As sugestões são do professor João Carlos Espada, em artigo publicado pelo Observador:
Seis sugestões de livros que são também leituras que desafiam os dogmas politicamente correctos hoje dominantes entre nós.
Churchill e Orwell: A Luta pela Liberdade,
de Thomas E. Ricks (Edições 70) é a minha primeira recomendação de
livros para o Natal — mas, gostaria que fosse notado, não para a ‘época
festiva’ ou para as ‘férias da estação’, como mandam as actuais
directivas politicamente correctas.
O livro, de que o Observador fez uma pré-publicação,
tem a grande vantagem politicamente incorrecta de associar dois
parceiros improváveis (segundo os padrões politicamente correctos) na
luta comum pela liberdade: o conservador Winston Churchill e o
progressista George Orwell (Eric Blair, de seu nome de baptismo).
O autor do livro, Thomas E. Ricks, é claramente mais progressista do
que conservador (o que, às vezes, torna a sua prosa desnecessariamente
juvenil). Mas, de certa forma, isso também torna o seu argumento mais
tocante — sobretudo na época actual de tribalização e radicalização
entre patéticos tribalismos rivais.
Para ajudar a superar esses tribalismos e compreender a convergência
liberal entre conservadores e progressistas no Ocidente, dois outros
livros podem também ser úteis.
A Constituição da Liberdade,
de F. A. Hayek, originalmente publicado em 1960, acaba de ser
(finalmente) traduzido entre nós pelas Edições 70. É um clássico da
defesa da liberdade que faz questão de sublinhar as antigas comuns
raízes ocidentais — em Atenas, Roma e Jerusalém — da civilização
ocidental da liberdade sob a lei. Curiosamente, Hayek concluiu a obra
com um Posfácio intitulado “Porque não sou um conservador”.
Uma estimulante e amigável resposta, por assim dizer, pode ser encontrada em Conservatism: An Invitation to the Great Tradition,
de (Sir) Roger Scruton (St. Martin’s Press, 2018). Curiosamente,
Scruton inclui Hayek nesta ‘grande tradição’ conservadora, sobre a qual
ele apresenta uma sábia interpretação ecuménica — fundada na simultânea
recusa do fanatismo revolucionário e do fanatismo reaccionário.
Winston Churchill (1874-1965) — que foi deputado conservador
(1900-1904), depois liberal (1904-1924), e depois de novo conservador
(1924-1964) — terá sido quem melhor exprimiu no século XX esta tensão
criativa entre conservadores e progressistas, na comum defesa da
liberdade ocidental. Disto mesmo dá conta uma nova magistral biografia
de Churchill em um só volume por Andrew Roberts — Churchill: Walking with Destiny (Viking,
2018). O livro será publicado entre nós pela Dom Quixote, em Outubro do
próximo ano. E Andrew Roberts virá a Portugal apresentar a obra na
anual “Palestra-Jantar Winston Churchill” do Instituto de Estudos
Políticos da Universidade Católica, a 17 de Outubro de 2019.
Um excelente complemento à magistral biografia de Roberts pode ser encontrado no livro de Allan Packwood, How Churchill Waged War: The Most Challenging Decisions of the Second World War
(Frontline Books, 2018). O autor dirige há muitos anos o “Churchill
Archive”, no Churchill College de Cambridge, e o livro exprime a
profunda familiaridade com os temas churchillianos que Packwood foi
amadurecendo nessa função.
Finalmente, o inevitável mais recente livro de Francis Fukuyama, Identidades: A exigência de dignidade e a política do ressentimento(Dom Quixote, 2018). Entre muitas ideias interessantes, Fukuyama sublinha a associação entre democracia e estado-nação:
“O funcionamento das instituições democráticas depende de normas e
perspectivas partilhadas e em última análise de uma cultura partilhada —
e tudo isto pode existir ao nível do estado nacional, mas não
internacionalmente. Em contrapartida, a efectiva cooperação
internacional tem sido construída com base na cooperação entre estados
nacionais já existentes.”
Esta centralidade do estado-nação para o funcionamento da democracia
era seguramente conhecida por Churchill e Orwell, parcialmente por
Hayek, e seguramente tem sido enfatizada por Roger Scruton. Não seria
pior recordá-la aos visionários federalistas europeus que enfrentam hoje
revoltas de inúmeros eleitorados nacionais — em grande parte porque os
eleitores não querem abandonar o sentimento nacional e a soberania dos
seus Parlamentos nacionais.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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