É bastante provável que Moro nem sequer cogite disputar a eleição presidencial. E tudo está contribuindo para que essa possibilidade se torne cada vez mais distante. Diogo Schelp para a Gazeta do Povo:
Mesmo
quem desconfia de pesquisas de intenção de voto há de concordar que o
relativo sumiço do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro do
debate público não contribui para o seu capital político. Enquanto seu
nome é jogado na lama por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) —
como a da Segunda Turma que o julgou parcial no processo que condenou o
ex-presidente Lula pelo triplex no Guarujá, com aplausos tanto de
petistas quanto de alguns bolsonaristas — e enquanto revelações das
mensagens roubadas de celular continuam sendo repassadas a conta-gotas à
imprensa por advogados lulistas, Moro está submerso em seu novo emprego
na iniciativa privada e tem se esforçado para se manter longe dos
holofotes e de polêmicas. Mas isso significa que ele também não está
defendendo a sua biografia como poderia.
"Tenho
que preservar minha biografia", foi o que disse Moro quando deixou o
cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública do governo de Jair
Bolsonaro, em abril do ano passado. O episódio tornou-o alvo de uma
parcela dos apoiadores do presidente. Da noite para o dia, Moro virou
"comunista" para alguns deles. Para os petistas, que o têm como inimigo
máximo, ele sempre foi a representação do pior da extrema direita.
Qual
foi o nicho político que sobrou, portanto, para Moro? Qual parcela do
público lavajatista ainda o tem como herói? Moro ficou espremido entre
uma parcela do bolsonarismo empedernido, que não aceita dissidências, e
uma esquerda patológica, que tem seus próprios mitos para adorar.
Segundo a última pesquisa DataPoder, divulgada na semana passada, ele é o
possível candidato à presidência com maior rejeição: 60% dos
entrevistados não votariam nele de jeito nenhum, contra 50% em Bolsonaro
e 41% em Lula. Apenas 13% disseram que teriam Moro como única opção de
voto.
Desde
que saiu do governo, Moro, a bem da verdade, teve pouco sucesso em sua
meta de preservar a própria biografia. O vazamento de mensagens e o STF
se encarregaram de manchá-la cada vez mais. E, enquanto espera o
plenário STF reavaliar a decisão da Segunda Turma de considerá-lo
parcial na condenação que deu a Lula, o que deve acontecer esta semana,
Moro está afastado do debate político mais amplo.
Sua
última postagem no Twitter, até o momento da publicação deste texto, é
do início de abril. No dia 24 de março, ele divulgou uma nota lamentando
a decisão da Segunda Turma e afirmando que estava tranquilo em relação
aos "acertos das minhas decisões, todas fundamentadas". Sua última
entrevista foi no final de março. E foi basicamente isso.
Mais
do que tuítes, entrevistas ou declarações públicas que mantenham ativo
no debate público do país, no entanto, o que mais faltou a Moro nos
últimos doze meses, desde que saiu do governo, foi articulação política.
Um experiente observador dos bastidores de Brasília me disse
recentemente: "É incompreensível como alguém que tinha a popularidade e o
capital político de Moro seja capaz de desperdiçar tudo isso pela
simples falta de disposição de manter canais de diálogo aberto com
políticos e gente influente."
A
pesquisa XP/Ipespe divulgada no final de março mostra o impacto do
sumiço de Moro do debate público: em abril do ano passado, em simulações
de segundo turno para a eleição de 2022, o ex-juiz aparecia com 58% das
intenções de voto, muito à frente de Bolsonaro, com 24%. Desde então, o
desempenho de Moro no confronto com o atual presidente despencou. Na
última pesquisa, eles aparecem tecnicamente empatados com cerca de 30%
dos votos em uma eventual disputa de segundo turno.
Isso
se Moro conseguisse chegar ao segundo turno. Tanto a pesquisa do
PoderData quanto a da XP/Ipespe indicam que o mais provável seria um
enfrentamento entre Bolsonaro e Lula. É óbvio que pesquisa não é urna e
que há muito chão pela frente até as eleições de 2022. Mas a diferença
entre o apoio eleitoral a Moro que as pesquisas captavam um ano atrás e
agora é tão grande, que não deixa dúvida quanto à perda de capital
político do ex-juiz.
Em
parte isso se explica que porque desde então Moro virou saco de
pancada, alvo de ganchos de esquerda e de direita. Em parte porque o
noticiário, recheado com mensagens comprometedoras vazadas por advogados
lulistas, não é favorável a ele. Em parte, também, por causa do
contexto jurídico desfavorável no STF.
Mas,
em grande parte, isso se deve à própria atitude adotada por Moro desde
que saiu do governo. Arranjou um emprego em uma consultoria que presta
serviços, ainda que em outra área, à Odebrecht, ficou na maior parte do
tempo à sombra dos grandes debates que vêm atormentado os brasileiros
nessa fase difícil que o país está passando e fez poucos esforços de
articulação política nos bastidores.
É
bastante provável que Moro sequer cogite disputar a eleição
presidencial. E tudo está contribuindo para que essa possibilidade se
torne cada vez mais distante.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário