Uma década de pânicos relacionados ao assédio sexual e ao tipo ‘correto’ de sexo criou uma geração amedrontada e avessa ao risco. Ella Whelan para a Oeste:
A
universidade não é mais um espaço para noitadas de bebedeiras,
aventuras sexuais e subsequentes manhãs de constrangimento. O sexo não é
mais uma prioridade para os universitários de hoje. Eles estão nervosos
demais para cometer erros. Ou nem têm interesse em tentar.
Essas
conclusões são apresentadas no relatório “Sexo e relacionamentos entre
estudantes”, produzido pelo Instituto de Políticas do Ensino Superior do
Reino Unido (Hepi, na sigla em inglês). Como todos os estudos, este
também deve ser lido com ressalvas. Suas descobertas vêm das respostas
dadas por uma amostragem de mil estudantes durante o verão do ano
passado, bem no meio da pandemia. (Não seria uma surpresa se parte dos
estudantes em questão decidisse atribuir ao sexo menos importância num
ano em que com frequência foi ilegal receber alguém em casa.)
Mesmo
assim, preocupações sobre a falta de entusiasmo das gerações mais novas
com o sexo têm aumentado há um tempo, e o relatório do Hepi traz
algumas descobertas interessantes. Apenas 10% dos estudantes afirmaram
ter a expectativa de transar na semana de chegada dos calouros, tida há
alguns anos como particularmente promissora, dada a sequência quase
ininterrupta de festas. Quarenta e três por cento ingressaram no ensino
superior sem experiência sexual, e 25% nunca beijaram ninguém. Talvez
por causa das baixas expectativas na cama, 58% dos estudantes afirmaram
que sua prioridade era fazer amigos, e não encontrar parceiros sexuais, e
apenas 9% de fato “se deram bem” nas primeiras semanas da universidade.
Mas
enquanto nós, as pessoas que se divertiram muito na universidade,
podemos ficar surpresos com o comportamento da nova geração, a segunda
parte do estudo do Hepi é a mais deprimente. De acordo com as
descobertas, “uma maioria dos estudantes acredita que deveria ser
obrigatório passar por uma avaliação sobre consentimento sexual antes de
começar o ensino superior”. O relatório também revela os estudantes
reclamando do nível da educação sexual no ensino médio: apenas 27% deles
afirmaram ter recebido “uma formação abrangente sobre consentimento no
sexo”. Esse nervosismo vai na direção oposta do fato de que 59%
relataram se sentir pessoalmente “muito confiantes sobre o que significa
consentimento sexual”.
Em
resumo, as descobertas do estudo parecem mostrar uma espécie de
desempenho defensivo de puritanismo entre os estudantes, com muitos
deles destacando a importância de aprender sobre consentimento no sexo,
apesar de não haver nenhum interesse em pôr essa educação em prática.
Claro, concordar com a necessidade de aulas obrigatórias sobre
consentimento se tornou uma forma de indicar que você está do “lado
certo” da discussão.
Sexo
bêbado tornou-se uma preocupação específica para essa geração. Apenas
30% dos estudantes disseram ao Hepi sentir confiança sobre a negociação
do consentimento sexual sob o efeito do álcool. Talvez fosse mais
honesto admitir que a vasta maioria dos estudantes vai cometer erros em
algum momento em se tratando de sexo embriagado — seja o constrangimento
de voltar para casa arrependido no dia seguinte ou partir o coração de
alguém. A maior parte dos jovens sensatos não precisa de treinamento
para entender a diferença entre o que é abusivo e o que é um episódio
normal em se tratando de experiências sexuais.
O
outro contexto para essas descobertas é o pânico, que já dura uma
década, da cultura do estupro e do assédio sexual nas universidades. Em
parte, esse pânico foi causado por estudos alarmistas da União Nacional
dos Estudantes do Reino Unido e de grupos de estudantes. “Hidden marks”,
um relatório infame de 2011, afirmou que a maioria das mulheres já
sofreu alguma forma de agressão nos câmpus e que um terço das estudantes
universitárias não se sentia segura à noite. O dado foi apurado a
partir de uma amostra de 2.058 estudantes que se apresentaram
voluntariamente para participar do levantamento. Dois anos depois, uma
trabalho do Departamento de Estudos de Gênero da Universidade de Sussex,
“That’s what she said”, afirmou que 50% das participantes relataram uma
espécie de cultura masculina britânica, o “laddism”, e uma “cultura de
assédio” em suas universidades. Isso se baseou em entrevistas com apenas
40 universitárias no Reino Unido. As experiências de um punhado de
mulheres, formuladas com hipérboles sobre assédio e abuso, foram
transformadas em manchetes sensacionalistas acerca de uma suposta
epidemia de assédio e violência sexual nos câmpus.
Do
#MeToo às recentes alegações de assédio nas escolas e universidades
desencadeadas pelo movimento Everyone’s Invited, seria possível imaginar
que os jovens de hoje são muito mais depravados e agressivos em seus
encontros sexuais do que o sexista mais estereotipado dos anos 1950. Na
verdade, isso é fruto, em especial, do fato de as mulheres se sentirem
mais confortáveis e confiantes em se manifestar sobre experiências
negativas nas relações sexuais. Essa confiança recém-descoberta é
positiva. Mas a verdade é que a universidade continua sendo um dos
espaços mais seguros — literalmente — para homens e mulheres explorarem
sua liberdade sexual. Uma fixação nos riscos do sexo acabou enchendo uma
geração mais jovem de medos sobre ter ou não o tipo correto de
experiência.
O
que ninguém parece está disposto a admitir é que erros e incidentes são
parte fundamental de qualquer experiência adulta — especialmente
relações íntimas. Nenhuma formação obrigatória em sala de aula e nenhuma
palestra na universidade pode preparar você para o que é ter seu
coração partido, ou acordar de manhã em uma cama estranha e se
arrepender. O mais importante é que é impossível ter uma aula sobre
bancar um risco e valer a pena. O melhor tipo de sexo é o espontâneo,
não controlado e divertido. O que aprendemos em meios informais de
socialização, de tentativa e erro, costuma ser mais importante do que
aquilo que aprendemos em situações formais.
Aqueles
de nós que ficam constrangidos pela docilidade de uma geração mais
jovem, relutante em ter experiências sexuais, precisam ser mais
positivos sobre os aspectos de risco da interação sexual. Esqueçam as
aulas sobre consentimento, os jovens precisam parar de falar sobre como
fazer. E simplesmente fazer.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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