Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais deste domingo:
Depois
de um mês afastado, voltei a consultar os supermercados e suas ofertas.
Foi um susto: o preço do óleo de soja pulou, as carnes de peixe, frango
ou boi subiram tanto que o velho caldo de pé de galinha voltou à moda,
quem não gostar que coma ovos – por enquanto. Arroz, feijão, milho, em
alta. Feira, sacolão, supermercado, todos cobram o que é difícil pagar.
Esta
é a grande pesquisa presidencial: somar motos (e multiplicar o número
real por cem antes de divulgá-lo) é bobagem, comparar fotos de
manifestações não resolve, pesquisas eleitorais (a um ano das eleições)
valem só para que os candidatos orientem suas campanhas. Quem tem razão,
o DataFolha e o DataPoder, que indicam que o apoio a Bolsonaro é uma
avalanche, só vai para baixo, ou o Paraná Pesquisas que mostra Lula como
bem colocado, mas atrás de Bolsonaro? Como ensinou James Carville, o
vitorioso marqueteiro de Bill Clinton, o que vale é a comida no prato, é
ver os filhos alimentados e agasalhados, é poder comprar móveis a
prestação, para preencher espaço nas casas populares ampliadas aos
poucos.
É
provável que o preço dos alimentos, o desemprego e, para a parte mais
politizada do eleitorado, a comprovação de que falta dinheiro para
auxiliar os necessitados, mas não falta para mordomias em Executivo,
Legislativo e Judiciário, estejam mesmo derretendo a candidatura
Bolsonaro. Ou ele cuida disso ou nenhum tanque movido a carvão fará com
que se reeleja.
Os números
O
Instituto Paraná Pesquisas indica Bolsonaro na frente, com Lula bem
perto, em empate técnico; atrás, José Luiz Datena; Ciro em quarto e o
governador paulista João Doria em quinto. O DataFolha traz, bem à frente
de Bolsonaro, Lula. Mas se dedica mais ao outro lado da questão: de
dezembro para cá, a avaliação de Bolsonaro caiu oito pontos. Hoje é
rejeitado por 53% dos eleitores. No quesito “neste não voto de jeito
nenhum”, ele é o líder destacado, inconteste. Com esse nível de
rejeição, é possível até que não passe para o segundo turno.
Falta apenas surgir um candidato viável em sua área para comprovar se esta conclusão é correta ou não.
Ói ele aí outra vez
Comenta-se
que o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro irá voltar em breve ao Brasil.
Nos meios políticos, poucos gostam dele, já que representou uma ameaça a
muita gente hoje solta e juristas de nome criticaram seus métodos de
ação. Como estará seu prestígio? Depende: se não se declarar candidato,
quem pensará nele antes de opinar? Mas, se abrir essa possibilidade,
será possível avaliar sua popularidade depois de prender Lula, ser
ministro de Bolsonaro e romper com ele.
Moro
é conhecido, o que pode ser bom ou mau. Conforme as circunstâncias, que
pode acontecer? Nixon foi batido por Kennedy, candidatou-se em seguida a
governador da Califórnia, perdeu, todos o consideraram politicamente
morto. Candidatou-se mais uma vez à Presidência e derrotou Hubert
Humphrey, o democrata de ilibada reputação apoiado pelo presidente
Lyndon Johnson. Nas palavras de James Reston, do New York Times, “foi a
maior ressurreição desde Lázaro”. Eleição tem dessas coisas. Fernando
Henrique achava que não teria votos nem para se eleger deputado federal,
e dois anos depois se elegia presidente da República, batendo Lula no
primeiro turno. Moro ainda tem seus fiéis – quantos?
O golpe e o vice
Se
Bolsonaro for derrotado, ou achar que será derrotado, tentará o golpe?
Seu vice-presidente, general reformado de quatro estrelas, ex-presidente
do Clube Militar, acha que não: na opinião do general Hamilton Mourão,
quem acredita em golpe são analistas com os olhos no passado. Mourão
acha que 1964, por algum motivo, foi o ponto final da era de
intervenções militares que se iniciou com a proclamação da República e
passou por 1922, 1924, 1930, 1937, 1945, 1955 e 1961, chegando então a
1964. “Ali termina este papel das Forças Armadas no estamento político
brasileiro”.
Mourão
não se coloca como candidato nem mesmo a vice. Sugere sair candidato,
talvez, a governador ou senador pelo Rio de Janeiro ou Rio Grande do
Sul. Acredita que terá o apoio de Bolsonaro. E trocará o PRTB por algum
outro partido.
A raiz da crise
Paulo
Guedes, o Imposto Ipiranga do Governo Federal (era para ser, dizia
Bolsonaro, o grande condutor da Economia brasileira - e, efetivamente, é
quem dá a última palavra em todas as medidas: “Sim”, “Sim, Senhor” e
“Pois não, Excelência”) acredita que os problemas do país nascem da
possibilidade de reeleição. “Aprovar a reeleição”, disse, em entrevista à
Rádio Jovem Pan, “foi o maior erro político que já aconteceu no país”.
Em sua opinião, há uma fixação constante dos ocupantes de cargos
eletivos na conquista do segundo mandato”. Muita gente, incluindo este
colunista, concorda com Guedes. Só que é ele, e não quem concorda com
ele, que trabalha o Orçamento para permitir medidas que facilitem a
reeleição do presidente Bolsonaro.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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