Yoani diz que se sentiu amordaçada por manifestantes brasileiros
Apesar dos protestos, ela vê com bons olhos a democracia do país.
Dissidente cubana concedeu entrevista exclusiva ao G1 nesta sexta. (22).
Ela não esconde a frustração e assume que teve medo. “Temi agressões físicas, mas não os dos questionamentos. Gostaria de debater com essas pessoas que têm perguntas incômodas, mas elas não querem respostas.”
Para ela, o contato com os manifestantes não borrou a imagem que tinha da democracia brasileira. Embora questione a falta de fôlego do que considera um grupo de pessoas que "nunca esteve em Cuba" tampouco lê seu blog, endossa – e até inveja – o valor dado à liberdade de expressão.
“Foi uma maneira de comprovar como funciona na prática o Estado democrático. Eu ficaria muito feliz se em meu país pudéssemos sair pelas ruas e protestar contra o uma declaração de um funcionário do governo. Impedir que a informação flua é fanatismo. Essas pessoas falam com base em estereótipos e clichês. A elas recomendo que passem um tempo na Cuba real, não destinada aos turistas. Com mercado racionado, falta de liberdades, dualidade monetária, asfixia política, asfixia econômica, expressiva, e vamos ver quantos desses continuaram pensando dessa forma.”
Tumulto e protesto conra a cubana Yoani em livraria na Zona Sul de São Paulo (Foto: Leo Martins/Frame/Estadão Conteúdo)
A cubana defende uma transição política para Cuba, mas não crê que o
país sofrerá alterações após a morte de Fidel Castro. E garante que não
pretende, em nenhum momento, ocupar um cargo político em um sonhado
regime democrático. “Não me vejo no futuro em cargo político, ou
paralmento. Me vejo trabalhando na imprensa. Cuba precisa de um jornal
que narre a vida real, revise o passado e projete o futuro.”Mineira
Nem só de animosidades ficará marcada a visita da dissidente ao Brasil. Ao menos não para ela. A cubana se declarou encantada pelo sabor do pão de queijo. Em visita ao Rio de Janeiro, onde desembarca neste domingo (24), espera provar mais da gastronomia do país. “Não tive muito tempo livre, mas gosto de navegar pela internet, ler os jornais e comer pão de queijo.”
Além do quitute, a Yoani ressaltou o carinho de boa parte dos brasileiros. “É muito gostoso caminhar pelas ruas, conversar com as pessoas, gente de todos os extratos sociais falaram comigo, manifestaram apoio, solidariedade, muito mais do que críticas.”
Pelo mundo
Depois do Brasil, ela passará pela República Tcheca e Alemanha, e EUA. Yoni deve ficar quase 80 dias longe de Cuba. A incursão internacional, segundo ela, foi custeada por amigos, instituições filantrópicas, Anistia Internacional, e parentes – a passagem para Miami ela ganhou de presente da irmã, farmacêutica que mora nos EUA, a quem não vê há um ano e meio.
“Muitas pessoas se disponibilizaram a ajudar, e arrecadaram fundos para viabilizar minhas viagens. Não recebi um centavo de nenhum partido político ou governo.”
Questionada se a popularidade do blog teria alterado sua vida financeira, a blogueira resumiu: “Minha vida mudou para o bem e para o mal. Vivo com mais intensidade, tenho dias muito loucos, mas não me arrependo.”
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