O ex-chanceler Amorim: participante da farsa. |
The New
York Times, a BBC e a ONU não têm compromisso de lealdade com Estado de
Direito brasileiro, mas o candidato condenado, o PT e o PCdoB deveriam
respeitá-lo. Texto de José Nêumanne, publicado em seu blog no Estadão:
Em
abril, antes de ser preso em São Bernardo do Campo por ordem do Tribunal
Federal Regional da 4.ª Região (TRF-4), de Porto Alegre, Lula lamentou
que, por conta de um importantíssimo “compromisso”, perderia a chance de
discorrer sobre como acabou com a fome no Brasil. Há na lamúria uma
mentira e uma meia-verdade. A mentira foi desmascarada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que flagrou no Brasil
pós-PT e PMDB de Lula, Dilma e Temer a existência de 26 milhões de
patrícios desempregados e desiludidos, que nem procuram mais emprego.
Ele, de
fato, fora convidado a participar não de um evento na programação
oficial do órgão que trata da fome na Organização das Nações Unidas
(ONU), a FAO, como foi divulgado no Brasil. Mas de uma reunião da cúpula
da União Africana, cujos membros lideram regimes que não primam pela
fidelidade aos princípios democráticos. A máquina de marketing político
montada nos desgovernos Lula e Dilma fez um tremendo escarcéu a esse
respeito. Pois a prisão, tratada pela cúpula petista e pela defesa do
condenado em segunda instância como “perseguição para impedir sua
candidatura”, teria impedido que gozasse os louros do reconhecimento
daqueles tiranos da adoção no maior país da América do Sul de programas
como o Bolsa Família.
Mesmo
com seu líder cumprindo pena numa dita sala de “estado-maior”, como
definiu o juiz Sergio Moro, que o encarcerou, a máquina de propaganda
dos tentáculos do petismo espalhados em organizações internacionais não
cessou de funcionar. Em 14 de agosto, o jornal The New York Times (NYT)
publicou um artigo, de suposta lavra da pena (no sentido figurado) do
ex, no qual exaltou programas de seu governo e chamou de “golpe” o
impeachment do poste que elegeu presidente, Dilma Rousseff. Ou seja, o
órgão de imprensa de convicções liberais que trava, ao lado de
concorrentes, uma guerra contra o presidente Donald Trump, que os
considera “inimigos do povo”, reproduziu as diatribes a que recorrem os
advogados do apenado e dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT), por
cuja legenda requereu registro de sua candidatura à Presidência.
A
máquina de propaganda petista, sem contar mais com os colunistas de
aluguel nem com emissoras ditas públicas de rádio e televisão, cabides
de emprego de militantes e simpatizantes, divulgou com estardalhaço o
texto de seu profeta. Como se, por terem sido impressas sob o timbre do
jornalão nova-iorquino, representassem uma adesão deste às teses
absurdas de defesa de um criminoso e acusação contra a Justiça
brasileira. Pois, como escreveu Fernando Gabeira em artigo no Globo
desta segunda-feira 20 de agosto, Meditando com Daciolo, “para salvar
Lula, é necessário condenar a Justiça”. Mas, na verdade por mais que
possa parecer estranho à patota esquerdista, numa democracia os jornais,
especialmente os liberais, como o NYT, publicam rotineiramente opiniões
estranhas e até opostas às deles. Este foi o caso do artigo em questão.
Embora isso não impeça que, do lado de cá, em defesa da democracia que
escolhemos para nos reger, não tenhamos comentários desairosos sobre
esses registros de pulp fiction.
José
Roberto Guzzo lembrou na Veja: “O que a imprensa mundial diz ao público é
que Lula está preso porque lidera ‘todas as pesquisas’; se estivesse
solto, seria candidato a presidente e ganharia a eleição, e ‘não querem’
que isso aconteça, porque ele voltaria a ajudar os pobres. Quem ‘não
querem’? E o que alguém ganharia ficando contra ‘os pobres’? Não há
essas informações. Também não há nenhuma palavra sobre o fato de que a
presidência de Lula foi o período de maior corrupção já registrado na
história mundial — realidade comprovada por delações, confissões e
devolução de bilhões em dinheiro roubado. Mas e daí? Ninguém está
ligando para o Brasil como ele é. O Brasil do Zé Carioca é muito mais
interessante.”
