MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 8 de abril de 2020

No filme Matrix, o enigmático Morpheus anuncia a Neo o deserto do real, a distópica e cruel realidade imposta aos seres humanos.

CASSIO FAEDDO

a China cresceu forte. De 5% do PIB mundial no início dos anos 90 a 20% nos últimos anos. Enquanto isso, países como o Brasil desindustrializavam-se vertiginosamente.
No filme Matrix, o enigmático Morpheus anuncia a Neo o deserto do real, a distópica e cruel realidade imposta aos seres humanos, escravos de um programa denominado Matrix.
Slavoj Zizek utiliza a mesma frase como mote para narrar, a partir dos ataques de 11 de setembro de 2001, a realidade da tragédia que se apresentava aos EUA e ao mundo ocidental; o mesmo horror vivido por tantos outros povos vitimados pela violência, que de tão distante da ilusão ocidental, não era sequer notada como real.
Assim, atentados terroristas não eram mais exclusivos da faixa de Gaza ou outros locais remotos para quem vivia em Nova Iorque. Aliás, Jean Baudrillard, sociólogo e filósofo francês falecido em 2007, apresentou semelhante ilusão de realidade vivenciada em Matrix na obra Simulacro e Simulações de 1981 - a narrativa de vivermos em um espaço psicológico, porém sem deixarmos de reconhecer que as referidas obras citadas são muito mais profundas que mera ficção em espaço irrealista.
Desde o início dos anos 90 do Século XX, até pouco tempo atrás, o capitalismo ocidental viveu a ilusão de que o capital poderia muito bem moldar-se ao capitalismo chinês e ao Partido Comunista de Xi Jinping, com mão de obra barata de 850 milhões de trabalhadores dispostos a ganhar pouco mais de um dólar por hora de trabalho no início dos anos 90. Fator de produção demasiadamente atraente ao capitalismo ocidental.
A única solução para o Partido Comunista chinês, de fato, era conseguir um forte desenvolvimento industrial que pudesse ocupar seus trabalhadores e manter o regime estável.
E a China cresceu forte. De 5% do PIB mundial no início dos anos 90 a 20% nos últimos anos. Enquanto isso, países como o Brasil desindustrializavam-se vertiginosamente.
Mas a China não respeitava marcas, direito de propriedade, patentes; do mítico contrabaixo de Paul McCartney genérico, marcas de eletrônicos, marcas de produtos esportivos, projetos de veículos, enfim, tudo que pudesse ser copiado e comercializado assim seria.
Todavia, principalmente na segunda década do Século XXI, a China passa a legislar sobre direito de propriedade e segurança digital, especialmente porque começava também a inovar tecnologicamente de forma expressiva.
A China é o império do meio com mais de cinco mil anos. Não é simplesmente um povo, mas uma civilização. E no conceito chinês, mesmo com altos e baixos, a China existiu e sempre existirá.
O passo a ser dado pela China agora tem relação com internacionalização de empresas e especialmente o controle da Internet 5G.
Na sua história a China nunca se preocupou em conquistas muito além de sua vizinhança; colonizar ou impor seus valores e estilo de vida ao mundo nunca foi marca chinesa. Por isso, não se sabe ao certo, além do que pensa Xi Jinping, como a China agora implementará sua conquista global, controlando processos, recursos e pessoas. Ou seja, controlando corpo e alma do mundo.
A China tem o comando certeiro de Xi Jinping, isso porque todos os burocratas chineses são preparados e talhados desde o início da carreira para a administração pública nos mais distantes rincões.
Testado e provado na gestão desde o princípio de carreira, o sistema chinês não tem lugar para aventureiros e para os altos e baixos da democracia ocidental e seus governantes populistas e falastrões de plantão.
Segundo o confuncionismo, o sentido de qualquer gestão deve ser encontrado no aprendizado pois, sem ele, qualquer virtude pode ser corrompida. O gestor ou comandante de partido chinês não é um tolo despreparado, mas um monge shaolin da burocracia do partido comunista chinês com ascensão e poder de decisão na sua esfera de trabalho sob o comando unificado.
Logo, Wuhan, a cidade mãe do Covid-19, foi cerrada por decisão e comando de Xi Jinping de forma cinematográfica. E os efeitos da pandemia não se estenderam de forma avassaladora pelo país.
Com a Covid-19 o mundo se quedou de joelhos, e sequer pode denominar o Covid-19 como vírus chinês ou gripe chinesa, apesar de não haver muitos outros nomes para a gripe espanhola. Se assim o fizer, será pária nas relações com a China.
O mundo ocidental está sendo espancado no corner, e como em Titanic, lutamos pelos botes salva-vidas representados pelos respiradores e equipamentos chineses. A China ajuda quem quer e vende para quem quiser.
A democracia liberal ocidental é lenta e repleta de fragmentações de comando que simplesmente inexistem no comando chinês. A China não necessita de muitos órgãos de fiscalização internos como controladores, agências e órgãos de supervisão da administração pública, pois o comando é centralizado e muito mais rápido e concentrado.
A China não segue os mesmos parâmetros de transparência exigidos nos países da democracia liberal.
E esse é o deserto do real apresentado, e não é possível coabitar no mesmo ambiente a economia capitalista e autocracia política, pois o segundo sempre agirá com mecanismos de gestão não aplicados no mundo da democracia liberal.
Foi mera ilusão da acomodação dos bons lucros gerados nos negócios com os chineses, a máxima de que o capital esteve em harmonia com o ambiente chinês a ponto de Bolsonaro afirmar que estava em um país capitalista. Mas nunca esteve. Capitalismo controlado por comando comunista não segue as regras capitalistas liberais, nem transparência. É uma medusa prestes a petrificar os concorrentes.
Por isso a China deve ser analisada sempre de forma pragmática, e não se pode apostar mais todas as fichas no império comunista chinês. Os chineses sempre vão lhe tratar bem, servir-lhe o melhor vinho e sorrir, mas não são tolos.
Desnudou-se o tremendo erro de estratégia ocidental, com efeitos de concentração de renda, gerador de perversa dependência, de desemprego, principalmente nos países emergentes.
Porém, sem sombra de dúvidas, a China é uma grande civilização. Quanto aos demais países, talvez, meros vassalos do império chinês continuando a prestar a reverência do TowKow para Xi Jinping, o filho do céu.
Sobre Cassio Faeddo: Advogado. Mestre em Direitos Fundamentais. MBA em Relações Internacionais - FGV SP


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