Será mesmo que os jurados do caso George Floyd se ativeram exclusivamente às evidências ou foram impactados pelas pressões da militância progressista? Ana Paula Henkel para a revista Oeste:
A
América esta semana ficou apreensiva com a possibilidade de mais
eventos violentos como os protestos do ano passado em algumas regiões do
país após a morte de George Floyd. Os protestos, que colocaram em
chamas — literalmente — cidades, bairros e uma infinidade de
estabelecimentos comerciais que foram completamente destruídos ou
saqueados por grupos compostos de terroristas domésticos, como Antifa e
Black Lives Matter, pediam apenas “paz” contra o “racismo sistêmico” por
parte das forças policiais. É justo debatermos qualquer vertente do
racismo? Sim, justo e necessário. No entanto, o suposto racismo
sistêmico que muitos pregam pela agenda identitária para fins políticos
não é encontrado em nenhuma estatística dos órgãos oficiais
norte-americanos.
Não
entrarei no mérito desses números oficiais sobre as mortes de brancos,
negros e latinos com o envolvimento de policiais, dado que foi tema de
um artigo anterior. Apenas repito que os fatos não corroboram a narrativa empurrada pela imprensa militante.
A
apreensão sentida nos Estados Unidos deveu-se ao julgamento do
ex-policial de Minneapolis Derek Chauvin. Visto no famoso e absurdo
vídeo que registrou George Floyd no chão antes da morte, Chauvin foi
considerado culpado de todas as acusações. O júri, de 12 membros,
deliberou por apenas dez horas após um julgamento de três semanas.
Chauvin pode pegar até 40 anos de prisão por homicídio não intencional
em segundo grau, até 25 anos por homicídio em terceiro grau e até 10
anos por homicídio culposo em segundo grau. A sentença deve ocorrer em
oito semanas, de acordo com o juiz Peter Cahill.
Em
uma sociedade como a atual, que urge correr para as redes sociais para
“debater” absolutamente qualquer assunto sem as devidas análises e
ponderações, é necessário que tentemos olhar por uma lente de visão
macro. O que podemos concluir desse caso, além das platitudes e falácias
repetidas para orientação da manada e ganho político, depois de um
julgamento com evidências controversas e pressão de políticos, inclusive
o presidente Joe Biden?
Os
membros do júri afirmam ter concluído que acreditam, unanimemente, e
além de qualquer dúvida razoável, que Chauvin causou a morte de Floyd.
Dadas as circunstâncias do julgamento, no entanto, é extremamente
difícil acreditar que o júri estava preocupado apenas com a verdade ou a
justiça. É extremamente difícil, se não impossível, para qualquer
pessoa pensante e que não se orienta por paixões não ter uma dúvida
razoável sobre o resultado.
O
juiz do caso se recusou a isolar os jurados da cobertura da mídia e de
influências externas durante o julgamento, e a pressão transmitida a
eles foi mais que intensa. Ficou perfeitamente claro para os jurados que
a nação seria novamente tomada pelas chamas se eles expressassem que,
de fato, tinham uma dúvida razoável sobre a real causa da morte de
Floyd.
A
deputada democrata da Califórnia Maxine Waters inflamou as tensões no
fim de semana antes de o júri deliberar, exigindo que os manifestantes
nas ruas intensificassem seu confronto militante caso a sentença fosse
favorável ao réu. Em frente a dezenas de câmeras, Waters disse: “Estamos
aguardando um veredicto de culpado. Não foi homicídio culposo. Não, não
e não. Ele é culpado por assassinato. Precisamos nos certificar de que
eles saibam que falamos sério”. A deputada ainda exigiu que os
manifestantes se preparassem para assumir uma postura “mais
confrontadora”. Na tarde da terça-feira, o presidente Joe Biden ignorou o
apelo do juiz para que os políticos se abstivessem de dar opiniões
sobre o caso e avaliou o julgamento antes que o júri tivesse encerrado a
deliberação. Biden chamou as evidências contra o ex-policial de
“esmagadoras”.
Os
jurados sabiam que a mídia que cobria o julgamento exibiu o rosto deles
todos os dias durante três semanas. Todos vimos quem eram eles. O
jornal Minneapolis Star Tribune publicou a descrição dos membros do
júri: idade, raça, bairro, profissão e até mesmo informações sobre
lazer. O propósito foi expor os jurados à pressão das turbas na hipótese
de decisão em favor do réu.
