MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 13 de abril de 2021

Justiça cega, surda e mentecapta.

 



Os portugueses estão indignados e com razão. Sentem-se enganados e traídos pela Justiça - e com razão. Mas o pior de tudo é que contra a Justiça nem vale a pena manifestarmo-nos. (comentário do blog: lá como cá). Artigo de Raquel Abecasis para o Observador:


Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza, o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.

Pe. António Vieira in “Sermão do Bom Ladrão”

Conclusão: a história que abalou nos últimos dias a nossa democracia não é nova. A roubar não sejas pobre e terás sucesso. Pelo menos em Portugal, é uma receita que há séculos dá bom resultado.

Aqui chegados, que conclusão tirar? O juiz Ivo decidiu, está decidido, a Justiça está acima do escrutínio do povo.

Não sou doutora em Direito, como aliás a maioria do povo português. A nossa relação com a Justiça é mais ou menos como a relação que temos com a Medicina. Estamos doentes, vamos ao médico e esperamos que ele saiba o que está a fazer. Confiamos totalmente e entregamo-nos na mão de médicos e juízes esperando estar em boas mãos.

O que ciclicamente nos acontece é que, ao contrário da Saúde, no que respeita à Justiça, já sabemos os nomes e as manias de cada um. Sabemos que é o Carlos ou é o Ivo e, conforme a sorte, a decisão está tomada. Será que isto é saudável? Será que isto é Justiça?

Outra curiosidade da administração da nossa Justiça é a forma como se aproveitam os acórdãos para ajustar contas com inimigos e dizer piadas sobre os processos em análise. Ignorando que do outro lado estão vítimas e lesados dos atos praticados.

No caso em apreço, falamos de um país em bancarrota, com as suas maiores empresas destruídas, centenas de pessoas desempregadas e arruinadas. Independentemente da valia jurídica dos argumentos do juiz Ivo, foi isto que ele ignorou olimpicamente quando, na sexta-feira, teve a sua tarde de glória em direto para todo o país. Ficará para a história o sorrisinho idiota quando leu aquela passagem em que dizia que Sócrates não cometeu fraude fiscal, porque se declarasse ao fisco as avultadas quantias que recebeu em numerário, estaria a autodenunciar-se. Se o dinheiro não era lícito, naturalmente que não era para declarar ao fisco! Será que é este o conceito que o juiz Ivo tem do que é fazer Justiça?

Entretanto, e como se fosse coisa pouca, o juiz Ivo admite que houve 58 milhões de euros a passear de mão em mão, como “as pombinhas da Catrina”. Neste caso, as pombinhas chamam-se Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, José Sócrates, Carlos Santos Silva. Mas como não havia prova direta ou os casos prescreveram, esqueçam-se os 58 milhões e o Ministério Público é incompetente por tê-lo referido na acusação. Fantasia foi a palavra que o país reteve. E quantas fantasias não podia ter cada um de nós com 58 milhões de euros no bolso?

Os Portugueses estão indignados e com razão. Sentem-se enganados e traídos pela Justiça e com razão. Mas o pior de tudo é que contra a Justiça nem vale a pena manifestarmo-nos. Diz-se que a Justiça é cega e eu acrescentaria que também é surda e muitas vezes, como agora, parece mentecapta.

Não sei se o juiz Ivo está a festejar algures o seu extraordinário acórdão, nem se tem noção das consequências dos seus atos, se não pelo conteúdo, pelo menos pela forma. Perante o que se passou e porque estamos ainda em tempo pascal, recordo uma frase de Jesus a caminho do calvário: “Não chorem por mim, chorem antes por vocês e pelos vossos filhos.”
 
BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

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