O apoio
que a cambada lulista acha ter encontrado na mídia burguesa, porém, não
basta. Em pleno mês do desgosto, a fábrica de fake news, hoje por conta
de robôs nas redes sociais, encontrou mais um tema para nutrir nos
desinformados a ilusão de que o condenado e, portanto, inelegível pela
Lei da Ficha Limpa conta com adesão internacional para defender sua
candidatura inviável à Presidência da República. Fê-lo com a notícia de
que certo “comitê” de direitos humanos da ONU, sempre a ONU, tinha
intimado o Brasil, ou o governo brasileiro, ou seja lá o que for, a
permitir que o condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro
dispute as eleições, ao arrepio da lei.
O que
houve de verdade? O comunicado a que recorreu a fábrica petista de fake
news em exigência para permitir candidatura do condenado é um documento
emanado de um “comitê” formado por 18 “especialistas” independentes –
acadêmicos em geral – sem nenhum poder decisório ou mandatório. Ou seja,
está sendo repetido o estratagema do convite da FAO, já denunciado por
Carlos Brickman no site Chumbo Gordo: não havia – e não havia mesmo –
nenhum registro no calendário de eventos oficiais daquele órgão da ONU
do tal compromisso oficial. Agora também não há. A notícia foi dada (ou
seja, vazada) pela BBC, não pelas Nações Unidas.
E tanto
nunca foi oficial que a própria ONU divulgou nota na qual informou que a
função do tal “comitê” é “supervisionar e monitorar” o cumprimento dos
acordos internacionais de defesa dos direitos humanos. E fazer
recomendações, sempre em entendimento e consultas com os países
envolvidos. O texto dessa nota de informações não deixa dúvidas quanto
ao uso impróprio da entidade na divulgação: “É importante notar que esta
informação, embora seja emitida pelo Escritório das Nações Unidas para
Direitos Humanos, é uma decisão do Comitê de Direitos Humanos, formado
por especialistas independentes. (Logo) esta informação deve ser
atribuída ao Comitê de Direitos Humanos”.
Ontem o
título da coluna de Jânio de Freitas na Folha de S.Paulo, Brasil ignora
tratados internacionais no caso de Lula, vai na contramão dessas
conclusões falsas e apressadas. Já na quinta-feira 16 de agosto o
comentarista de economia José Roberto Sardenberg registrou em seu artigo
semanal na página de opinião de O Globo, Fake ONU, o seguinte: “Vai daí
que são fake todas as notícias do tipo: ONU manda, determina, exige que
Lula participe da eleição; Conselho da ONU decide a favor de Lula
(forçando uma confusão do Comitê com o Conselho, por ignorância ou
má-fé); decisão do Comitê é obrigatória”.
Aliás,
ainda na semana passada, em pleno espocar dos foguetões dos lulistas
devotos, o colega José Fucs esclareceu no site BR18 do Portal do
Estadão: “O comunicado revela, de qualquer forma, o grau de
interferência política que predomina nas iniciativas do órgão e o seu
aparelhamento pelos PTs do mundo e por países cujos interesses têm pouco
ou nada a ver com a defesa da liberdade e dos direitos humanos. Não por
acaso, em junho deste ano, os Estados Unidos decidiram se retirar da
entidade, que inclui “exemplos” de democracia, como Angola, China, Cuba e
Venezuela, em protesto contra suas críticas frequentes a Israel”. Os
fanáticos do padim Lula poderão argumentar que o presidente
norte-americano, Donald Trump, não é flor que se cheire em matéria de
verdade, além de se declarar publicamente inimigo número um da imprensa
livre de seu país. No entanto, ninguém de boa-fé ou de boa vontade pode
considerar os ditadores comunistas dos países citados por Fucs como
militantes da defesa da liberdade de dissentir de seus dissidentes
internos.
The New
York Times, a BBC, a ONU e os tais militantes, que não são diplomatas
das “nações unidas”, mas “especialistas em direitos humanos”,
normalmente de esquerda e que compõem o tal “comitê”, não assumiram
nenhum compromisso de lealdade com as instituições do Estado de Direito
vigente no Brasil por livre e soberana vontade majoritária do povo
brasileiro. Os robôs a serviço da pregação ideológica da farsa da
“perseguição de Lula para evitar que ele se candidate” não têm vontade
própria nem discernimento. Mas, pelo menos em teoria, o PT e o PCdoB,
que apoiam as pretensões presidenciais de Lula, e principalmente ele
próprio deveriam respeitar e proteger nossas instituições democráticas,
se é que pretendem mesmo disputar o voto do cidadão sob a égide delas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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