Até
agora, mal começaram as investigações sobre a matança da favela de
Jacarezinho, no Rio. Numa operação policial destinada a prender 21
pessoas, é pouco terem preso três, é muito terem morto 24 (o 25º é
policial). Porém, indícios à parte, é cedo para apontar inocentes e
culpados. Mas a situação é insustentável: um grande território do Rio (e
isso se repete pelo país) está fora da lei, ocupado por
narcotraficantes ou milicianos, se é que há diferença. Quem governa o
território são os criminosos; mas o morador, o cidadão, é vítima e
refém. A Polícia, que deveria protegê-lo, nem sempre é diferente do
pessoal do crime. É mal paga, mal treinada, teme (com razão) os
bandidos, não hesita em atirar. Ali todos são pobres, mal vestidos.
Suspeitíssimos.
Vice-presidente
Hamílton Mourão: “Tudo bandido”. Eduardo Bananinha Bolsonaro: “Tenho
nojo de engravatado que defende traficante”. O prefeito do Rio, Eduardo
Paes, é mais lúcido, o que não é difícil, e vai direto ao ponto: a
política de segurança é inexistente.
Para
o povo das favelas, só existe Governo para prender e matar. Escolas,
postos de saúde, saneamento básico, proteção contra o banditismo? Estão
pensando que aqui é a Suíça? Os bandidos ao menos mandam os doentes para
um hospital, assassinam quem abusa da violência contra civis. Pirateiam
Internet e cobram caro, mas há alguma Internet. Pirateiam a
eletricidade, cobram caro, mas há luz. Há botecos – nem isso o Governo
deixaria fazer.
O x do problema
O
povo da favela sofre com a guerra entre milicianos e outros bandidos
pelo controle do território. Quando vem a Polícia, o risco de vida
aumenta. Às vezes, há enormes operações, como aquela longuíssima
comandada pelo general Braga Netto, hoje ministro da Defesa. O
território é ocupado pelas forças do Governo, que às vezes até inauguram
obras, como o teleférico do Alemão, novas delegacias, etc. A população
sabe que deve desconfiar dessas coisas: se colaborar com a Polícia, paga
caro quando a Polícia for embora (e vai) deixando de novo a favela nas
mãos dos bandidos. A obra fica, mas a delegacia não tem pessoal, o posto
de saúde não tem nada, o teleférico está quebrado e há meses não se
preocupam com ele. Sobram belas ruínas. Houve um intervalo de paz. Mas
escolas, posto de saúde, esgotos... pode esquecer.
A opinião do presidente
Há
em Brasília um senhor que foi eleito dizendo que era linha-dura. Ele se
orgulha das más condições sanitárias do país. Sua frase, em 25 de março
de 2020: “O brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê
o cara pulando em esgoto ali, sai, mergulha, tá certo? E não acontece
nada com ele.” Por isso, explicou, o coronavírus não seria tão mortal
aqui no Brasil”. E este senhor, puxa vida, como conhece milicianos!”
É espantoso.
Uns e outros
O
domínio de vastas áreas do país por bandidos é como uma infecção, e
espalha-se. Os milicianos constroem edifícios (até de alto luxo) em
áreas que deveriam ser preservadas – mas quem os impedirá? Setores da
classe média, seduzidos pela ótima localização e bons preços, compram
seus apartamentos. Enredam-se assim na teia do banditismo. Integram
também os grupos que exigem segurança pública. Como segurança não há,
aplaudem a violência. Vestiu-se mal, é bandido.
Bandido bom, acreditam, é bandido morto.
Salvar vidas
Claro,
é preciso investigar o que houve, identificar e punir abusos. Mas, a
menos que esse território seja reincorporado ao Brasil, seguindo as leis
do país, não vai adiantar nada. Se o Estado não exercer sua função, os
bandidos exercerão a deles. Não adiantará fazer passeatas pela paz,
todos de branco, rezando em cruzes fincadas na praia. As cruzes ficarão,
a paz não haverá.
Falou e não disse
Quando
Bolsonaro soube que o Butantan trabalha no desenvolvimento de uma
vacina que poderá ser produzida inteiramente no Brasil, sem importar
nada, anunciou que o ministro Astronauta coordenava a elaboração de três
vacinas nacionais. Pelo menos uma era verdadeira. Só que, logo depois
de feito o anúncio, Bolsonaro cortou as verbas usadas na pesquisa pela
Universidade de Medicina de Ribeirão Preto – R$ 200 milhões de reais.
Mas manteve a verba de publicidade da Saúde, de R$ 241 milhões – talvez
assim possa ampliar a campanha pró-cloroquina. Quando prometeu a Biden
duplicar o gasto com a fiscalização do desmatamento amazônico, logo após
cortou as verbas todas. Para garantir que essas bobagens de boa
formação de alunos não prosperem, cortou as verbas das universidades
federais de tal maneira que dificilmente poderão trabalhar de julho em
diante.
Siga o chefe
O
deputado gaúcho Nereu Crispim insultou a ótima repórter Rosana de
Oliveira, de Zero Hora. Motivo: revelou que ele foi recordista de
aluguel de carros na Câmara Federal.
Pura verdade. Mas ele ficou bravo, aos palavrões.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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