O problema de governar por atrito é que atrito desgasta. Collor caiu e,
não houvesse tantos atritos, teria ficado. Bolsonaro também detesta
negociar e gosta de atritos. Como Collor, tem muitos inimigos. E também
tem parentes. Coluna de Carlos Brickmann, publicada aos domingos:
O Brasil se habituou a demonizar Fernando Collor, mas foi ele que
iniciou a abertura de importações (obrigando a indústria brasileira a se
tornar mais competitiva), criticou as multinacionais automobilísticas
pelas “carroças” que produzia por aqui, acabou com o cheque ao portador,
combatendo a lavagem de dinheiro. Em meio a inúmeras besteiras, a
confrontos (evitáveis) de que parecia gostar e ao desprezo pela
política, fez coisas boas. As besteiras o derrubaram. E Pedro, seu
irmão, o levou de vez ao naufrágio.
Bolsonaro tem muito em comum com Collor: o desprezo pelos partidos
(vai agora para o nono) e pela política, o gosto pelo confronto, a
dificuldade de negociar os melhores caminhos para atingir seus
objetivos. Tem feito boas coisas, também como Collor: os acordos com a
China, na infraestrutura e na agroindústria, têm potencial para dar
impulso à economia e gerar empregos. Boa parte das medidas econômicas
facilitará os negócios, outra boa parte deve tirar das costas do Governo
imensas despesas. A baixa inflação e os juros oficiais no ponto mais
baixo da história são fatores importantes para a retomada do crescimento
– se bem que alguém precisa convencer os bancos privados de que,
ganhando sozinhos, logo não terão mais a quem esfolar.
O problema de governar por atrito é que atrito desgasta. Collor caiu
e, não houvesse tantos atritos, teria ficado. Bolsonaro também detesta
negociar e gosta de atritos. Como Collor, tem muitos inimigos. E também
tem parentes.
Lembrando longe
Jânio Quadros foi um fenômeno político. Em 15 anos, passou de
suplente de vereador em São Paulo a presidente da República. Dizia-se
adversário dos ricos (“o tostão contra o milhão”), exigia a moralização
dos costumes – chegou a se intrometer na moda feminina, condenando
biquínis – atacava a imprensa, proclamava-se um homem do povo, que comia
sanduíches no comício e tirava bananas do bolso por não ter almoçado ou
jantado. Usava roupas surradas, amassadas, sempre com vestígios de
caspa nos ombros, detestava partidos e publicamente renegava
negociações.
Depois de sete meses de Presidência, incapaz de negociar sequer com
seus partidários, como Carlos Lacerda, renunciou esperando voltar nos
braços do povo. Não voltou.
Boa notícia
O Governo está reduzindo a zero as alíquotas de importação de quase
500 bens de capital e 34 bens de informática e telecomunicações. Com
isso, as empresas brasileiras ganham condições de renovar equipamentos e
reduzir custos, tornando-se mais competitivas. Esta política vem sendo
executada discretamente desde o início do Governo Bolsonaro: 2.300
produtos foram liberados de impostos de importação, incluindo remédios
para Aids e câncer, máquinas para produzir medicamentos, equipamentos
médicos para exames e cirurgias, máquinas pesadas para construção e
robôs industriais.
Novo partido...
Bolsonaro anunciou oficialmente sua saída do PSL, pelo qual se
elegeu. Tentará bater um recorde: fundar um novo partido, Aliança para o
Brasil, até março, para que possa apresentar candidatos às eleições
municipais de 2020. É difícil: o PSD, comandado por Gilberto Kassab, que
conhece o mecanismo da política, e com a ajuda de um mestre do assunto,
Guilherme Afif, levou o dobro do tempo. O prazo é o principal problema
da nova legenda. Dinheiro é o problema seguinte: as verbas são
distribuídas segundo a bancada federal, e o novo partido não tem
bancada. Quem sair do PSL fica sem verba para a eleição. Pode perder
também o mandato, pela Lei da Fidelidade Partidária.
Bolsonaro colocou no comando da organização do partido o advogado
Admir Gonzaga, que é do ramo. No comando político, seu filho 03,
Eduardo. Jogada de risco: se, presidente, Bolsonaro não conseguir fundar
um partido viável, terá dado a indicação de que não tem poder político.
Daí a uma tentativa de impeachment a distância é curta. Bolsonaro,
imagina-se, fez todo o cálculo. Collor e Jânio também fizeram o cálculo e
ficaram no caminho.
...e daí?
Para Bolsonaro, não faz sentido partilhar seu prestígio e poder com o
PSL, deixando o partido (e as verbas) sob o comando de Luciano Bivar.
Tem suas razões: o PSL só elegeu tanta gente (e garantiu tanto dinheiro
público para a próxima campanha) graças a Bolsonaro, mas Bivar não
divide as verbas. Para o caro leitor, a questão é outra: que diferença
faz se Bolsonaro for do PSL, da Aliança ou do Partido Rosa-Choque da
Nova Direita Radical Intransigente pela Moral Pública e Privada?
Acertou: nenhuma.
Predador humano
A Polícia mato-grossense localizou a fazenda onde um caçador matou
três onças pintadas para vender a pele, no município de Cocalinho, a 923
km de Cuiabá. O “caçador de onças”, como se intitulava, gravou um vídeo
em que, sorridente, mostrava as onças mortas. Detalhe: a onça é um
predador essencial para manter o equilíbrio ambiental. Sem onças, a
plantação sofre.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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