No
Brasil, há mais de 10 milhões de pessoas surdas, segundo o IBGE. Desse
total, 2,7 milhões são surdas ou escutam com dificuldade, e usam
aparelhos auditivos. Muitas enfrentam diariamente o desafio da
comunicação, tanto em ambientes públicos quanto privados, onde raramente
encontram espaços preparados para recebê-las de forma inclusiva. O Dia
Nacional do Surdo, celebrado em 26 de setembro, tem como objetivo
aumentar a conscientização sobre a necessidade de inclusão e
acessibilidade dessa comunidade em todas as esferas da sociedade. A data
também homenageia a fundação da primeira escola para surdos no Brasil, o
Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), em 1857.
Em
várias regiões do país, iniciativas voltadas à inclusão têm surgido
para atender a essa demanda urgente. Entre elas, destacam-se os projetos
da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais
(ADRA), que, por meio de núcleos em Pernambuco, Maranhão e Bahia,
oferecem aulas de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para ouvintes.
Esses cursos ajudam a criar um elo entre a comunidade surda e a
população geral, promovendo inclusão, empatia e respeito.
Transformando barreiras em pontes
Em
Juazeiro, na Bahia, o projeto de curso básico de LIBRAS é coordenado
por Ana Paula Santos Silva Oliveira, assistente social da ADRA. Segundo
ela, a iniciativa nasceu da necessidade urgente de incluir surdos na
sociedade. “Nosso maior objetivo é levar conhecimento e ensinar as
pessoas que os cidadãos surdos precisam se sentir acolhidos e percebidos
em nosso meio diariamente”, explica.
Com
encontros semanais, o curso atende tanto pessoas que nunca tiveram
contato com a língua de sinais quanto aqueles que buscam aprimorar suas
habilidades. "Percebemos que os alunos, ao final do curso, mudam sua
percepção sobre os surdos. Começam a olhar nos olhos deles com mais
segurança e conseguem manter diálogos significativos em sua língua
materna", afirma Ana Paula. Ela ainda destaca que as barreiras no
mercado de trabalho para os surdos são grandes, mas com o conhecimento
da LIBRAS, o preconceito começa a ser superado.
Conquistando novos intérpretes no Maranhão
No
Maranhão, o projeto “Mãos que Falam”, coordenado por Ruan Pires,
professor de LIBRAS, foca em preparar intérpretes e multiplicadores da
língua de sinais. "As aulas são essenciais para conscientizar a
sociedade sobre a existência de uma cultura surda e incentivar a
comunicação entre surdos e ouvintes", destaca Azevedo.
Apesar
dos desafios, como a desistência de alunos devido à falta de tempo, o
impacto positivo é evidente. "Aqueles que concluem o curso já conseguem
aplicar o aprendizado em suas profissões e em suas igrejas, tornando
esses ambientes mais inclusivos", conta o coordenador. Um exemplo de
sucesso é Bruno Mesquita, egresso do curso. “Esse projeto foi
fundamental para mostrar que devemos ser uma igreja inclusiva, não
apenas dentro da comunidade, mas também na sociedade em que estamos
inseridos”, afirma Bruno, que hoje atua como intérprete em sua
congregação.
Lição de acolhimento em Pernambuco
Em
Recife, o Núcleo da ADRA promove aulas de LIBRAS que se destacam pelo
enfoque lúdico e prático, coordenadas pela professora Miraceni Barbosa.
Ela conta que o perfil dos alunos é diverso, mas todos compartilham o
desejo de aprender a se comunicar com surdos. “Alguns alunos passaram
por experiências em que não conseguiram se comunicar com uma pessoa
surda e isso os marcou. Agora, muitos desejam continuar no aprendizado
para se tornarem multiplicadores da LIBRAS e ajudar outros a não
passarem pela mesma situação”, relata Miraceni.
As
aulas abordam desde a origem dos sinal até sua aplicação em diferentes
contextos, com variações linguísticas e exercícios práticos. No entanto,
Miraceni enfatiza que a inclusão plena só será alcançada quando o
ensino de LIBRAS for universalizado. "É fundamental que TODAS as
escolas, públicas e privadas, ensinem LIBRAS desde o fundamental",
afirma. Ela ainda menciona a história de sucesso de Cauê, um adolescente
aluno do curso que agora ensina os sinais aos colegas de escola,
contribuindo para um ambiente escolar mais inclusivo.
Inclusão começa pelo diálogo
A
experiência de Darticléia Cavalcanti, aluna do curso de LIBRAS em
Juazeiro, ilustra o poder transformador dessa iniciativa. Aos 50 anos,
ela decidiu aprender a língua de sinais com o objetivo de levar a
mensagem religiosa à comunidade surda. "Mesmo com desafios, sigo
motivada a aprender para alcançar meu objetivo de levar Jesus para esse
público e, claro, quero conversar com eles e aprender cada vez mais",
relata Darticléia. Ela reforça que, ao fazer parte de uma comunidade
evangélica, percebeu a necessidade de se preparar para servir a todos,
como Cristo ensinou.
O impacto da conscientização
O
Dia Nacional do Surdo é um marco para lembrar a importância da
inclusão, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Projetos como os da
ADRA demonstram como iniciativas educativas podem transformar o cenário
da acessibilidade e fortalecer o convívio social. As aulas de LIBRAS
oferecidas pelos núcleos da organização capacitam ouvintes a interagir
com a comunidade surda, promovendo a inclusão e ampliando as
possibilidades de comunicação.
"Mostrar
que conhecemos a língua de sinais traz um sorriso de aceitação no rosto
do surdo", afirma Ana Paula, coordenadora em Juazeiro. É um sinal de
que o respeito e a inclusão estão avançando, um passo importante rumo a
uma sociedade mais acolhedora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário