dizia o velho Marx, implica a condição de estarmos
sempre à beira de um ataque de nervos. Vivendo de crise em crise, e a
cada crise o "risco sistêmico" —como no caso do Credit Suisse— ou seja, o risco de quebra sistêmica do mundo financeiro, se espalha, e a manada corre para as redes a fim de saber como agir.
Não há alternativa ao capitalismo.
O que não implica que a degeneração do sistema não ocorra. Mesmo a
esquerda contemporânea não passa de um nicho de mercado. Basta ver o
carreirismo dos ativistas das identidades, fazendo marketing de si
mesmos, buscando espaço de business e de cargos nos departamentos de
"diversidade" das empresas. A esquerda hoje só quer "um pedaço da ação"
como diziam os gângsteres na época do Al Capone.
Não
há alternativas. Entretanto, tampouco os liberais podem cantar vitória
porque provavelmente em alguns anos o mundo viverá uma espécie de queda
do império romano, quando as relações sociais degenerarão, as
instituições estarão em erosão contínua —essa loucura para regular as
redes já é indício da consciência desse pânico—, a vida afetiva estará
em entropia, a natalidade em desaparecimento. Um mundo de velhos
sozinhos e pets.
Mas
há um detalhe da vida sob o modo de produção capitalista contemporâneo
que me causa desgosto em especial. Qual é esse detalhe? Quando somos
obrigados a viver o capitalismo para além de pequenas doses. E isso tem
se tornado cada vez mais difícil. Você deve se ver sempre como uma
startup.
O
capitalismo em grandes doses é insuportável. Todo mundo fica com cara
de idiota. Claro, a opção por viver o capitalismo em pequenas doses
diminuirá suas chances de ganhar muito dinheiro. Para suportar essas
grandes doses você precisa cada vez mais fazer e falar o que o mercado
pede.
A
alma mais pura do capitalismo em grandes doses é o novo rico como
paradigma. Estar sempre agindo em networking é uma grande dose de
capitalismo no plano comportamental. Estar sempre pensando no que suas
relações cotidianas podem abrir portas para você é estar em networking
continuamente. No passado, esse comportamento era visto como mau
caráter.
Claro
que o marketing digital —conhecido como redes sociais— é o grande palco
dessas doses gigantescas do capitalismo no plano existencial. Nesse
caso, ainda mais, degenera-se rapidamente.
Tudo
fica obscenamente evidente: a burrice, a mentira como método, o
desespero do envelhecimento, a banalidade dos afetos, o pavor da
irrelevância —todo mundo quer ter uma opinião original e com isso
aparecer. Quando tudo é business, não há nenhuma esperança. E hoje, até o
chamado humanismo é business.
Engana-se
quem acha que está fugindo do capitalismo em grandes doses quando funda
uma comunidade sustentável em alguma propriedade cara —alguém sempre
deve ter uma grana para manter os aproveitadores.
A
vida coletiva só é sustentável sob grandes esquemas de repressão. Tais
comunidades sustentáveis alternativas são grupos altamente repressores e
hipócritas no seu funcionamento, como todos o foram desde a
pré-história.
Mas
divago. A questão é: ainda é possível viver o capitalismo em pequenas
doses? Creio que ainda sim, mas não por muito tempo. O que viveremos em
breve é o capitalismo em degeneração como sustentação da vida social.
Para resistir às grandes doses, por exemplo, se faz necessário não
querer ter um sucesso retumbante em nada do que você faz.
Baixar
as expectativas, não como alguém que se acha salvador do mundo e posta
sua fuga no Instagram, mas como um qualquer, um refugiado, que foge com
falta de ar.
Aliás, hoje, refugiado, morador de rua, também é business, marketing e branding, até de artistas que levam "les misérables" para assistir a seus shows e fingem amar o mundo. Triste não?
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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