A óbvia “saída” do Centrão para o que mais detesta, a imprevisibilidade, está em encontrar alternativa eleitoral a Bolsonaro. Ou seja, é grande a probabilidade de que a tal terceira via surja por ali, provavelmente numa grande concertação política. William Waack:
O
único golpe bem-sucedido até aqui foi o do Centrão e é quem parece que
sairá vitorioso, não importa a próxima campanha eleitoral. Essa
denominação para forças políticas diversas e sua forma de atuação existe
há mais de 30 anos, mas a República do Centristão tem como fundador Jair Bolsonaro.
Esses
agrupamentos políticos que trabalham em busca de acomodação nos cofres
públicos (ou pedaços da máquina pública, o que vem a dar no mesmo)
conquistaram sob Bolsonaro ferramentas de poder que jamais tiveram.
Capturaram o orçamento – incluindo gorda fatia dos gastos
discricionários – e estão promovendo o retrocesso das regras eleitorais
em benefício próprio. São os donos de fato da agenda política.
Dinheiro
e as regras do jogo garantem a consolidação desses grupos no centro do
poder. A noção de “agenda nacional” por parte desses partidos e seus
caciques se manifesta de forma abrangente somente para cuidar de seus
interesses mais imediatos, e isso se dá tanto no plano de “políticas
públicas” como no plano de plataformas eleitorais.
Caso
emblemático é o show que o presidente da Câmara armou para examinar
política de preços de combustíveis pela Petrobras. Gasolina cara e
inflação alta atrapalham políticos em qualquer lugar e época – dos dois
Poderes. Há relatos conflitantes quanto ao grau de coordenação entre
Legislativo e Executivo nessa tentativa de reedição do que há de pior na
interferência populista na formação de preços básicos, disfarçada de
preocupação social, mas a convergência de interesses é fato objetivo.
Difícil
para os caciques do Centrão continua sendo entender como assim
Bolsonaro não entende um fato tão evidente da política. Seres
perfeitamente racionais (em contraste com o presidente), dominando
instâncias decisivas no próprio Planalto, esses experientes operadores
políticos desistiram da empreitada de decifrar Bolsonaro, que
evidentemente consideram útil no curto prazo – contanto que ele pare de
promover outros “7 de Setembros” (sempre uma dúvida).
A
grande incerteza e imprevisibilidade associadas a Bolsonaro promoveram
no coração do Centristão certa urgência em procurar saídas para os
comportamentos do atual mandatário, sem considerar a eventualidade de um
impeachment em função de algum “freak event”. Nesse sentido, parte
relevante do Centrão e algumas das principais elites dirigentes na
economia e sociedade civil estão em sintonia.
Assim,
a óbvia “saída” do Centrão para o que mais detesta, a
imprevisibilidade, está em encontrar alternativa eleitoral a Bolsonaro.
Ou seja, é grande a probabilidade de que a tal terceira via surja por
ali, provavelmente numa grande concertação política. É o que indicam
movimentações de fusão de partidos (PSL e DEM) e conversas entre
operadores de várias tendências (centro-esquerda e centro-direita). O
pressuposto de todos é o de que há um enorme espaço eleitoral a ser
ocupado por agremiações políticas experientes, e que ainda existe tempo
para isso.
Bolsonaro
deu impulso às forças adversárias ainda difusas e desarticuladas ao se
desmoralizar nos eventos em torno do 7 de Setembro, que demonstraram não
só a incapacidade de operar um golpe, mas, sobretudo, a inexistência de
qualquer plano para o País. Ele jogou definitivamente as elites
dirigentes para uma espécie de “lado de lá” da linha divisória entre o
tolerável e o inaceitável – e transformou-se em intragável.
O
Centristão foi fundado como consequência que não era inevitável da onda
disruptiva de 2018, que não tem condições de ser repetida no ano que
vem. Falta principalmente o “impulso”, o “ímpeto”, que Bolsonaro acabou
representando, e o “anti” se divide entre mais de um alvo. É hora dos
profissionais. O Centristão não depende de Bolsonaro para prosperar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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