Você
acha que os jurados estariam dispostos a permitir que eles próprios e
sua família fossem para o sistema de proteção de testemunhas para
arriscar “uma dúvida razoável” sobre o papel real de Chauvin na morte de
Floyd? Acha que eles estariam dispostos a trocar a vida e a violência
que tomaria conta do país pela vida de um estranho? A natureza humana é
cheia de armadilhas e imperfeições.
Para
quem não acompanhou o julgamento de perto, foram divulgados documentos
do Poder Judiciário de Minnesota que mostram que George Floyd tinha um
“nível potencialmente fatal” de Fentanil no organismo no momento da
morte. Fentanil é hoje o opioide que se tornou a droga que mais mata por
overdose nos EUA. De acordo com o dr. Andrew Baker, o examinador médico
do Condado de Hennepin que conduziu a autópsia e não assistiu a vídeos
até depois de sua investigação, Floyd tinha um nível tão alto da
substância na corrente sanguínea que, se fosse encontrado morto em casa,
seria “aceitável tipificar a morte como overdose”. Embora o dr. Baker
tenha esclarecido não estar afirmando inquestionavelmente que o Fentanil
matou Floyd, ele reconheceu que o opioide pode ter desempenhado um
papel maior na morte do que inicialmente suspeitado. O legista também
observou que Floyd tinha uma condição cardíaca grave, e que a
hipertensão poderia causar a morte “mais rápida porque ele precisaria de
mais oxigênio”. Disse que “certas drogas poderiam exacerbar” o problema
cardíaco preexistente de Floyd. Outras substâncias tóxicas foram
encontradas em seu organismo.
O
gabinete do procurador do Condado de Hennepin também observou “o nível
fatal de Fentanil” e concluiu que a autópsia feita pelo dr. Baker “não
revelou nenhuma evidência física sugerindo que o sr. Floyd morreu de
asfixia”. O vídeo completo do encontro dos policiais com Floyd no
fatídico dia mostra que ele disse repetidas vezes, dentro e fora do
carro, antes de ser colocado no chão, a frase que marcou os protestos em
2020: “Não consigo respirar”. Em certo momento da filmagem,
visivelmente perturbado, Floyd avisa aos policiais que tinha ingerido
“drogas demais”.
Não
estamos aqui para fazer o papel do júri. Os jurados são, antes de tudo,
humanos. Sempre há espaço para erros de cálculo e medo. Nesse caso,
entretanto, é extremamente claro que essas fraquezas humanas foram
deliberadamente ampliadas a proporções catastróficas com potencial de
corromper um sistema correto de um processo complexo. É difícil não
imaginar que todo o movimento político e violento não tenha afetado a
psique dos jurados e a decisão final. Eles não seriam humanos se isso
não os afetasse. Ainda assim, aqueles que endossam a cultura da turba
violenta e a “justiça” militante para fins políticos têm também como
objetivo tornar impossível a expressão de dúvidas razoáveis, seja em um
artigo, programa de TV ou… num júri.
Um
julgamento justo poderia ter chegado exatamente à mesma conclusão para o
policial. Mas nunca saberemos e nunca seremos capazes de confiar em
resultado impactado pelas ações da turba da esquerda marxista e
violenta.
John
Adams, um dos Pais Fundadores dos EUA, patriota anti-Inglaterra, disse
durante o julgamento dos soldados britânicos envolvidos no chamado
Massacre de Boston: “Fatos são coisas teimosas; e, quaisquer que sejam
nossos desejos, nossas inclinações ou os ditames de nossas paixões, eles
não podem alterar o estado dos fatos e as evidências”. Para surpresa de
muitos, Adams, acreditando numa terra de leis e não de paixões,
defendeu os soldados.
Quando
se trata do caso de George Floyd, os fatos não são tão claros como
alguns partidários gostam de presumir. Todos temos nossas opiniões sobre
casos controversos. Mas o que diz a lei? A lei exige um veredicto
“acima de qualquer dúvida”. A todos é assegurado o devido processo
legal, e o veredicto deve ser orientado exclusivamente pelos “fatos
teimosos”.
Essa
postura devemos não apenas a homens como George Floyd e Derek Chauvin.
Devemos, certamente, a nós mesmos, à nossa sociedade e, especialmente,
às minorias. Estas às quais foi negada justiça por suposições,
narrativas e preconceitos. Convém garantir que a presunção de inocência
permaneça intacta e inviolada. Mesmo se ela for de encontro aos “ditames
de nossas paixões”.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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