Autora
participa da Flip 2024 com "(Im)Permanência - Reminiscências de uma
estrela que brilha mais", uma obra sensível que dialoga com as memórias
de sua avó e o conceito de impermanência.
A escritora pernambucana Vanessa Valentim estará na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2024 com a sua mais recente obra, (Im)Permanência - Reminiscências de uma estrela que brilha mais (Editora Viseu).
No livro, a autora apresenta ao público poemas que mergulham em temas
essenciais como a impermanência, a memória e a dualidade entre ausência e
presença. Os visitantes da Flip poderão adquirir exemplares no estande
da com.tato, localizado na Casa Escreva, Garota (Travessa Gravatá
56c/d).
A
obra, inspirada pela trajetória de vida de sua avó, Dona Astrogilda, é
uma ode àqueles que continuam a viver em nossas memórias, mesmo após sua
partida. Vanessa traça nos versos uma linha tênue entre o que se
desvanece e o que permanece, questionando o leitor sobre o significado
das ausências em nossa vida e como elas, paradoxalmente, ganham
concretude e peso.
"A
centralidade temática da impermanência, conceito tão presente no
budismo Zen, permeia todo o livro", explica a autora. Para ela, a
impermanência não significa a simples perda ou esquecimento, mas sim uma
nova forma de presença, "algo que se modifica, mas que permanece, de
alguma maneira, dentro de nós”. Os poemas nos lembram que a ausência não
é o fim, ela se transforma em uma outra forma de estar, uma permanência
sutil que resiste ao tempo. Quando algo ou alguém nos falta, essa
ausência se manifesta como presença de uma saudade, uma lembrança, uma
sensação que se solidifica dentro de quem fica.
Os
versos traçam uma narrativa delicada e profundamente pessoal,
entrelaçando o luto e as memórias que continuam a reverberar após a
morte. Dona Astrogilda, a avó da autora, é uma figura central nesse
processo poético. Mulher negra, nascida em condições de extrema
vulnerabilidade, ela representa uma geração de mulheres que, mesmo
diante das adversidades sociais e econômicas, cultivavam uma sabedoria
ancestral. Dona Astrogilda engravidou aos 16 anos, solteira, e enfrentou
a vida como empregada doméstica e servente, sem perder sua dignidade ou
sua capacidade de transmitir valores de resistência e força para sua
família. “O livro é um tributo à sua vida e, mais do que isso, um
diálogo com a ancestralidade e com o legado que ela deixou", conta a
autora.
A
forma poética que Vanessa escolhe é acessível, com versos claros e
diretos, que convidam o leitor a sentir, mais do que interpretar. Seu
estilo, marcado por uma simplicidade intencional, aproxima os
sentimentos evocados da experiência cotidiana do público. Os poemas se
destacam pela sua musicalidade e pela fluidez com que as palavras são
dispostas, criando uma experiência de leitura que é, ao mesmo tempo,
emocionalmente intensa e reconfortante. O leitor não é desafiado a
compreender camadas complexas de significados, mas a se deixar envolver
pela profundidade emocional da escrita, que toca em questões universais:
a perda, a memória e o amor que permanece.
Outro
aspecto central é a maneira como ela dialoga com o tempo. Para Vanessa,
a memória é um campo onde o passado se encontra com o presente, onde as
experiências vividas se entrelaçam com as emoções do agora: "O processo
de escrita foi um exercício de escuta interior, um caminho para cavar
memórias que, de alguma forma, continuam a moldar sua existência". Ela
relata que o livro foi escrito ao longo de um ano, em um período marcado
por perdas pessoais, incluindo a morte de seu pai, evento que
intensificou a necessidade de refletir sobre a finitude da vida e a
forma como carregamos os ecos daqueles que nos deixaram.
Além
de ser uma celebração da ancestralidade e das memórias familiares, o
livro também oferece uma crítica à sociedade moderna, que tende a
relegar a memória e o contato com o mundo interior a um segundo plano.
Em uma época em que somos constantemente estimulados a focar no exterior
e no que está por vir, Vanessa propõe uma pausa, uma reflexão sobre o
que se esconde em nossos próprios sentimentos e lembranças. Ao registrar
poeticamente essas memórias, ela oferece ao leitor uma oportunidade de
reconectar-se consigo mesmo, de rever sua própria história à luz das
perdas e das ausências que, por vezes, são esquecidas.
Sobre a autora
Vanessa
Valentim, 39 anos, nasceu em Petrolândia, no interior de Pernambuco,
mas foi em Recife que cresceu e viveu boa parte de sua vida antes de se
mudar para Buenos Aires, na Argentina, onde reside desde 2012. Formada
em Letras pela Universidade Católica de Pernambuco (2010), a autora é
também especialista em Linguística (2024) e atualmente cursa o Mestrado
em Literatura Estrangeira e Literatura Comparada pela Universidad de
Buenos Aires.
Sua
trajetória profissional é marcada pela docência, começando no Brasil,
onde lecionou espanhol em escolas públicas e empresas. Após sua mudança
para a Argentina, Vanessa se especializou no ensino de português como
língua estrangeira e passou a atuar no Centro Cultural Brasil-Argentina,
vinculado à Embaixada do Brasil em Buenos Aires, onde durante dez anos
trabalhou na formação de professores, além de ministrar cursos regulares
e especializados em fonética, fonologia e teatro em língua portuguesa.
Atualmente, leciona na Universidade Pedagógica Nacional, onde é
responsável pelas disciplinas de Português I e II.
Além
de seu trabalho como professora, Vanessa é uma escritora que utiliza a
poesia como forma de autoconhecimento e expressão. Sua primeira obra, Descoberta Nu do Mundo,
já revelava seu estilo poético, marcado por uma escrita simples, mas
profunda, que busca alcançar o leitor de maneira direta e acessível. Com
este novo livro, ela aprofunda ainda mais seu diálogo com o passado e
com os sentimentos que perduram, mesmo em meio às perdas.
A
obra representa uma continuação do exercício poético da autora, que vê
na escrita uma forma de tocar o mundo interior e de valorizar a memória e
o tempo presente. Além disso, Vanessa está em processo de transformar o
livro em uma performance teatral, integrando sua experiência como atriz
à força dos poemas, ampliando assim o impacto de sua obra.
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Confira o poema "Legado pele":
Um mapa do lugar chamado vida.
Marcas irregulares,
traços imprecisos,
manchas.
Linhas retas, curvas, mistas e diagonais
convergem ao tempo,
divergem do tempo
em direção às estrelas.
Aquarela
do teu envelhecer
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