Os socialistas do pós-modernismo tem um pensamento ou ideia de que a
riqueza deve ser distribuída igualmente (como se a economia fosse um
jogo de soma zero) entre os supostos grupos em busca de uma igualdade
utópica. Artigo de Vitor Humberto Sampaio Netto, publicado pelo Instituto Liberal:
O pós-modernismo é fruto do marxismo, conforme nos mostra Stephen Hicks em Explicando o pós-modernismo.
É uma metamorfose do marxismo cultural, por isso também chamado de
neo-marxismo. Como o socialismo não deu certo onde foi implementado (e
não tem como dar certo, pela ausência do cálculo econômico*), o
pós-modernismo visa desconstruir e relativizar a razão, a lógica e os
fatos que marcaram o iluminismo, o modernismo, o capitalismo e o livre
mercado e para isso utiliza o politicamente correto, o discurso
compulsório, a restrição à liberdade de expressão, a ideologia de
gênero, a ideia de que todas as culturas são iguais (mesmo algumas sendo
mais injustas e assassinas), as políticas identitárias de grupo, o
niilismo e o aparato e a coerção estatal, tudo em nome da utopia
socialista.
No pós-modernismo, foi-se transpassada a lógica de burguês contra
proletário, para grupo, raça, etnia, sexo (ou qualquer outra
classificação que convenha) oprimida e grupo, raça, etnia, sexo
opressor. Houve uma mudança de paradigma no pós modernismo, tem-se grupo
oprimido contra grupo opressor, porém é o mesmo marxismo e pensamento
coletivo que leva a Estado máximo, guerras e disputas pelo poder.
Busca-se políticas de identidade de grupo, usualmente utilizando o
Estado e a sua coerção.
É basicamente o pensamento coletivo e de identidade de grupo no
sentido de que os diversos grupos têm pensamentos e agem de forma
semelhantes. O que impera não é a lógica e a razão, mas sim que todos do
grupo pensam e agem igualmente. É um absurdo e contra a lógica, um
homem branco (ou qualquer outra classificação grupal) não pensam ou agem
igual a outro homem branco, não são formigas em um formigueiro, são
indivíduos diversos um do outro. A ideia do pós-modernismo é a de que os
grupos disputam uma riqueza limitada em constante luta entre si, a
consequência disso é trágica.
Os socialistas do pós-modernismo tem um pensamento ou ideia de que a
riqueza deve ser distribuída igualmente (como se a economia fosse um
jogo de soma zero) entre os supostos grupos em busca de uma igualdade
utópica.
O fato de que desde o século XIX e com a revolução industrial, que
decorreu do predomínio do pensamento liberal e do poder do indivíduo
perante o Estado, a população mundial crescer de 1 para 7 bilhões, de a
renda per capita mundial mais que decuplicar e de a extrema pobreza cair
de 95% para 10% já deveria sepultar esse pensamento de que a economia é
um jogo de soma zero ou um bolo definido que deve ser repartido. A
extrema pobreza verifica-se ainda maior no continente africano por causa
de Estados socialistas, intervencionistas na economia e o não respeito à
propriedade privada.
O fato de a troca de um bem A por um bem B ocorrer significa que os
proprietários dão valor subjetivo maior a aquele bem que estão recebendo
em troca para os fins que mais apreciam, como bem desenvolvido por Carl
Menger da escola austríaca de economia, que é o que faz toda a economia
girar gerando riqueza. Quanto maior a liberdade na economia, sem
intervenção do Estado, maior a riqueza gerada, ou seja, os fins
almejados pelas partes são alavancados, sendo que o livre mercado
possibilita maior poupança, acúmulo de capital e especialização das
atividades para melhor atender ao consumidor.
As intervenções do Estado como salário mínimo e as diversas
regulações (licenças, restrições, proibições de competição, monopólios e
etc. ao invés de deixar o consumidor se guiar pela certificação
privada) sobre a economia impedem os pobres de saírem da pobreza. Vamos
supor que chegue em São Paulo pessoas com a cor cinza (os
pós-modernistas correriam para classificá-los) sem nenhum bem e sem
estudo formal, o salário mínimo e as regulamentações a impedem de trocar
sua mão de obra por dinheiro, exercer uma profissão ou abrir um
comércio ou mesmo aprender um ofício, só restando a informalidade, a
ilegalidade e a criminalidade, logo o Estado as impede trocar seu
trabalho, de poupar e de ter capital para ter maior qualidade de vida.
Cabe esclarecer, a ausência de regulamentações por parte do Estado não é
uma pandemia, pois a certificação privada para guiar o consumidor e
também quem se sentir prejudicado há a Justiça para dirimir as questões,
sem a necessidade das restrições naturais do Estado com todos os seus
efeitos maléficos decorrentes principalmente por não se guiar pelo
cálculo econômico.
