MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Etnias indígenas brasileiras se fortalecem com comercialização de artesanato

 

 

Curumim da etnia Krahô, do Tocantins, com pulseira de semente de tiririca. Foto: Júlio Ledo.

O Brasil tem, ao todo, 305 etnias que falam ao menos 274 línguas - sendo um dos países com maior diversidade sociocultural do planeta. Essas etnias sobrevivem protegendo grandes porções de áreas florestais da Amazônia e outros biomas, como o cerrado e a caatinga. Preservam também um patrimônio imaterial inestimável que se traduz em manifestações, rituais, ícones e objetos artesanais.

Para valorizar e estimular o consumo da produção artesanal indígena, a Rede Artesol mapeou 15 organizações de diferentes etnias em todo o país, que atuam na confecção ou comercialização do artesanato indígena, além de 10 lojas especializadas em arte indígena que respeitam os princípios do comércio justo. Os grupos/lojas foram incluídos na plataforma do projeto (artesol.org.br), que funciona como um importante mapa do artesanato brasileiro, onde é possível encontrar informações sobre os artesãos e sua produção e contatá-los diretamente.

Devido ao isolamento das aldeias, um dos fatores mais complexos na comercialização do artesanato indígena é a comunicação dos artesãos com o público e a logística de transporte e distribuição da produção. Por isso, segundo Josiane Masson, diretora executiva da ong Artesol, a inserção de associações indígenas e lojas especializadas nesse tipo de artesanato na Rede Artesol é uma estratégia para facilitar o acesso das aldeias ao mercado e fortalecer uma cadeia de comércio justo com pagamento de valores dignos pelo artesanato. “Dessa forma, é possível estimular a produção de diferentes etnias, para que sua cultura se mantenha viva”, explica.

A diversidade dos artefatos criados nas aldeias brasileiras é resultado da experimentação de formas, elementos naturais e técnicas artesanais de trançado, entalhe, escultura e pintura, que conferem à arte indígena um caráter exclusivo. Entre os principais objetos produzidos pelas etnias estão cestarias, máscaras, artigos têxteis, cerâmicas e móveis os famosos bancos do Xingu (MT). Eles são criados tanto para o uso próprio quanto para a venda como artigos de decoração. Na tribo, os cestos são criados para coleta de frutas ou armazenamento de comida. As panelas Waurás, por exemplo, são moldadas no formato ideal para o preparo do beiju (iguaria feita a partir da tapioca). Já os bancos indígenas são esculpidos em formato de bichos que são sagrados para cada etnia.

Além do valor cultural, um aspecto importante da produção indígena é a questão da sustentabilidade. Uma das grandes contribuições dos povos nativos para nossa sociedade é o seu modelo de inter-relação com a paisagem onde eles vivem. Na compreensão indígena, homens, árvores, serras, rios e mares são um corpo, com ações interdependentes. Por isso, a natureza é sagrada, assim como muitos objetos criados com elementos naturais.

O fator da transmissão de saberes também é muito relevante na dinâmica produção dos artefatos indígenas. Em muitas etnias brasileiras, as técnicas artesanais representam o fio que conecta a ancestralidade e a memória que transcorre gerações e resiste nas aldeias Waurás, Mehinakos, Guaranis, Krahôs, Yanomamis, Kayapos, Huni Kunin e de tantos outros povos. Para Stive Mehinako, que vive no Parque Indígena do Xingu (MT), a produção artística da aldeia é a forma de preservar sua cultura e valorizar sua ancestralidade, além de ter se tornado fonte de renda para a comunidade. “Através da venda da nossa arte, conseguimos comprar o que precisamos para manter vivos nossos costumes e complementar nossa alimentação, comprar materiais de construção, remédios e matérias-primas para continuar fazendo nosso ofício”.

As pinturas aplicadas nos objetos artesanais trazem grafismos próprios de cada povo. Stive explica que existem vários desenhos com significados diferentes. “Há os grafismos para homens e para mulheres, que são feitos com tintas derivadas da natureza. Eles são aplicados com a fibra de buriti para que os riscos fiquem perfeitos nas superfícies em que são utilizados. Na pele, existem grafismos pra lutas, festas e rituais espirituais. O significado também muda para grafismos em cada objeto”.

A professora e antropóloga Jane Beltrão explica que, para os indígenas, pintar-se ritualmente também é uma forma de expressar os mais específicos valores de sua cultura - uma cultura rica que possui múltiplas formas de decorar tanto corpos quanto artefatos. “A arte indígena é um sofisticado meio de comunicação estética, que informa aos demais sobre a diferença que emana força, autenticidade e valores das nações indígenas”.

Saiba mais:

Artesol - www.artesol.org.br

Artiz – Shopping JK Iguatemi, São Paulo/SP

Compra através do WhatsApp: (11) 97555-2827 ou catalogoartiz.com

Para conhecer mais sobre as associações indígenas que integram a Rede Artesol: artesol.org.br/rede?perfil=7

 

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