domingo, 2 de dezembro de 2018

Propina no Rio de Janeiro teve transição com Cabral e virou política de Estado



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Charge do Kacio (Arquivo Google)
Bruno Boghossian
Folha

Antes de deixar o Palácio Guanabara, Sérgio Cabral cumpriu os rituais de transição com o sucessor Luiz Fernando Pezão. O então governador se reuniu com empreiteiras para pedir que todas mantivessem o sistema de pagamento de propinas que havia abastecido seu bolso nos anos em que comandou o Rio.
O esquema narrado pelo delator Carlos Miranda a procuradores mostra como a corrupção se tornou uma política de Estado na administração fluminense. Segundo investigadores, Pezão recebeu como herança de Cabral a chefia da organização criminosa ao assumir o poder.
OPERAÇÃO – O depoimento de Miranda, dado no ano passado, serviu de base para a operação que prendeu o atual governador nesta quinta-feira (dia 29). Outros três mandatários já haviam sido presos no exercício do cargo. Um deles foi José Roberto Arruda, gravado no escândalo do mensalão do DEM.
O delator era considerado o “gerente” da distribuição de dinheiro do esquema. Ele contou que, em 2014, Cabral pediu uma lista das pessoas que eram beneficiadas pelos pagamentos ilegais. A planilha somava repasses de R$ 1,5 milhão por mês —dos quais R$ 150 mil seriam de Pezão.
Miranda disse que o governador repassou a tabela ao sucessor. “Depois de Cabral sair do governo, os pagamentos se inverteram. Pezão passou a enviar a Cabral R$ 400 mil mensais”, declarou o delator.
FESTIVAL – Nos últimos anos, o Rio viu serem levados para a cadeia um ex-governador, o presidente da Assembleia Legislativa, dez deputados, um procurador-geral e cinco dos seis conselheiros do Tribunal de Contas. Os investigadores afirmam que, mesmo assim, o saque ao estado não parou.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse que Pezão assumiu de vez a liderança do esquema depois da prisão de seu padrinho.
A parceria entre os dois continuou ativa. Quando Cabral foi punido após se desentender com promotores dentro do presídio, Pezão decidiu interceder. Em um telefonema grampeado, prometeu: “Vou entrar no circuito, tá bom?”.

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