A frequência com que a palavra "mais" aparece se explica pelo caráter hiperbólico das falas de Bolsonaro. Ele a usou bastante, por exemplo, para exaltar as ações de seu governo na pandemia, em 2020, e para defender a atuação do país na preservação do meio ambiente, em 2019. Diogo Schelp para a Gazeta do Povo:
O
presidente brasileiro será, como ocorre tradicionalmente desde 1955, o
primeiro a discursar na abertura da Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (21). Ele não deu muitas pistas
do conteúdo, apenas antecipou que dirá algumas "verdades". "Verdade" e
suas variações, aliás, estão entre as palavras mais usadas por Jair
Bolsonaro em seus dois discursos anteriores na ONU, em 2019 e 2020.
Há
diversas formas de se analisar discursos. Uma delas é por meio de uma
nuvem de palavras, uma imagem que reflete, com o tamanho das letras, as
expressões que predominam no texto e, dessa forma, apontam para os temas
mais abordados e para a tônica do que foi falado.
A
nuvem de palavras acima reúne a íntegra dos dois últimos discursos de
Bolsonaro na ONU. "Brasil" foi a palavra mais repetida, o que é natural
na fala de um chefe de governo que está se dirigindo a seus pares,
seguida de "mais" e "mundo".
A
frequência com que a palavra "mais" aparece se explica pelo caráter
hiperbólico das falas de Bolsonaro. Ele a usou bastante, por exemplo,
para exaltar as ações de seu governo na pandemia, em 2020, e para
defender a atuação do país na preservação do meio ambiente, em 2019.
No
segundo pelotão das palavras mais usadas por Bolsonaro na ONU até agora
estão "não", "país ou "países", "liberdade" e "governo".
A
expressão "não" aparece frequentemente no contexto de tentativas de
Bolsonaro de rechaçar ou negar acusações que são feitas ao seu governo e
ao Brasil na questão ambiental e no tratamento dado aos índios. "Ela (a
Amazônia) não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz
mentirosamente a mídia", afirmou Bolsonaro, por exemplo, em 2019.
O
advérbio de negação também aparece nos trechos em que o presidente — ou
quem escreve os seus discursos — se dedica a fazer críticas a governos
autoritários de esquerda, como os da Venezuela e de Cuba.
No
quesito valores, "liberdade" é a expressão mais utilizada. Reflete o
discurso que Bolsonaro mantém em suas declarações dentro do Brasil. O
presidente acredita — ou quer fazer seus apoiadores acreditarem — que a
liberdade individual está ameaçada no país (e no mundo).
Curiosamente,
a expressão aparece três vezes mais nos últimos discursos de Bolsonaro
na ONU do que, por exemplo, "democracia", que por sua vez foi usada o
mesmo número de vezes que "ditadura" e menos que "militares" e
"segurança".
"Paz",
"ONU", "internacional", "humanos" e "política", expressões clássicas em
discursos diplomáticos, estão no mesmo patamar intermediário das
palavras mais usadas nos dois últimos discursos de Bolsonaro, junto com
"Amazônia", "ambiental" e "ambiente".
Isso
demonstra o quanto as cobranças de outros países quanto à preservação
da Floresta Amazônica exigiram respostas de Bolsonaro em seus discursos
na ONU. Mais até do que o tema global por excelência em 2020: a pandemia
de covid-19.
Salvo
alguma grande surpresa, o terceiro discurso de Bolsonaro na Assembleia
Geral da ONU, esta semana, deve repetir os grandes temas das suas
últimas duas participações: ou seja, a questão ambiental, a resposta à
pandemia e os embates ideológicos entre esquerda e direita.
O terceiro tópico é o mundo de Bolsonaro e é o que ao mundo ele faz questão de apresentar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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