Produção agrícola pode cair 30% sem redução de emissões até 2030
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A capacidade de adaptação dos países às mudanças causadas pelo aquecimento global pode acabar, caso as emissões de gases de efeito estufa não sejam drasticamente reduzidos nesta década. Segundo relatório da Chatham House, think tank (instituições que se dedicam a produzir conhecimento sobre temas políticos, econômicos ou científicos) britânica de pesquisa sobre o desenvolvimento internacional, fundada em 1920, as mudanças podem ser irreversíveis entre 2040 e 2050.
O alerta está
na Avaliação de Riscos das Mudanças Climáticas, documento desenvolvido
para subsidiar as tomadas de decisões dos chefes de Governo e ministros
antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021
(COP26), marcada para ocorrer de 31 de outubro a 12 de novembro, em
Glasgow, na Escócia.
Para o pesquisador sênior do Programa de
Meio Ambiente e Sociedade da Chatham House, Daniel Quiggin, um dos
autores do relatório, as metas estabelecidas por muitos países para
neutralizar as emissões de carbono e a maior ambição com relação às
metas nacionais de redução de gases de efeito estufa são uma esperança.
Embora, segundo ele, não passem de promessas.
“Muitos países
não têm políticas, regulamentações, legislação, incentivos e mecanismos
de mercado proporcionais para realmente cumprir essas metas. Além disso,
os NDCs [da sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente
Determinada] revisados globalmente ainda não fornecem uma boa chance de
evitar o aquecimento em 2ºC. Devemos lembrar que muitos cientistas do
clima estão preocupados que, além dos 2ºC, uma mudança climática
descontrolada possa ser iniciada”, alerta.
As metas nacionais
foram determinadas a partir do Acordo de Paris, tratado negociado
durante a COP21, em 2015, no âmbito da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre a Mudança do Clima. O acordo rege a redução de emissão de
gases de efeito estufa a partir de 2020, para tentar manter o
aquecimento global abaixo de 2ºC até o fim do século, num contexto de
desenvolvimento sustentável.
Quiggin alerta que as metas definidas ainda não garantem a neutralidade do carbono.
“O
balanço zero líquido das emissões depende de tecnologias de emissão
negativa, que atualmente não são comprovadas empiricamente em escala
comercial. Em resumo, as metas que os países buscam estão se movendo na
direção certa, mas ainda não conseguem evitar a devastadora mudança
climática. E as políticas de apoio às metas existentes são insuficientes
para atingir essas metas”, disse.
Ondas de calor
A avaliação, lançada essa semana em Londres, aponta que a falta de medidas concretas por parte dos governos pode levar a temperaturas extremas a partir da década de 2030, causando 10 milhões de mortes ao ar livre. Ondas de calor anuais podem afetar 70% da população mundial e 700 milhões de pessoas estarão expostas a secas severas e prolongadas todos os anos.
O documento também alerta para a redução de 30% na
produção agrícola até 2050 e que 400 milhões de pessoas não poderão mais
trabalhar ao ar livre por causa do aquecimento global. Para 2040, há
uma expectativa de perda de rendimento de pelo menos 10% nos quatro
principais países produtores de milho: Estados Unidos, China, Brasil e
Argentina.
Na virada do próximo século, um aumento de 1 metro
no nível do mar pode aumentar a probabilidade das grandes inundações em
cerca de 40 vezes para Xangai, 200 vezes para Nova York e mil vezes para
Calcutá.
Segundo Quinggin, os atuais esforços globais para
conter o aquecimento dão ao mundo menos de 5% de chance de manter o
aquecimento abaixo de 2°C.
“Sem ações radicais em todos os
setores, mas especialmente dos grandes emissores, temperaturas extremas,
quedas dramáticas nos rendimentos agrícolas e secas severas prolongadas
provavelmente resultarão em milhões de mortes adicionais na próxima
década. Ainda há uma janela de oportunidade real (embora ela esteja se
fechando) para uma ambição muito maior de todos os governos, para evitar
os impactos mais catastróficos das mudanças climáticas”.
A
avaliação da Chatham House indica que o ritmo atual dos esforços de
descarbonização podem segurar o aquecimento até 2100 em 2,7°C, mas a
chance de a temperatura média do planeta subir 3,5°C é de 10%. O
pesquisador explica que as restrições de mobilidade ocorridas por causa
da pandemia da covid-19 contribuíram apenas momentaneamente para a
redução das emissões.
“Nós consideramos isso, mas dado que as
emissões se recuperaram muito rapidamente, e agora estão subindo
novamente, o breve alívio oferecido pelos bloqueios nas emissões foi
insuficiente para mudar nossa avaliação do ritmo e gravidade das
mudanças climáticas”, explica.
A Avaliação de Riscos das Mudanças Climáticas é o primeiro de uma série de relatórios de pesquisa aprofundados que a Chatham House vai lançar até a COP26, analisando as consequências do aquecimento do planeta e indicando as ações que precisam ser tomadas para evitar o desastre climático. O trabalho é feito por cientistas e analistas políticos no Reino Unido e na China.
Fonte: Agencia Brasil
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