Em uma carta publicada nesta sexta-feira na Science, 18 cientistas pedem uma investigação sobre as origens da pandemia que não descarte a possibilidade de um vazamento de laboratório. Jimmy Quinn para a National Review, com tradução para a Gazeta:
Por
mais de um ano, um certo grupo de pesquisadores ridicularizou a ideia
de que a Covid-19 pode ter inicialmente escapado de um laboratório em
Wuhan, na China, tratando-a como uma teoria da conspiração. Agora, o
controle deles sobre essa narrativa dentro da comunidade científica está
diminuindo, à medida que um número cada vez maior de especialistas pede
um olhar mais atento para essa hipótese de vazamento de laboratório.
Em
uma carta publicada nesta sexta-feira na Science, 18 cientistas pedem
uma investigação sobre as origens da pandemia que não descarte a
possibilidade de um vazamento de laboratório. "Tanto a teoria de
liberação acidental de um laboratório quanto a de transbordamento
zoonótico [quando um patógeno é transmitido de animais para humanos]
permanecem viáveis", eles escrevem. "Saber como a Covid-19 surgiu é
fundamental para orientar as estratégias globais de mitigação do risco
de surtos futuros."
Esses
pesquisadores incluem o Dr. Ralph Baric, um importante especialista em
coronavírus que tem pesquisas sobre coronavírus em morcegos com a Dra.
Shi Zhengli, do Instituto de Virologia de Wuhan, e vários outros
virologistas proeminentes. Eles se juntaram ao diretor-geral da OMS,
autoridades de inteligência e outros especialistas do governo dos EUA
para afirmar que tal vazamento continua sendo uma explicação possível,
apesar das conclusões de um estudo conjunto da OMS e da China de que tal
teoria é "extremamente improvável". Assim como o governo do presidente
dos EUA, Joe Biden, e 13 outros países que assinaram uma declaração
liderada pelos EUA após a publicação do relatório, eles levantam
preocupações sobre como o painel chegou às suas conclusões.
A
carta dos pesquisadores é publicada no momento em que membros do
Congresso americano começam a intensificar o escrutínio de um possível
vazamento de laboratório como origem do novo coronavírus. A carta dos
cientistas já chamou a atenção dos legisladores americanos envolvidos
nas ações de investigação da Covid. Os representantes Cathy McMorris
Rodgers, Brett Guthrie e Morgan Griffith disseram em um comunicado:
"Estamos ansiosos para trabalhar com eles e com todos os que seguirão a
ciência para completar esta investigação".
Jamie
Metzl, consultor da OMS e membro sênior do Atlantic Council, grupo de
pesquisas sobre questões internacionais, explicou o significado da carta
no Twitter. "A mordaça sobre a consideração pública de um acidente de
laboratório como uma possível origem da pandemia acaba de ser quebrada.
Após a publicação da carta à Science, será irresponsável para qualquer
periódico científico ou veículo de comunicação não representar
detalhadamente esta hipótese viável".
Os
autores da carta da Science consideram que o relatório conjunto da OMS e
da China é falho e avalia as probabilidades das diferentes teorias
sobre a origem do vírus que o painel avaliou: "Embora não tenha havido
nenhuma descoberta que corrobore claramente com o transbordamento
natural e nem com um acidente de laboratório, a equipe avaliou a
hipótese de transbordamento zoonótico de um hospedeiro intermediário
como 'provável a muito provável, e um incidente de laboratório como
'extremamente improvável'".
Os
autores da carta acrescentam: "Além disso, as duas teorias não foram
consideradas de maneira equilibrada. Apenas 4 das 313 páginas do
relatório e seus anexos abordaram a possibilidade de um acidente de
laboratório".
A
carta não afirma que a hipótese de vazamento de laboratório é mais
viável do que a teoria da origem zoonótica. É significativo, no entanto,
que uma carta em uma importante revista científica está colocando essas
duas teorias em pé de igualdade.
O
Lancet, outro periódico científico, rejeitou uma carta submetida por 14
biólogos e geneticistas em janeiro, que argumentava que "a origem de
laboratório não pode ser descartada formalmente".
Algumas
figuras associadas ao Lancet descreveram o cenário de vazamento de
laboratório como uma teoria da conspiração, incluindo Jeffrey Sachs,
presidente da comissão de Covid da revista médica, e Peter Daszak,
presidente do subcomitê sobre as origens da Covid da comissão. Daszak,
cujo grupo de pesquisa sem fins lucrativos recebeu centenas de milhares
de dólares dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA para estudos sobre
coronavírus de morcegos no Instituto de Virologia de Wuhan, era membro
do painel conjunto da OMS e da China e enfrentou acusações de que não
revelou potenciais conflitos de interesse.
Richard
Ebright, professor de biologia química da Rutgers University, disse ao
National Review no mês passado que as iniciativas deles ajudaram a criar
a falsa impressão de que existe um consenso científico contra a
possibilidade de uma origem por vazamento de laboratório. "Não existia
tal consenso à época. Não existe tal consenso agora", disse ele.
Esta
última participação no debate, nas páginas de um jornal científico
proeminente, mostra que as bases estão se afastando de uma narrativa
vazia que tem sido muito difundida desde o início da pandemia.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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