Do colunista José Casado, no Globo, sobre os acontecimentos que precederam a ascensão de Jair Bolsonaro:
O presidente se perfilou diante do general que respirava por máscara.
Bateu continência, debruçou sobre a cadeira de rodas, e segredou-lhe
algo. Então, encarou a plateia fardada: “Obrigado, comandante Villas
Bôas. O que nós já conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos
responsáveis por (eu) estar aqui.”
Talvez um dia, Jair Bolsonaro e Eduardo Villas Bôas resgatem a
memória de suas conversas nos últimos 34 meses. Seria útil à História o
relato do que ocorreu desde quando o deputado, ex-capitão-paraquedista,
pediu para avisar ao general no Forte Apache — como é conhecido o QG do
Exército em Brasília— que planejava saltar da planície política para o
topo do poder no Planalto.
Encontraram-se, mais tarde, na despedida de Villas Bôas do Comando do
Exército. O general-ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, foi
enfático: “A maior entrega deste comandante é o que ele conseguiu
evitar. Foram tempos que colocaram à prova a postura do Exército como
organismo de Estado, isento da política e obediente ao regramento
democrático.”
Azevedo e Silva, também, tem uma dívida com a História. Pode
resgatá-la contando o que Villas Bôas “conseguiu evitar”, desde 2015 no
Comando do Exército. Azevedo e Silva chefiava o QG do Rio. O hoje
vice-presidente Hamilton Mourão regia a tropa do Sul e incitava “uma
luta patriótica” para derrubar Dilma Rousseff.
Quando Mourão homenageou o coronel Brilhante Ustra, “Doutor Tibiriçá”
para os presos torturados em porões da ditadura, Villas Bôas tomou-lhe a
tropa. Depois, saiu a instigar o “expurgo” de Temer. Villas Bôas
disse-lhe, então, que já não cabia mais na cadeira do Alto Comando.
O general de pijama foi acompanhar o antigo capitão no salto
bem-sucedido para o topo. Não se sabe o que aconteceu entre o presidente
e seu vice, mas é visível que algo mudou. Se mostram distanciados.
Talvez seja útil à curadoria militar do governo Bolsonaro a presença
de Villas Bôas no núcleo de conselheiros presidenciais. Arquiteto dessa
hegemonia verde-oliva, ele continua sendo o líder que “consegue evitar”.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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