As intervenções do Estado para tentar solucionar esses problemas
criados por ele mesmo e influenciados pelo pós-modernismo, em busca da
igualdade de renda e de oportunidade, que são conceitos contra a
natureza humana e, portanto, impossíveis de serem implementados, somente
eliminará os processos de ajuste da economia, destruirá sua eficiência e
causará o consumo de capital, não resolverá a situação e congelará a
economia em um modelo de castas improdutivo com a queda no padrão de
vida em geral, consoante ensina Murray Rothbard em Power & Market
(traduzido por Governo & Mercado pelo IMB). Somente no livre mercado
não há castas e há efetivamente mobilidade de renda para atender ao
consumidor. Como também preleciona Rothbard em Power & Market, a
igualdade de oportunidade é algo inatingível pelas intervenções do
Estado, pois a vida não é um jogo ou corrida com um ponto de largada
idêntico: o mundo é infinitamente diverso, como as pessoas e seus atos o
são, e não acabou de surgir. A desigualdade é inerente à raça humana,
todo ser humano é diferente um do outro, é impossível querer os mesmos
resultados, mesmo na pobreza e morte socialista há desigualdade, só o
livre mercado possibilitará a poupança e a especialização das atividades
para que todos possam atender ao consumidor da melhor forma. A riqueza
gerada pela maior liberdade econômica beneficia a todos com maior
capital e qualidade de vida, conforme se verifica nos índices de
liberdade econômica.
A política chamada numerus clausus em diversos países, principalmente
na Europa, nas primeiras décadas do século XX foi isso, ao notar que os
judeus eram 1% da população, porém muito mais representados que isso na
universidade e diversos setores e também muito mais ricos, impuseram
cotas para os diversos grupos, com a justificativa de dar direitos e
oportunidades a todos os grupos. Hoje em dia chamariam de ação
afirmativa anti-discriminação alemã, húngara, polonesa, alguns países
que adotaram essa política.
Políticas identitárias de grupo e suas consequências podem ser
notadas na Alemanha, que geraram leis de ações afirmativas, depois de
restrições de direitos e finalmente de extermínio dos judeus. O mesmo se
repara no genocídio de Ruanda, a separação grupal entre os tutsis e os
hutus, com estes sendo maioria dominando o Estado a partir de 1960 e com
ações afirmativas a seu favor. Enfim, o mundo é cheio de catástrofes
com conflitos étnicos e religiosos do pensamento tribal de políticas
identitárias de grupos, decorrentes do nos contra eles. O pós-modernismo
faz acentuar essa separação grupal ou tribal.
Graças ao avanço do pensamento liberal e na ideia da soberania do
indivíduo, como também o fato de o sistema escravagista não conseguir
competir com a mão de obra paga, a escravidão foi tornada ilegal em
grande parte do mundo. A escravidão sempre existiu na história da raça
humana. O predomínio de escravos negros nas Américas decorreu do
comércio lucrativo que existia na África das próprias tribos e impérios
africanos. Quando a escravidão foi tornada ilegal e se ordenou no Brasil
a soltura dos escravos, o correto seria que, quem se apropriou dos
trabalhos dos escravos, indenizá-los. Uma vez passada diversas gerações e
a grande miscigenação que existe no Brasil, bem como não se saber qual
família era proprietária de terras com escravos e nem se saber quais são
esses escravos, fica impossível qualquer prova da materialidade e
previsão de possibilidade de indenização e culpa, devendo-se aplicar
também o princípio da intranscendência ou da pessoalidade da pena. Cabe
ressaltar que o historiador Robert Davis estima que mais de 1 milhão de
europeus, brancos, foram escravizados entre os anos de 1500 e 1800.
Assim, classificar um grupo específico hoje como merecedor de
privilégios e discriminação é cair na guerra tribal e separação da
sociedade em busca do poder.
O pós-modernismo, conforme nos ensina Dr. Jordan Peterson em suas
palestras e no prefácio da nova edição de Arquipélago Gulag de Aleksandr
Solzhenitsyn, coloca a responsabilidade e o julgamento em cima de um
grupo, afastando, assim, a responsabilidade e a culpa individual, sem a
possibilidade de expiação e reparação do erro por parte do indivíduo,
sendo que a única justiça que resta é a punição de todo o grupo. Tudo se
transforma em um ressentimento de um grupo contra outro e ao mesmo
tempo o conforto de estar fazendo algo “certo” ao privilegiar e/ou
discriminar certo grupo. A disputa pelo poder do Estado fica
inevitável entre os grupos.
O Estado se aproveita do pensamento pós-modernista para promulgar
leis que visam conceder privilégios a determinados grupos, que, como nos
mostra Friedrich Hayek em O Caminho da Servidão, as intervenções
acarretam cada vez mais domínio e subjugação da economia e da
sociedade, sendo o pós-modernismo, assim, um caminho totalitário de
intervenção na economia e na vida das pessoas que desemboca na separação
grupal, no socialismo e a sua pobreza e morte como consequência.
* Explicando brevemente a ausência
do cálculo econômico no socialismo previsto por Ludwig von Mises: Sem
propriedade privada não existem mercados e sem estes não existem preços,
os quais tornam possível o cálculo econômico, ou seja, a comparação e
alocação entre os diversos usos possíveis dos recursos. A ausência de
cálculo econômico (propriedade privada, mercado e preços) no socialismo
impossibilita a racional alocação de recursos e provoca a escassez
generalizada.
Sobre o autor: Vitor Humberto Sampaio Netto é Advogado.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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