Isso não é ciência, nem estatística, nem chute. É vodu. Mas no país do
“Somos Todos Coronavírus” é manchete de jornal, rádio e tevê. J. R.
Guzzo, via Oeste:
Até o dia de hoje, 6 de abril, informações da Agência Brasileira de
Inteligência, dos telejornais do horário “nobre” e até, vejam só, do
site The Intercept – aquele das falecidas “gravações que vão derrubar
Sérgio Moro” – diziam que haveria no Brasil um pouco mais de “5.500
mortos” pelo coronavírus. Número efetivo, contando aqueles cuja causa
mortis foi lançada pelas estatísticas das autoridades como “possíveis”
vítimas da epidemia: 507, até as 14 horas da segunda-feira É uma
diferença de onze vezes – e cometer um erro desse tamanho é algo que
realmente não se consegue todo dia. Já seria um espanto publicar um
número duas vezes errado – dobrar a meta, como diria Dilma Rousseff.
Errar por três, então, já ia virar uma calamidade na ciência do cálculo
de dimensões. E dar um número onze vezes errado, então: seria o que?
Não é preciso perder tempo imaginando o que seria, pois dá para
dizer, perfeitamente, o que é: erros com esse grau de grosseria
comprovam que o maior partido político em ação no Brasil de hoje é o que
milita, nos discursos dos políticos e na mídia, para convencer o
público que a atual epidemia é muito mais horrível do que a imaginação
pode alcançar. Seu lema é: “Somos Todos Coronavírus”. Seus heróis são
João Doria, Rodrigo Maia e o inspetor de quarteirão. Seu demônio, o
homem a abater a qualquer custo, é o governo Bolsonaro, e em especial o
presidente da República – pois, pelas “projeções”, “cenários” e “modelos
computadorizados” do tipo deste que foi citado nas primeiras linhas do
texto, ele planeja o “genocídio” da população brasileira através de um
abrandamento na quarentena radical hoje em vigor.
Já se ouviu dizer, e a mídia reproduzir sem uma única manifestação de
dúvida, ou cobrança de checagem, que o número de mortos pela epidemia
no Brasil pode chegar a 100.000 – embora o Ministério da Saúde espere
que não acabemos alcançando realmente tudo isso. De onde sai esse tipo
de alucinação? Temos 500 mortos até hoje, mas “talvez” cheguemos aos
100.000 porque cerca de 100 milhões de brasileiros (ou metade da
população) “devem contrair” o vírus – e jogando aí o cálculo de que 0,1%
das pessoas que são contagiadas morrem, teremos os tais “100.000” das
notícias. Mas esse número aí seria uma beleza, comparado com um “estudo”
do Imperial College de Londres, que promete mais de “600.000” mortos no
Brasil se forem adotadas “regras menos rígidas de isolamento”. Como
isso vem de um “College”, ainda por cima imperial, e além disso sediado
em Londres, vira coisa séria na hora.
Isso não é ciência, nem estatística, nem chute. É vodu. Mas no país
do “Somos Todos Coronavírus” é manchete de jornal, rádio e tevê.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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